CAPÍTULO TREZE

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O tremor nas mãos, o suor que brotava na minha testa, uma onda de calor, a boca seca e a sensação de que eu iria vomitar a qualquer instante me trouxeram horas e horas de uma ansiedade que eu pensei que não iria mais passar. Tentei relaxar tomando outro banho ou mesmo com um chá, mas nada me fazia tranquilizar. Christopher não era o problema em si, senão não era o problema em si, senão, que a cada momento que eu fechava meus olhos eu revivia as cenas que assombravam meu passado e este fato não me permitia de maneira alguma conseguir dormir.

Fiquei perambulando pelo apartamento, procurando qualquer coisa que pudesse me distrair. Um filme, um livro ou mesmo vídeos no Instagram, mas nada fora suficiente para trazer qualquer mínima coisa que prendesse a minha atenção.

Por um momento fui até a sacada do apartamento e deixei que a brisa fresca tocasse meu rosto e então eu me deixei chorar. Um pranto desesperador, que parecia estar preso dentro de mim a tempo demais, soluços que faziam meu corpo sacudir. Confesso ter olhado para baixo por um instante e por um lapso ter imaginado como seria a sensação do meu corpo caindo pelos sete andares abaixo, talvez no final eu sentisse um pouco do alívio que eu não sentia a tanto tempo que já não me lembrava mais como era, mas então me lembrei que eu não estava sozinha. Tinha um ser humano, pequeno e indefeso que dependia completamente de mim e eu prometi, no dia que o recebi em meus braços que daria a minha vida para fazê-lo feliz. Eu não podia falhar com ele, eu precisava me manter firme.

Apoiei-me no batente e então deixei minha cabeça descansar sobre meus braços, permitindo-me ouvir entre meu choro, o barulho da cidade que àquela hora não era tão ruidosa como costumava ser durante o dia. Puxei o ar em meus pulmões o máximo que eu conseguia e então o prendi ali por alguns segundos enquanto permitia que minha audição explorasse ao meu redor. Eu conseguia ouvir bem longe um barulho de sirene, e mais próximo, provavelmente no final da rua algumas vozes escandalosas de pessoas que pareciam estar felizes. O metrô também não era longe e passava debaixo do solo há pouco tempo e eu conseguia sentir a vibração daquela máquina de transportes enormes. Consegui perceber outros sons mínimos, como o som da geladeira na cozinha e até mesmo de uma coruja que decerto estava escondida em uma das árvores na calçada.

Voltei a erguer meu rosto, enxugando as lágrimas que o haviam molhado e então observei o céu. Tínhamos um céu tão poluído, que ao invés de ficar negro ou mesmo azulado durante a noite, ficava num tom alaranjado por refletir as luzes da cidade, mas naquele dia em especial, eu consegui enxergar uma estrela ou outra e eu quase não consegui encontrar a lua crescente que tentava se esconder entre os edifícios, mas ela estava ali. Continuava a brilhar, mesmo que apenas por uma porcentagem sem se importar com o tamanho da sombra que a Terra lhe causava.

Fiquei ali, observando o céu por um período gigantesco, até que eu não estivesse mais me aguentando sobre minhas pernas, então eu entrei, fui até o quarto de Diego e fiquei lá, quietinha na poltrona próxima ao berço dele, observando-o pela pouca luz que vinha de fora do quarto. Ele era tão lindo, e eu não dizia isso porque ele se parecia comigo fisicamente. Diego era um ser incrível, eu podia ver que ele tinha um coração bom, ele não era uma criança mal educada, apesar de ter seus momentos e ele tinha um sorriso tão puro que eu tinha certeza de que era isso, somado aos seus abraços que me faziam ter força.

Com os olhos pesados, eu finalmente consegui dormir, tentando pensar em momentos bons que tive com ele, momentos como quando ele sorria ainda sem seus dentes e sempre me fazia derreter, ou mesmo em como ele se divertia ao tentar dar seus primeiros passinhos e até mesmo como ele sempre me recebia depois de ficar o dia todo longe de mim. Dormi encolhida ali naquela poltrona, temendo me afastar dele e trazer pensamentos ruins novamente para minha cabeça.

Eu tive a certeza, naquela noite, de que Diego era a minha âncora, e eu precisava dele para me manter de pé. Eu jamais o culparia por nada que tinha acontecido e eu iria protegê-lo a todo custo, porque desde o momento que eu decidi colocá-lo no mundo, eu me sentia na obrigação de dar a minha vida por ele, mesmo que isso significasse sacrificar a minha própria família.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora