CAPÍTULO TRINTA E DOIS

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POV CHRISTOPHER

À minha frente a fumaça denunciava a temperatura elevada do líquido na caneca. Do outro lado da mesa o advogado revisava, pela milionésima vez as cláusulas nos documentos para que eu pudesse finalmente assiná-los. Observei-o fazer uma afeição esquisita deixando-me um tanto preocupado.

— Algum problema?  — Perguntei, antes de levar a caneca com o café à boca e queimar a ponta da minha língua.

— Não. Parece estar tudo correto mesmo, quer dar mais uma lida?

— Se eu tentar ler isso mais uma vez, eu vou ter um ataque de nervos.

Eu estava feliz com isso e queria muito, mas a ansiedade não me permitia aproveitar o momento como deveria. Além do mais, Dulce deveria estar ao meu lado naquele instante, mas as nossas assinaturas seriam pegas separadamente, principalmente porque eu dependia completamente da assinatura em um dos papeis para conseguir finalmente voltar a visitá-la na UTI.

— Posso assinar?

— Claro.

Estendendo a pilha de papéis na minha direção, ele alinhou-o no meu sentido e me passou uma caneta. Pacientemente ele foi me indicando folha por folha que eu deveria preencher e deixar a minha rubrica, e no final eu tinha deixado meu nome em tantas folhas que pensava que a caneta iria começar a escrevê-lo no modo automático.

Não podia deixar se sentir borboletas no meu estômago nem mesmo depois que terminei todas as assinaturas e aguardava ele conferir se havia faltado alguma. Em algumas horas eu seria oficialmente pai de Diego e isso me trazia uma responsabilidade que poucos meses antes eu nem mesmo sonhava em ter. Não que eu não quisesse algum dia me aquietar e formar a minha própria família, mas eu me conhecia, sabia exatamente quem era o Christopher do passado e embora estivesse agindo por instinto, tinha medo de falhar quando Diego e Dulce mais precisassem de mim.

Apesar dos meus medos, não tinha muito tempo para tomar decisões de forma lenta, porque, embora o médico já soubesse que a perda de memória de Dulce fora inventada, temíamos que o sigilo médico fosse quebrado e os pais dela, que ela tanto estava evitando receber em seu quarto descobrissem. Eu queria poder ficar com ela, mas as normas hospitalares que só permitiam que parentes próximos ou pessoas na lista de contato de emergência a visitassem na UTI — salvo por visitas permitidas pelo juiz, como o advogado, — não podia ser quebrada novamente e porque eu precisava ficar com Diego, que por sua idade, não podia ficar desacompanhado.

Quando terminamos ali eu voltei para o quarto enquanto o advogado foi pegar a assinatura de Dulce em seu quarto. Atravessei o hospital inteiro e com certeza precisei passar pela recepção, onde os pais dela sempre estavam. A mãe, pelo que pude notar de longe, não estava contente com o fato de não conseguir ver a filha, o pai, por outro lado, parecia inquieto, mas não se atrevia a ir à recepção discutir com a recepcionista que apenas fazia seu trabalho. E a irmã... onde ela estava mesmo? Talvez tivesse ido para a casa, pelo que Dulce contou, ela não me parecia o tipo de irmã que perderia horas no hospital esperando para ver a pessoa acidentada.

Segui meu caminho até o quarto de Diego e quando cheguei lá, Annie estava literalmente debruçada sobre a maca, enquanto ela e Diego desenhava com canetas coloridas no gesso no braço quebrado dele.

— Não sei se o médico vai ficar feliz com isso.  — Comentei, aproximando-me dos dois. Nenhum dos dois sequer se atreveu a parar, pareciam concentrados demais no trabalho.

— Ele tem que admitir que com essas estrelinhas fica muito mais bonito, né, Di?  — Annie falou, então levantou seu olhar para mim.  — Que cara é essa?

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora