01 - Prólogo

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Marie POV

Apertei o botão e a cafeteira começou a funcionar, derramando o café espumante no copo. Tampei o copo rapidamente e entreguei à cliente.

— Obrigada, moça — disse ela, antes de sair apressada.

O relógio marcava finalmente 18 horas. Meu expediente, após um longo e cansativo dia, tinha acabado. A outra atendente da cafeteria já começava a fechar o caixa, enquanto eu tirava meu avental e o lenço que cobria meus cabelos castanhos.

— Finalmente! Não vejo a hora de chegar em casa... — murmurei para mim mesma, jogando minhas coisas dentro da bolsa com pressa. Eu precisava sair logo dali.

— Aonde vai com tanta pressa? Tá pensando no namorado, né, Marie? — ouvi Joanne brincar, enquanto dobrava o avental dela.

Soltei uma risada curta. Namoro? Essa era a última coisa na minha lista de prioridades.

— Tô pensando na minha cama, Jô. Até amanhã! — respondi acenando, enquanto saía do café e fechava o zíper da jaqueta para me proteger do vento frio.

As ruas estavam iluminadas pelas luzes dos carros e postes, o trânsito intenso da cidade contrastando com o céu escurecido pela noite que chegava. Eu estava exausta, e tudo o que conseguia pensar era em deitar na minha cama o mais rápido possível.

No ponto de ônibus, me sentei no banco gelado e puxei meus fones de ouvido da bolsa, conectando-os ao celular. A música alta que começou a tocar me ajudou a isolar o barulho da cidade enquanto eu observava as pessoas que passavam apressadas. Era algo que eu adorava fazer — imaginar as vidas, os dilemas e as histórias de cada uma delas.

Uma garota se aproximou, oferecendo doces. Eu neguei com um aceno. Queria muito comprar, mas o dinheiro estava curto, e eu não podia me dar ao luxo de andar a pé até minha casa nos próximos dias. Ela assentiu e seguiu seu caminho, mas enquanto se afastava, algo caiu de seu bolso. Era a carteira dela.

Rapidamente, peguei a carteira do chão e me levantei para chamá-la, mas ela não me ouviu. Olhei ao redor e percebi que o ponto estava vazio. O ônibus provavelmente ainda demoraria, então decidi segui-la para devolver a carteira antes que ela desaparecesse de vista.

Andei rapidamente atrás dela, chamando-a algumas vezes, mas ela não se virou. A vi dobrar à direita e entrar em um beco mal iluminado. Apressei o passo e entrei no beco também, mas quando cheguei, ela já havia sumido. O local era um beco sem saída.

Suspirei frustrada e abri a carteira para procurar algum documento que me permitisse entregar o item em uma delegacia depois. Enquanto fazia isso, senti uma brisa fria nas costas, como se alguém estivesse me observando. Virei-me rapidamente, mas não vi nada. Talvez fosse só minha imaginação, fruto do medo que eu tinha do escuro.

Decidi sair logo dali, mas antes que pudesse dar dois passos, senti uma mão agarrando meu braço com força. Em um movimento brusco, alguém me puxou e colocou uma faca contra meu pescoço. Meu coração disparou e minha mente entrou em pânico. Tudo o que eu conseguia pensar era em como sair viva dali.

— Por favor, leve tudo! Só me deixe ir! — implorei, tentando manter a voz firme, mas o desespero era evidente.

O agressor apertou a faca contra minha pele, e senti um leve corte no pescoço. Ele murmurava algo que não consegui entender enquanto me arrastava para o fundo do beco. Quando sua mão livre começou a deslizar pelo meu corpo, o terror tomou conta de mim. Eu sabia o que ele queria, e não era dinheiro.

Por um momento, foi como se eu tivesse me desligado de mim mesma. Não podia acreditar que aquilo estava prestes a acontecer comigo. Mas algo dentro de mim despertou — uma raiva, uma vontade de lutar. Eu não seria uma vítima. Não de novo.

Lembrei das poucas aulas de artes marciais que havia feito. Respirei fundo e, com toda a força que consegui reunir, dei uma cotovelada em seu peito. O homem se afastou o suficiente para que eu começasse a correr, sem olhar para trás. Eu sabia que ele estava me seguindo, mas não podia parar.

Meus passos ecoavam no beco escuro, enquanto o som dos pés dele ficava cada vez mais próximo. O fim do beco estava à minha frente, e se eu conseguisse chegar à avenida, estaria segura. Continuei correndo, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Ele estava quase me alcançando, quando finalmente avistei as luzes da rua.

Antes de sair do beco, senti sua mão me agarrar novamente. Em um ato de desespero, chutei sua virilha com força, fazendo-o me soltar. Mas, ao me libertar, perdi o equilíbrio e caí no meio da avenida. O barulho de uma buzina e o brilho intenso de faróis se aproximaram rapidamente.

O impacto veio antes que eu pudesse reagir. O caminhão me atingiu, jogando meu corpo com força para longe. Tudo ficou lento, meus sentidos entorpecidos. Não havia mais som, dor ou medo. Apenas uma paz estranha, uma força maior que me puxava para longe.

Meus olhos se fecharam, e eu soube que estava morrendo.

Call me KingOnde histórias criam vida. Descubra agora