CAPÍTULO VINTE E QUATRO

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Embora tenha meus olhos fechados, não conseguia me desligar completamente do ambiente. No berço ao lado de Diego, uma garotinha aparentemente da mesma idade chorava enquanto uma enfermeira trocava seu soro. Sua mãe tentava acalmá-la, mas sem êxito e embora não pudesse julgá-la por isso, eu temia que o choro da menina despertasse Diego que finalmente tinha dormido, tendo uma pausa da dor que sentia.

— Senhorita Espinosa? — Abro meus olhos repentinamente, à minha frente está o médico responsável por Diego e Christopher, ambos com as mãos ocupadas. Christopher segurava dois copos enormes de café e o médico alguns papéis.

— E aí, o que os exames acusavam?

— Vamos fazer um raio X para ver como estão os dentes dele.

— E a dor, vai passar?

— Vai sim. O inchaço é devido à infecção, mas vamos tratá-los com os antibióticos correto.

Ele continuou a explicar a situação e eu ouvi atentamente. Desejava que aquilo passasse logo e que pudéssemos ir para a casa, mas ele disse que precisaríamos ficar ali pelas horas seguintes para mantê-lo em observação.

Eu não tinha notado que o sol estava nascendo, talvez minha mente estivesse ocupada demais para perceber qualquer coisa que acontecesse fora do quarto. No instante que o médico se retirou, Christopher se aproximou e colocou um dos copos de café na minha mão.

— Toma, vai ajudar com o cansaço.

— Eu não estou com sono. — Disse sem conseguir encará-lo.

— Você quem sabe então.

— Pensei que tivesse ido embora.

— Vou em casa quando amanhecer de verdade, preciso dar comida pra Luna e deixá-la sair para fazer xixi, mas eu volto assim que possível.

— Não tem que se incomodar, Christopher, já fez muito por mim trazendo a gente até aqui.

— Eu fiz pelo Diego. — Ele se afastou.

Embora aquilo fosse algo óbvio, doeu. Talvez ele tivesse me esquecido no tempo que ficamos afastados e agora ele tinha outra pessoa, então não fazia sentido ele tentar pegar leve comigo. Mantive minha cabeça baixa pelos minutos que se seguiram, um silêncio constrangedor estava entre nós dois e eu podia vê-lo, de relance, mexer no celular. Encostei minha cabeça na parede dura atrás de mim e voltei a fechar meus olhos, tentando a todo custo conter a vontade de chorar. Preferi não tentar conversar mais com ele, porque o tom frio de suas palavras entregou como ele estava chateado comigo e embora eu estivesse sentindo a frieza dele, sabia que ele tinha motivos para isso. Eu o fiz ir embora quando ele não queria e pior que afastá-lo de mim, foi ter feito o mesmo com Diego.

Como Diego não acordou, Christopher avisou que iria em casa e saiu, deixando-me ali sozinha. Fiquei quieta, observando as outras crianças acordarem e começarem a conversar com seus pais. Talvez elas não estivessem tão doentes como Diego estava e não tinham precisado de nenhum remédio para fazê-las dormir como fizeram com meu filho. Ele estava num sono tão profundo que parecia estar tirando o atraso de muitos dias e nem mesmo quando uma das outras crianças deu um grito seguido de um choro estrondoso, ele acordou.

As horas foram passando, o sol lá fora clareava demais o dia e isso fazia minhas vistas doerem. Eu estava cansada, tudo em mim doía e por mais que eu desejasse uma cama, não fui capaz de dormir naquela posição. O silêncio na minha órbita fazia minha mente pipocar, conseguia ver grande parte da minha vida passar como um filme e por um momento voltei no tempo, exatamente no dia em que eu trouxe Diego ao mundo. Me peguei sorrindo sorrateiramente lembrando de quando o peguei nos braços e vi seu rostinho pela primeira vez e então me lembrei que por muito pouco eu sequer o teria visto e não faria ideia de como ele seria atualmente. Será que ele seria uma criança feliz se tivesse sido adotado? Será que ele teria pais que não tivessem destruídos psicologicamente e não estivessem fazendo da vida dele um inferno na terra? Será que ele teria irmãos com quem brincar? Eu não sei se algum dia seria capaz de ter outro filho, de dar alguém com quem ele pudesse compartilhar momentos que nenhum pai ou amigo seria capaz.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora