35 - Memórias Perdidas

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Uma forte luz penetrava minhas pálpebras, mesmo fechados, fazendo com que minha cabeça doesse bastante. Abri meus olhos e senti meu coração acelerando ao notar que eu estava em uma espécie de floresta obscura. A cama em que eu deitava era toda de arabescos enferrujados que compunha a cabeceira. Abaixei a cabeça e notei os lençóis de cetim branco que estavam sujos de algo vermelho que cheirava a sangue.

Onde eu estava?! Pulei da cama e comecei a correr rapidamente para longe daquela cena, mas era como se o chão da floresta estivesse composto de vários espinhos. Meus pés doíam a cada passo que eu dava. Eu continuei correndo o mais rápido que eu pudesse, mas toda hora que eu olhava para trás era como se eu não tivesse me afastado nem 1 cm daquela cama.

Encarei meus pés que já estavam tão machucados que deixaram minhas meias brancas completamente manchadas na sola. A cabeceira da cama começou a fazer um barulho sinistro, como se fosse o som de chaves chocando entre si. Me aproximei da cama com dois passos apenas e o som estava tão alto que poderia me deixar surda.

Nos dois extremos da cabeceira, havia uma espécie redonda de ferro em cima do pé dela, ela tremia como se pudesse ser arrancada dali. Aproximei minha mão para tocá-la e quanto mais próximo ficava, mais o som aumentava e o objeto pertencente a cabeceira tremia.

Encostei e um clarão invadiu minha visão.

Acordei sem fôlego e olhei para os lados, notando que estava em meu quarto e com Bulut dormindo a minha esquerda na cama.

- Marie? Está tudo bem? - Lola perguntou, após sair do banheiro, com uma toalha em seus braços.

Suspirei profundamente, levando minha mão em minha testa que estava suada, após o sonho terrível.

- Foi outro pesadelo... - respondi.

- Terminei de preparar o seu banho, ia te acordar em seguida... - Lola explicou e eu me levantei da cama, caminhando já em direção ao banheiro para me lavar.

- Obrigada, Lola. - agradeci, retirei minha camisola e entrei na banheira, enquanto tentava relaxar com a água morna envolvendo todo meu corpo.

- Você precisa relaxar, Marie... Você praticamente não come, não se distrai, não dorme... felizmente você apagou e o lorde Jake te trouxe para o quarto ontem a noite.

- Está explicado... Eu nem me lembrava de ter vindo dormir...

- Você simplesmente desmaiou no meio do corredor, após sair do quarto do rei. - Lola disse, enquanto lavava meu cabelo.

- Lucian... - engoli seco, me lembrando do que havia acontecido.

- Os médicos estão tentando fazer de tudo para que ele acorde... - a voz receosa de Lola, entregava sua falha tentativa de ser otimista. - Mas mudando de assunto... esse pesadelo foi sobre o quê, Marie?

- Foi estranho... eu estava em uma floresta muito escura e em uma cama cobre enferrujada... a cabeceira dela era com vários arabescos florais e nas extremidades havia duas bolas do tamanho de um punho e... - antes que eu terminasse de explicar, senti as mãos de Lola pararem em meu couro cabeludo. - Algum problema? - perguntei.

- Essa descrição da cama... Acho que eu já vi uma dessas no palácio... mas não consigo me lembrar de onde... - ela respondeu, pensativa.

Me virei rápido e encarei Lola.

- O que? Lola, você precisa se lembrar. Eu não acreditava antes que sonhos tinham significado, mas... bom, se essa cama existe... eu gostaria de vê-la...

Eu não poderia duvidar que sonhos tinham significados, afinal... eu havia voltado no tempo... o que era mais bizarro do que isso?

Lola começou a enxaguar meu cabelo, enquanto eu jogava água em meu corpo que eu havia ensaboado.

Call me KingOnde histórias criam vida. Descubra agora