CAPÍTULO VINTE E TRÊS

958 104 156
                                    

Pressionei minhas unhas contra minhas mãos enquanto unia todo ar que podia em meus pulmões. Diego tinha acordado bem aquele dia, mas ver Christopher quando abri a porta não o deixou no seu melhor humor e para piorar a situação, a presença daquela mulher ali estava me irritando. A primeira coisa que a senhora Vasquez fez foi tentar, com pouco êxito, ter uma conversa com Diego que passou o tempo todo calado, mastigando seu dedo e babando toda a saliva que ele produzia. Ele não era a criança mais sociável do mundo com estranhos e ela, apesar de se esforçar, apesar do trabalho que tinha, não tinha lá o melhor jeito com crianças.

Os minutos se prolongaram com a presença dela ali, e apesar de eu não ter nada a esconder, eu sentia que qualquer movimento meu deveria ser cauteloso. Se eu já estava com queimação no estômago na noite anterior, a minha ansiedade estava piorando cada vez mais. Tamanho o meu alívio quando ela foi embora, mais de uma hora depois. Pude sentir um certo peso saindo dos meus ombros embora não pudesse afastar o medo de que ela pudesse ter visto tudo que eu havia feito naquela manhã com maus olhos e que por decisão jurídica Diego pudesse ser tirado dos meus cuidados. Eu não era a mãe perfeita, mas ele era meu filho e eu daria a minha vida por ele se fosse necessário.

Depois que ela foi embora, para distrair Diego eu saí de casa e enquanto fechava a porta do apartamento, ele se dirigiu até a porta da frente e começou a bater suas mãozinhas lá.

— Papai? Abe, é o Di.

— Amor, vamos? — Perguntei, estendendo minha mão em sua direção.

— Chama o papai, mamãe. E a Luna.

— Eles não estavam em casa. — Disse sem a menor certeza disso. — O tio Chris está trabalhando, tá?

Não que ele trabalhasse aos sábados, mas eu não queria que ele abrisse a porta naquele momento, afinal, apesar de ter visto a mulher indo embora pela manhã, quem me garantia que ele estava sozinho àquela hora? Não ia pegar nada bem Christopher abrir a porta e estar acompanhado. Consegui convencê-lo de ir comigo com a promessa que poderíamos tomar um sorvete no parque, e então seguimos nosso caminho.

Passei os dias seguintes tentando manter a rotina de sempre com ele e por alguns dias ele se manteve calmo. Uma pitada de esperança de que as coisas iam finalmente voltar ao que era antes brotou em mim e eu não pude me conter de felicidade quando meu telefone tocou, do outro lado da linha uma voz feminina.

— Por gentileza, a senhorita Espinosa? — Fiz uma careta ouvindo-a pronunciar meu sobrenome, um dos meus desejos era que algum dia pudesse retirá-lo para todo o sempre.

— É ela, quem gostaria?

— Aqui quem fala é Isabel, falo da empresa Puro Negócio. Estou ligando referente ao currículo que você enviou por e-mail, você ainda estaria interessada na vaga?

— Claro. — Meu coração quase saltou para fora, eu queria gritar, mas me contive.

— Estaria disponível para uma entrevista amanhã pela manhã? Por volta das nove da manhã.

— Sim, sim. Nossa! — Falei com a voz fraca. Era só uma entrevista, mas eu tinha entregado tantos currículos sem nenhum retorno, que receber uma ligação para confirmar uma entrevista era um grande avanço.

— Excelente, preciso apenas confirmar alguns dados com você, pode ser?

— Como desejar.

Corri em busca da minha bolsa para poder confirmar alguns dados pessoais com ela e enquanto passava os detalhes eu sentia minhas mãos tremerem. Naquele dia eu fui saltitante buscar Diego na creche e apesar de eu estar feliz, notei que ele estava estranho. Ele não veio animado me contar sobre seu dia como tinha feito nos últimos dias, pelo contrário, veio fazendo um biquinho de choro e estendendo seus braços na minha direção.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora