05 - Mãos Dadas

4.9K 483 159
                                    

A festa tinha sido incrível, comi bastante e até dancei com Lola. Parecia estranho, mas estávamos nos aproximando mais. Quanto aos príncipes, mal os vi após o banquete, o que foi ótimo. Evitar qualquer contato era o melhor para evitar confusão.

Os nobres começaram a se retirar e os que viviam no castelo foram para seus aposentos. Os serventes limpavam a bagunça e eu... bem, estava meio alterada depois de beber aquele vinho fortíssimo, parecia álcool puro. Terrível demais.

— Lady Marie, vamos para o seu aposento. Já está na hora de dormir, depois de um banho — Lola disse enquanto caminhávamos por um longo e belo corredor.

— Eu... vou dar umas voltas por aí — respondi, virando para explorar o castelo gigantesco. Afinal, não é todo dia que você se encontra num lugar luxuoso como esse.

— Sozinha? Acho melhor você vir comigo, está tarde — ela insistiu.

— Não se preocupe, estarei no quarto em breve, por favor, Lola... — fiz cara de cachorrinho, e ela soltou um pequeno sorriso.

Foi um dos primeiros sorrisos que vi desde que cheguei. Ela geralmente era fria e robótica, como se seguisse ordens cegamente. Minha suspeita era que, por causa das castas, ela apenas fingia ser assim com os superiores. No entanto, eu, vindo do século 21, não estava acostumada com esse tipo de comportamento. Agora, Lola parecia estar se abrindo mais, mostrando-se uma pessoa boa.

Enquanto vagava pelos corredores aleatórios, encontrei uma porta grande e diferente das outras. A curiosidade sempre foi um problema para mim, então, mesmo sabendo que poderia me meter em problemas, decidi ver o que tinha lá.

Girei a maçaneta com cuidado e entrei em um escritório gigantesco. Era enorme, com uma decoração impecável e luxuosa. Fui até a mesa, cheia de papéis, e encontrei uma caneta pena ao lado de um tinteiro dourado. Sentei-me numa cadeira acolchoada e brinquei com a pena por um momento. Então, abri um dos pergaminhos.

"Príncipe Sebastian e Lady Brown."

Fiquei chocada. Isso sim era sorte grande! Um documento sobre os dois. Olhei ao redor, vendo mais livros e baús de pergaminhos. Ali havia informações preciosas, talvez respostas sobre o que estava acontecendo. Ao mexer em um dos papéis, encontrei uma carta meio rasgada com marcas de sangue. Era a carta de suicídio de Marie.

Assim que toquei o papel, senti um aperto forte no peito. Sem entender por quê, comecei a chorar. As lágrimas corriam descontroladamente, e a dor era tão intensa que não parecia minha. Não fazia sentido. Eu não estava triste, mas a agonia que sentia era real.

— O que você está fazendo aqui?! — uma voz grossa soou, e Lucian entrou rapidamente.

Ele puxou a carta da minha mão, e eu, desorientada, só consegui dizer:

— É minha...

— Você não deveria pensar nessas coisas — ele disse, guardando a carta no baú. — Pare de chorar e vá para o seu quarto. Nunca mais entre aqui, este é o escritório oficial.

— Eu não estou chorando — respondi, sentindo meu rosto molhado, enquanto a dor no peito aumentava. O que estava acontecendo comigo?

— Marie, eu não me importo com o que houve entre você e Sebastian. Não pense que vou cancelar o casamento por causa disso. Eu não sinto nada por você, muito menos piedade.

Olhei para ele, irritada. Que babaca! Quem disse que eu pedi algo a ele?

— Eu não preciso dos seus sentimentos, não vou cancelar merda nenhuma!

Ele arregalou os olhos, surpreso com o meu tom. Eu definitivamente não estava agindo como uma lady.

— Parece que os boatos são verdadeiros. Você ficou meio doida depois do acidente.

— Por que você quer se casar comigo, então? Deixe Marie...

Antes que eu terminasse, comecei a chorar mais ainda, sem motivo aparente. Era ridículo, eu estava com raiva, mas o choro não parava. Lucian suspirou.

— Me desculpe, acho que deixei a raiva me controlar. Mesmo não sentindo nada por você, não quero que sofra a vida toda. Mas você sabe como as coisas funcionam na família real...

De repente, tudo fez sentido. Eu estava no corpo de Marie Brown. Esses sentimentos intensos não eram meus, eram dela. A dor que senti ao ler a carta e o aperto no peito ao ver Sebastian eram dela. Coitada... viver com essa dor todos os dias devia ser insuportável.

— Tudo bem — respondi, mais calma.

— Mas isso não significa que vou aturar fofocas. Cumpra seu papel como noiva. E nunca mais entre aqui.

— Quem disse que eu quero ser sua noiva?! — retruquei, cruzando os braços.

Lucian sorriu de lado.

— Você acabou de dizer que não vai cancelar "merda" nenhuma.

— Eu faço isso pelos pais de Marie — falei, sem me dar por vencida. — E posso falar com o Sebastian quando eu quiser. Você não manda em mim.

— Eu não estou te dando ordens, só estou tentando evitar boatos. Faça o que quiser, mas lembre-se de que, a qualquer momento, minha família pode desistir de você se sua imagem for manchada.

Ele tinha razão, e eu não podia arriscar prejudicar a família de Marie. Além disso, manter distância de Sebastian seria melhor para todos, especialmente para mim.

— E você acha que vai conseguir ficar comigo por anos? — provoquei.

— Não será necessário. Terei outras esposas para me entreter. — Ele sorriu, e eu fechei a cara.

— Que ridículo...

Ele se aproximou, e a diferença de altura entre nós ficou evidente. Seus olhos cinzentos me encaravam, intensos. Por um momento, perdi-me naquele olhar, mas rapidamente recuperei a compostura e o empurrei para longe.

— Até parece — falei, saindo da sala.

Lucian veio atrás de mim e fechou a porta, puxando meu pulso.

— O que aconteceu com você? — perguntou, intrigado.

— Nada.

— Parece que você é outra pessoa... — ele riu.

— Com medo de se apaixonar por mim? — provoquei, sorrindo de lado.

— E se eu estiver? — Ele sorriu maliciosamente, tocando minha mão. Meu coração acelerou por um segundo. Puxei minha mão rapidamente e saí, sem olhar para trás.

Call me KingOnde histórias criam vida. Descubra agora