CAPÍTULO ONZE

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Da cozinha eu conseguia ouvir a voz de Christopher lendo um livro para Diego que se recusava a fazer qualquer coisa que não fosse ficar quieto ouvindo histórias. Depois de preparar um pouco de suco natural para ele, voltei para a sala para me juntar aos dois e então me sentei no sofá ao lado de Christopher. Diego estava no colo dele mastigando o dedo indicador e babando em toda sua blusa que à essa altura estava encharcada.

— Mais.  — Pediu ele, quando Christopher finalizou o livro.

— Aqui amor, toma esse suco, a tia Ana disse que você não comeu seu almoço.

Entreguei a garrafinha a ele que logo começou a tomar. Eu imaginava que ele estava com fome, mas não iria brigar com ele porque a dor em seu dente não permitia que ele conseguisse mastigar nada. Pelo modo como ele mexia no ouvido eu tinha certeza de que ele também estava sentindo dor no local e aquilo me dava pena, porque eu não podia fazer nada além de esperar que o remédio fizesse efeito.

— Eu vou ligar a TV pra ele, quantos livros você já leu?

— Você o deixa ver TV? Nunca vi você deixar.

— Depende do momento, prefiro que ele não fique viciado em telas.

— Entendi. É, eu também não concordo com crianças zumbis de TV e celular.

Eu coloquei o filme do Nemo para ele e enquanto assistia, Diego permaneceu no colo de Christopher, tomando seu suco ou passando a maior parte do tempo mastigando o canudo de silicone e com os olhinhos vidrado na TV. Christopher também ficou concentrado no filme então eu peguei meu celular e comecei a mexer. Gostava de ficar no meu Instagram para ver vídeos engraçados e eu não tinha lá tanto tempo para fazer isso no dia a dia.

Não precisou chegar nem na metade do filme para que Diego pegasse no sono, porque além de estar se sentindo mal, também não tinha dormido na hora da soneca na creche então ele provavelmente estava exausto, isso sem contar a noite tenebrosa que tínhamos tido no dia anterior.

— Eu vou colocar ele no berço.  — Falei, deixando meu celular de lado.

— Vai deixar ele dormir? Ele não vai passar a noite acordado?

— Quando eu fico doente tudo que quero é dormir, não quero torturá-lo mantendo acordado só pra ele dormir de noite.

— É, você está certa.

Me levantei, peguei Diego com todo cuidado do mundo, Christopher pegou a garrafinha que acabou caindo e então eu fui para o quarto dele. Pensei que no instante que eu o deixasse lá ele iria acordar chorando, mas estava tão cansado que depois que o deitei ele sequer se mexeu, então fechei a cortina mantendo o local o mais escuro possível e saí, fechando a porta.

Voltei para a sala, topando com Christopher rindo de uma cena do filme, como se ele fosse uma criança grande.

— Nem o Di ri disso, Christopher.

— Porque ele não entende, mas é engraçado

— Eu entendo e não acho graça.

— Porque você é séria demais, não tem o mínimo de senso de humor.  — Ele tirou os olhos da TV e me encarou.  — Vem aqui vem, minha bravinha.

— Eu não sou bravinha.

— É sim, minha bravinha pitica, você é desse tamanho aqui, olha.  — Ele gesticulou com os dedos formando um tamanho pequeno e eu mostrei o dedo do meio pra ele.

— Idiota!

— Vou trocar seu contato no meu celular pra Bravinha e vou te chamar só assim agora.

Confiar | VONDY - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora