CAPÍTULO VINTE E DOIS

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Arrumei-me na cadeira tentando posicionar minha coluna um pouco melhor, enquanto isso Diego mastigava seu dedo, deixando que a saliva escorresse por seu rosto e respingasse no babador que me vi obrigada a colocar para ele não sujar a roupa de ir para a creche.

— Filho, por favor, você precisa comer. — Pedi pela milionésima vez, sendo completamente ignorada.

Embora eu não quisesse alimentá-lo porque queria que ele tivesse total independência ao se alimentar, eu tentei levar a colher com mingau de aveia até sua boca, mas ele se recusou, virando o rosto para o outro lado e resmungando como quem não estava disposto a comer aquilo. Olhei para sua vasilha, não era um alimento que eu comeria, mas ele já tinha comido muitas vezes antes e essa era a primeira vez que ele se recusava a comer, além do mais, não tinha sido minha primeira tentativa do dia.

— Você quer comer o quê? A gente vai chegar atrasado na creche. — Ele negou, olhando na direção da janela. — Eu não posso deixar você sem comer, me diz qualquer coisa que se tiver aqui eu te dou.

Mas não adiantou e nada do que eu oferecia a Diego era aceito por ele, nem mesmo o leite que sempre salvava em suas crises de não comer, ele quis tomar. Cheguei a medir a temperatura dele, mas não estava nem perto de ter febre e fora o fato de não comer, ele estava agindo normal. Isso começou a se prolongar pelos dias que se seguiram, tinha dias que ele comia pouco e dias que ele simplesmente se recusava a comer.

Eu podia ver a aparência de quem estava perdendo peso rapidamente pela falta de nutrientes e isso me obrigou a levá-lo no médico que não bastasse ter me saído uma fortuna, ainda me receitou um monte de vitaminas para que eu deveria dar a ele, vitaminas essas que eu não sabia se conseguiria pagar. Pelo que o médico disse, a idade dele era a que algumas crianças passavam por dores com o crescimento dos dentes de trás e por isso ele estava se recusando a comer, mas que eu precisava insistir.

Nos dias que se seguiram, meus dias foram completamente exaustivos, porque mesmo com um certo medo de andar sozinha na rua, tinha a obrigação de encontrar um emprego e manter Diego alimentado e com um lugar confortável para morar, e o bem-estar dele vinha acima de qualquer trauma que eu pudesse ter. Com o estresse a mil quilômetros por horam, não era novidade que eu teria noites com curtas horas de sono, passando horas e horas rolando no colchão, com medo do que poderia vir pela frente e medo de não ter forças o suficiente para conseguir seguir.

Era madrugada, já estava bem mais frio porque o inverno se aproximava. Eu estava encolhida embaixo do meu edredom, esperando que meus pensamentos desacelerassem e que eu finalmente pudesse adormecer, mas então ouvi um baque que fez meu coração se acelerar, por um breve instante eu imaginei alguém invadindo o apartamento, mas em questão de poucos segundos o choro de Diego surgiu, fazendo-me saltar para fora da cama e ir diretamente para seu quarto. Ele estava no chão, caído de uma maneira que eu não sabia explicar, mas tinha certeza de que havia caído de cara no chão.

— Diego! — Exclamei, indo pegá-lo no chão.

Seu choro era tão alto que eu não soube decifrar se ele realmente tinha se machucado ou se foi apenas o susto, afinal, não tinha sido a primeira vez que ele tentara sair de seu berço e a não tinha a menor dúvida de que não seria a última também. Tive certeza de que ele havia chorado seu rosto no chão quando vi um pouco de sangue escorrendo de sua boca, então o levei até o banheiro e comecei a lavar seu rosto, para tentar localizar o tamanho do estranho e tive certa dificuldade para lavar, porque ele não queria que eu encostasse em seu rosto, mas depois de muita luta eu consegui.

Um corte na boca e o nariz um pouco inchado foram o resultado de sua queda e como esperado, ele não quis se soltar de mim o resto da noite. Dei um pouco de leite gelado para ele, sabendo que o líquido frio no bico da mamadeira ajudaria a aliviar a dor em seus lábios e então fui me deitar. Passei mais um tempão acordada, com Diego deitado parcialmente sobre minha barriga e resmungando da dor, até que ele mesmo pegou no sono. Não ousei tirá-lo dali e fiz questão de continuar acariciando seus cabelos e costas até que eu mesma dormisse.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora