POV Dulce
Pisquei algumas vezes os meus olhos, permitindo minha visão turva se habituar novamente à claridade do ambiente. À minha frente um médico segurava uma prancheta analisando o papel que ali se encontrava, e logo adiante uma enfermeira, uma agente policial muito séria, Christopher e Anahí. Todos me olhavam com expressões sérias demais que, por já estar suficiente traumatizada com toda minha situação, pensei que estavam ali para me dar notícias ruins.
— Como se sente? Perguntou o médico na tentativa de quebrar o silêncio. Olhei para Christopher e Anahí, sentindo o pavor tomar conta de mim.
— Aconteceu alguma coisa com o meu filho?
— Está tudo bem, amor. — Christopher se aproximou, eu queria poder me sentar para ver melhor aquelas afeições. Talvez o olhar deles sobre mim era de completa pena.
— Dulce, essa é a Sargento Carla. Ela quer conversar com você.
Queria dizer que o meu coração havia desacelerado, mas isso não aconteceu. Pelo contrário, ela estava ali para ouvir toda minha história e eu sabia, que no momento em que resolvi denunciar o meu abusador, estava ciente de que precisaria falar sobre o que houve, talvez não uma ou duas vezes, mas repetir toda a história até que conseguisse convencer um juiz, de que o homem que eu mais apreciava esteve há um fio de me matar.
Encarei a mulher que permanecia séria demais, ela não ousou me dar um sorriso para tentar aliviar o momento tenso e então sacudi meus ombros. Por mais doloroso que fosse, eu tinha começado uma guerra e abandonar a batalha quando estava apenas começando, não era uma opção. Não apenas porque eu queria que ele pagasse por todo sofrimento que me fez passar, mas por questão de segurança. As ameaças dele contra mim, minha mãe e minha irmã poderiam se tornar realidade, e saber que Diego poderia ser uma vítima, não me tranquilizava.
Aceitei conversar com ela, por necessidade e com a condição de que no momento da conversa, Christopher e Anahí estivessem comigo. Eu não tive coragem de conversar sobre a sessão de hipnose com nenhum dos dois posteriormente, então não sabia se ao ouvir a minha história, agora com mais detalhes, eles ainda seriam minhas âncoras.
O que eu havia passado era doloroso e muitos talvez pensassem que eu estivesse exagerando nos meus sentimentos. Ninguém sabe a intensidade da dor de alguém, até poder senti-la na pele e eu sabia que a minha dor, para mim, era insuportável. Por mais de dois anos eu vivi numa caixinha, escondida bem no canto, amedrontada, mas me lembrar de tanta coisa a qual eu sempre suspeitava, fez que a dor ficasse ainda mais intensa. Eu era uma criança e sem que eu pudesse me lembrar, fui feita mulher. Minha ferida estava mais aberta do que nunca, e não houve um segundo naquele quarto em que eu não estivesse repassando as cenas na minha cabeça e quando eu finalmente dormia, me via presa em pesadelos que só me permitiam acordar quando os efeitos dos remédios passavam.
Acredito que a Dulce Maria que estava naquela maca naquele instante estava num abismo tão grande que não estava conseguindo sequer chorar. Cada palavra, por mais chocante que fosse, saíra da minha boca como se eu estivesse contando um simples conto de terror, ao qual eu não fosse a personagem principal. Ou talvez estivesse dopada demais para conseguir ter alguma reação e ainda havia a possibilidade de que eu já tivesse chorado tanto que toda a lágrima que eu fosse capaz de produzir, estivesse acabado. Tudo saíra de forma clara. Tão clara que eu parecia estar presa em cada cena, como se meu espírito tivesse presente de alguma forma presente naquele momento tão cruel.
Todo o lado profissional de Anahí que eu sempre vi parecia ter desvanecido. Seus olhos úmidos mal conseguiam segurar suas lágrimas e Christopher... eu tinha certeza de que se meu pai se materializasse ali na frente, ele usaria seu réu primário sem pensar duas vezes. Seu olhar estava tão obscuro que se eu não o conhecesse antes, jamais pensaria que ele era o ser mais dócil, compreensível e palhaço que já conheci.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Confiar | VONDY - FINALIZADA
FanficPegue um chá e sente-se da maneira mais confortável possível. De preferência pegue um lenço, você provavelmente vai precisar. Você pode ver o meu sorriso por fora todos os dias quando eu desejo bom dia no elevador ou na esquina, ou até mesmo no parq...