Call me King

45 - Fúria e Vingança

VICTORIA POV

Encarei o pequeno chalé disposto naquela floresta no norte, onde o sol, que subia por trás do telhado, cobria meu rosto com seus feixes de luz. Estar ali me trazia as únicas memórias boas que eu havia tido em minha vida, que havia sido com Sebastian.

As coisas não andavam como eu esperava. Ao invés de fechar um acordo com o rei Castiel, aquela praga maldita havia feito ele mudar de ideia. Eu ainda não sabia como poderia tomar o trono de Lucian sem entrar em uma guerra. Mas Sebastian... Talvez ele soubesse. Afinal, ele estava de complô com o lorde Jones há um bom tempo. Apesar de pensar que poderíamos ser aliados, uma parte em mim temia isso.

Sebastian sempre fora a pessoa mais doce e amorosa que eu havia conhecido. Graças a ele, pude aguentar viver naquele palácio durante minha infância e adolescência, mesmo depois de ver meu pai ser decapitado e encontrar o corpo de minha mãe morta posteriormente. Naquela época, tudo que eu queria era me juntar a eles, seja no céu ou onde fosse o lugar em que estivessem.

Meus olhos começaram a marejar ao lembrar de como uma garotinha tão nova já possuía tais pensamentos. Se não fosse pelo amor e apoio de Sebastian, eu com certeza não estaria viva hoje. Ele me salvou incontáveis vezes de colocar um fim em minha vida. Porém, ele não conseguiu me salvar de mim mesma.

Eu havia parado de tentar colocar um fim à minha vida quando descobri um propósito: vingar o meu pai, a minha mãe, a minha irmã e toda minha família que sofreu após ter nossa coroa roubada.

Nessa altura do campeonato, eu já sabia que havia chances de tudo que eu planejei até hoje não dar certo, e isso me assombrava. Muito. Porque isso significava que não haveria mais motivo para eu continuar viva e nem ter chegado até aqui. Tudo que eu fiz não poderia ser em vão, eu não aceitava isso. Se eu pudesse pelo menos esquecer tudo isso, todo esse sentimento de ódio e vingança que me corroía, mas eu não era capaz. E eu sabia que esse tipo de emoção era algo aumentava a cada dia em que eu estava viva.

No fundo, eu não queria... eu não podia, acreditar que Sebastian poderia ter sido consumido por esse ódio e desejo de vingança. Não... não alguém como ele... que possuía apenas amor no coração.

Dei passos, caminhando, até o chalé e atravessei a porta de entrada. Analisei todo seu interior que continuava da mesma forma que eu e ele havíamos deixado.

- Achei que não viria. - Sebastian se levantou da poltrona que ficava em um canto direito da sala, ele me encarava com aquele olhar profundo e perdido. Meu peito apertou.

- E porque não? - questionei com indiferença no olhar.

Ele se aproximou em passos lentos até ficar a 30 cm de mim. Sua mão foi direto para meu rosto e eu pude sentir seu toque quente em minha bochecha. Aquele toque me fazia desmontar, aquela sensação de segurança e calor que ele passava. E era por isso que Lola não queria que eu viesse vê-lo.

Me desvencilhei de sua mão e caminhei até o sofá. Sentei e notei que um bule branco estava repousado sobre a mesa com o vapor saindo por ele. Puxei a xícara que estava próxima e servi para mim e para ele. Em seguida, Sebastian voltou a se sentar na poltrona que estava a direita do sofá e me encarou, enquanto eu bebia um gole do líquido.

- Até quando você vai continuar com esse teatro? - ele disse com sua voz grave e eu por um segundo paralisei a xícara na boca, não demorei muito para continuar levando até meus lábios e bebendo.

- Não sei do que está falando, vossa majestade.

- Ora... Acha que sou tolo, Victoria? Eu sei muito bem que você é a pessoa que conviveu comigo e com Lucian no palácio desde nossa infância. E sua irmã gêmea não perdeu a memória, ela só nunca viveu lá para nos reconhecer. Você fugiu e colocou ela no seu lugar. - ele repousou o pé sobre o joelho esquerdo e encostou na costas da poltrona, enquanto encarava o fogo na lareira que nos aquecia.