CAPÍTULO DEZESSETE

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Peguei o celular mais uma vez enquanto Anahí caminhava pouco à frente, falando pelos cotovelos sobre cada roupa ou sapato que ela via na vitrine. Eu não sei onde estava com a cabeça quando aceitei sair com ela para dar uma volta no shopping e o pior, ser convencida de deixar Diego com Christopher.

Eu não tinha a menor dúvida de que Christopher daria o melhor dele para Diego, mas meu coração de mãe estava apertado, ou talvez fosse a minha consciência de quem, pela primeira vez, resolveu sair a passeio e abandonou o filho em casa. Eu entendia que ele não estava sozinho e sim com alguém que ele gostava muito e que também teria, naquela tarde, a companhia de Luna, mesmo assim, eu não conseguia deixar de pensar que ele pudesse precisar de mim e eu não estaria por perto. E se alguma coisa acontecesse? E se ele se machucasse? E se ele começasse a passar mal? Eu estava do outro lado da cidade, em um shopping que eu costumava frequentar alguns anos antes com os amigos que eu tinha na época e se algo acontecesse e eu não estivesse por perto, me sentiria a pior mãe da face da Terra.

— Dulce, para de ficar olhando para o celular. Vem, vamos entrar aqui nessa loja.

Anahí praticamente me puxou para dentro da loja de sapatos. Eu já tinha estado ali antes e até mesmo tinha comprado sapatos que eles vendiam, costumava ser minha loja favorita para isso e cheguei a ter um certo receio de que os funcionários dali pudessem me reconhecer. A Dulce de três anos antes estaria feliz de passar horas ali dentro provando sapatos e mais sapatos, mas a atual mal conseguia sustentar as pernas em um salto alto durante o trabalho, quem diria em dias normais? Além do mais, as roupas que eu costumava usar no dia a dia, não combinavam nenhum pouco com aqueles sapatos caros.

— Essa é a minha loja favorita e eu estou doida com um que eu vi no site da loja, preciso muito experimentar. — Havia um certo tom de empolgação na mulher que eu estava acompanhando.

Anahí era tão bonita e tão delicada, chamava atenção por onde passava, sempre tão bem arrumada com aquelas roupas que pareciam ter sido desenhadas especialmente para ela, talvez isso fosse resultado da academia que ela frequentava diariamente e com certeza porque a natureza quis favorecê-la, e com estilo.

— Nunca te vi usar salto, você gosta?

— Já usei muito antes, agora prefiro um tênis e algo mais confortável.

— Sério? Você não tem cara de ser muito festeira.

— Como que frequenta festa com uma criança de dois anos em casa? — Perguntei olhando a vitrine de dentro da loja. Até que tinham uns modelos bem bonitos, mas meu tornozelo doía só de imaginar usando um deles novamente, além do mais, os valores deles não cabiam em meu bolso. Não mais.

— É, imagino que seja complicado. Esse é um dos motivos que não quero ser mãe, pelo menos não tão cedo.

— Sério? Você parece amar crianças pelo que vi aquele dia na sua casa.

— E amo, só que é mais fácil entregar para os pais quando choram né? Quando o filho é nosso não tem pra quem a gente devolver.

— É, faz sentido.

— O Di foi planejado? Quer dizer, eu vejo como você o ama, você esperava que podia trazê-lo ao mundo?

Senti uma certa pontada no estômago ao ouvir aquela pergunta e não estive minimamente disposta a respondê-la. Anahí ficou em silêncio, esperando ouvir algo de minha boca, mas eu travei por completo. Diego não tinha sido planejado e ainda que eu tivesse cogitado a possibilidade de ter filhos na época, com certeza não seria com o progenitor dele.

— Eu vou ver aquelas rasteirinhas ali do outro lado. — Desconversei. Eu temia que algum dia precisasse contar o que houve a alguém, porque era uma verdade que doía e porque eu não queria que ninguém olhasse para o meu filho com olhares duvidosos. Ele não tinha culpa de nada e enquanto eu pudesse, o protegeria disso.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora