Mesmo no frio, a brisa fresca que o Norte propunha, beijava meu rosto enquanto eu cavalgava em meu animal preto e hábil. Ele sempre me acompanhava em todas caças e viagens das quais eu fazia, com certeza deveria ser considerado como um amigo. Afinal, esse era um tipo de coisa que eu não considerava ter.
Nenhum ser humano que raciocinasse poderia ser meu amigo, eu já conhecia há anos sobre a ruindade e podridão que habitava no coração de cada um que existia no mundo. O ser humano, naturalmente, era um ser egocêntrico, egoísta e ruim, assim como reconheço ser. Hoje eu sabia que todos tínhamos esse lado obscuro dentro de nosso peito, por isso eu não tinha medo de nada e de quase ninguém. Pessoas cruéis já me amedrontaram, mas assumir a coroa de um grande reino aos 13 anos me fez superar esse medo. Portanto, os únicos que eu temia eram aqueles que se faziam de bons.
Enquanto caminhava pela estrada, notei uma carruagem parada no meio do caminho. Um dos guardas verificava a roda, inutilmente. Estava claro que aquilo era uma emboscada e se ele possuísse o mínimo de inteligência já teria fugido e largado tudo ali. Afinal, a vida dele era o mais importante... para ele, é claro.
Apesar de ter certeza de que eu estava certo, resolvi esperar e ver o que aconteceria ao soldado.
- Está tudo bem? - uma voz feminina soou distante, vindo de dentro da carruagem com problema na roda.
Naquela rota não havia tantos buracos ou pedras espalhadas que pudessem afetar a roda do veículo daquela maneira. Se ele tivesse analisado ao redor, teria notado que tudo havia sido arquitetado propositalmente. Antes que o soldado pudesse responder a garota, uma flecha voou do lado leste e atravessou seu peito.
Suspirei. Eu estava certo.
Dois saqueadores começaram a atacar o outro soldado que restava, enquanto eu resolvi esperar tudo aquilo terminar para poder seguir minha viagem. Era uma pena para a garota, porque provavelmente ela morreria em breve. Eu nunca havia acreditado nessas baboseiras de de destino ou em "escolhas de Deus", mas eu ousava acreditar que quando alguém morria era porque estava na sua hora. Era o tempo dos três ali morrerem, não cabia a mim interferir.
Após matarem o soldado, um dos saqueadores avisou para o outro da existência de uma garota dentro da carruagem. Eles comemoraram com uma risada nojenta e repugnante que me fez mudar de ideia sobre interferir ao invés de deixá-la a mercê daqueles homens. Não era meu objetivo ter que sujar minhas mãos, mas levaria apenas alguns segundos para acabar com eles. Eles não possuíam nenhuma habilidade de luta, além de uma mira que nem deveria ser considerada boa o suficiente, já que a flecha não foi atirada de tão longe.
Lá estava o lado podre e nojento daqueles dois humanos. Eles não mereciam morrer para alguém como eu, mereciam morrer de uma forma muito mais torturante e horrível, porém eu decidi dar o privilégio de deixá-los sentir a morte pela minha lâmina.
Desci do meu cavalo e caminhei em passos largos enquanto repousava minha mão sobre a bainha da espada. A garota desceu da carruagem rapidamente e então um dos homens agarrou seu pulso, e em um movimento ela se soltou e se chocou de frente contra meu peito.
Os dois saqueadores se juntaram a nossa frente e puxaram suas pequenas adagas. Empurrei a garota para trás e com dois golpes únicos eu matei ambos. Sem nem dar a oportunidades deles usarem aquelas lâminas baratas contra mim.
Limpei o sangue nojento na roupa deles e analisei a garota que começou a dar alguns passos para trás. Seus olhos castanhos profundos de medo encararam os meus. Ela parecia estar olhando para a própria morte, mas sua feição de medo não era o que me chamava atenção e sim sua aparência.
Definitivamente era ela. Marie Brown, irmã de Victoria Brown. A gêmea que estava morta há anos atrás e as verdadeiras herdeiras do trono do norte.
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Call me King
RomanceE se um dia você acordasse e percebesse que agora é uma lady em um reino há 300 anos e se apaixonasse pelo rei? Marie sofre um acidente e acaba voltando vários anos atrás como Lady Marie Brown, que tentou se suicidar após saber que teria que se casa...