O fim do verão se aproximava e com ele uma das piores temporadas do nosso país. Noites mais frias, manhãs frescas e uma tarde quente demais, isso sem contar as chuvas torrenciais que colapsavam a Cidade do México. Ruas alagavam, pessoas ficavam ilhadas e para piorar ainda mais a situação, se aproximava a temporada de terremotos que, apesar de eu ter vivido toda minha vida ali, desde o último que destruiu parte da cidade, me deixava apavorada.
A minha saga da busca por emprego continuou nos dias que se seguiram e por mais que me deixasse exausta no final do dia, eu precisava entregar currículos na esperança de que alguma boa alma me desse a oportunidade. Saía cedo de casa para deixar Diego na creche, que graças a Deus estava começando a se adaptar e só voltava para a casa na hora de buscá-lo. Muitas das vezes eu mal esperava a hora de colocá-lo para dormir para poder tomar um banho e apagar na cama até o dia seguinte, coisa que fez com que Christopher e eu tivéssemos deixado de nos ver com tanta frequência.
Foram poucas as vezes que ele passou no meu apartamento depois do trabalho e com poucos minutos eu já estava literalmente o expulsando dali porque queria dormir. Sentia falta dele, isso era um fato, mas ao mesmo tempo sentia falta da minha privacidade.
Eu pensei estar preparada para a chuva prevista no final do dia, mas não tinha tido tempo para olhar o noticiário pela manhã e não sabia que ela viria com tanta força e com tanto vento. Para minha sorte, ou a de Diego, ele tinha uma capa e botas de chuva que o manteve seco quase que por completo, já eu, que além de precisar carregar minha bolsa, a mochila dele e um guarda-chuva me ferrei em todos os sentidos possíveis. Enquanto Diego ignorava a ventania, saltitando nas poças de água como quem estava se divertindo com aquele dia horroroso, eu tentava a todo custo segurar o guarda chuva que me fazia passar vergonha as inúmeras vezes que o vento fazia ele virar do lado reverso.
Há mais ou menos cinco quadras de casa bateu um vento tão forte que aquele guarda-chuva velho simplesmente escorregou de minhas mãos e saiu voando para o meio da pista, deixando-me à deriva. Fiquei encharcada com a água que caía do céu em questão de segundos.
— Puta que pariu, mãe natureza! Manda um raio logo bem na minha cabeça!
Gritei um tanto com raiva, Diego que estava pouco à minha frente começou a pular numa poça enquanto ria de sua brincadeira divertida.
— Puta que paliu! — Ele repetiu, dando gargalhadas.
— Merda, precido parar de xingar perto de você.
— Meda!
— Que ódio, vamos embora, filho. Vem, dá a mão pra mamãe.
Se já era difícil segurar a mão de uma criança em um dia normal, quando molhada era ainda pior. Diego se recusava a segurar minha mão e eu tive que respirar fundo para conseguir acompanhar seus passos lentos e parar com ele toda vez que algo lhe chamasse atenção. Demorou quase três vezes mais para chegarmos em casa e depois de tirar seu calçado e sua capa, o deixei correr livre para o apartamento, depois fui me trocar.
Minha sorte era que minha bolsa era à prova d'água, porque tudo em mim estava encharcado, mas pelo menos meus pertences dentro dela se mantiveram intactos, mas os da mochila de Diego estavam todos molhados.
Mesmo cansada, eu ainda tinha meus afazeres de mãe, então depois de dar banho em Diego e deixar ele desenhando na mesa da cozinha, comecei a preparar a janta, vez ou outra tendo que parar para dar atenção a ele, que insistia que eu tivesse minha vez de desenhar. Por pouco não queimei a comida, mas no final deu tudo certo, então eu o levei para a mesa de jantar e me sentei lá com ele para conversar sobre seu dia enquanto ele comia e fazia uma bagunça gigantesca com a comida.
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Confiar | VONDY - FINALIZADA
Hayran KurguPegue um chá e sente-se da maneira mais confortável possível. De preferência pegue um lenço, você provavelmente vai precisar. Você pode ver o meu sorriso por fora todos os dias quando eu desejo bom dia no elevador ou na esquina, ou até mesmo no parq...