CAPÍTULO VINTE

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Pelo menos pelas três horas seguintes eu fiquei ali no sofá, sem conseguir pregar meus olhos, tendo crises de choro que iam e voltavam enquanto eu me execrava com pensamentos pessimistas. Eu odiava o fato de eu ser tão fraca e de não conseguir confiar em ninguém o suficiente para que eu pudesse me ajudar.

Com a partida do inverno e a chegada do outono, as primeiras horas do dia não apresentavam sinais de que de que o sol estava chegando, mesmo assim, eu soube pelo barulho cada vez mais frequentes de carros se movimentando na rua há alguns metros abaixo de mim e pela risada de Diego ainda em seu berço que a manhã estava começando. Fiquei um tempinho ali, ouvindo-o ter uma longa conversa com seu urso de pelúcia, como quem tinha acordado animado demais para me tirar da cama tão cedo com seus gritos ou seu choro dramático.

Esperei mais um tempo e então me dirigi até a cozinha, peguei seu leite e fui para o seu quarto.  — Bom dia meu raio de sol.

— Bom dia mamãe!

— Como você dormiu?  — Parei na porta e fiquei olhando seu rostinho amassado e sua cara fechada pela claridade que começava a invadir seu quarto.  — Está com fome? A mamãe trouxe seu leite.

Fui até ele, entregando-lhe sua mamadeira, depois o tirei de dentro do berço enquanto ele já começava a beber seu leite, logo em seguida eu o troquei e o deixei no chão, fechei a porta do quarto e fiquei sentada na poltrona, observando-o bagunçar todos os brinquedos e livros que lhe era possível e que Christopher tinha arrumado na noite anterior.

— Cadê tio Chris?

— Ele tá dormindo, amor. Por quê?

— Tio Chris lê pu Di, mamãe.

— Oh amor, ele tá dormindo agora, mas quando ele acordar você pede pra ele, pode ser?

— Tá bom.

— Mas se você quiser, a mamãe pode ler para você.

Aquela miniatura minha começou a pegar alguns livros, segurando-os com dificuldade na sua única mão livre prendendo-os contra seu corpo e veio na minha direção, todo contente, esperando que eu pudesse ler todas aquelas histórias que ele praticamente já havia memorizado de trás para frente. Acomodando-se em meu colo, ele voltou a atenção ao seu leite e eu comecei a ler o primeiro livro que minha mão alcançou. Eu gostava daquele livro, era o primeiro livro que ele havia ganhado ainda na maternidade, que veio junto com outras doações e ele sempre ouvia atentamente cada palavra, ainda bebezinho, como se realmente entendesse o que estava dizendo ali.

"Na noite em que você nasceu, a lua sorriu com tamanha admiração e as estrelas vieram espiar você. E o vento da noite sussurrou, a vida nunca mais será a mesma..."

  Livro No dia em que você nasceu, de Nancy Tillman.

Diego deitou sua cabeça em meu peito e ficou olhando as páginas enquanto eu continuava a ler, vez ou outra dando uma pausa para engolir o nó que estava preso em minha garganta. Eu já tinha passado por altos e baixos com Diego, sempre estive sozinha com ele e lutei bravamente com unhas e dentes para chegar aonde tinha chegado, mas naquele momento eu estava sem forças para continuar lutando, eu estava fraca mentalmente e não sabia se iria conseguir por muito mais tempo.

Consegui terminar o livro, mas não sem derramar algumas lágrimas que fiz questão de secar o mais rápido possível para que meu filho não me visse naquela situação e quando comecei o segundo livro, Christopher bateu levemente na porta, abrindo-a em seguida sorrateiramente.

— Posso entrar?  — Eu assenti, sem consegui manter o contato visual.

Eu sabia que passar metade da noite acordada e chorando feito uma criança amedrontada não tinha me deixado com a melhor aparência do mundo e até podia sentir que em volta dos meus olhos estavam inchados e eu sabia que na primeira oportunidade ele iria me perguntar o que houve, principalmente porque eu tinha certeza que Anahí, por ser a melhor amiga dele, já teria enviado pelo menos uma mensagem de texto dizendo o que houve no meio da madrugada.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora