55 - Repressão

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    Seus lábios pareciam tão convidativos que por um momento pensei que poderia apenas beijá-lo e esquecer de todo o enorme caos que estava acontecendo.

– Vai continuar sem me responder? – ele questionou e se afastou, apoiando as mãos na mesa que estava logo atrás de suas costas.

Lucian puxou todo ar de seu pulmão e expirou ele, enquanto encarava o tapete no chão do escritório. Ele não parecia só esgotado fisicamente, mas mentalmente também. Meu coração doeu... tanto, mas tanto que engoli seco para impedir que as lágrimas se formassem em meus olhos.

Sua mãe estava morta, seu pai estava morto, suas memórias estavam perdidas, seu tio era um traidor e agora o reino estava mergulhado em fome, além de estarmos entrando em uma guerra. De repente, todos meus problemas pareceram patéticos comparado aos dele.

– Está tudo bem... se você... quiser chorar.

Ainda me lembrava das palavras de Jake, quando ele me viu chorando pela milésima vez e eu me senti tão patética e fraca. Mas ele estava certo, chorar não dizia nada sobre sua força ou sua história.

– Eu não choro. – ele disse e continuou encarando o tapete.

– Eu sei que você foi criado para governar, para lutar, para tentar sempre fazer a melhor decisão e ser justo para seu povo. Desde que você nasceu tudo era sobre isso... sobre ser o próximo rei. Mas, não precisa ser só sobre isso.

– O que está dizendo? – ele me encarou e apoiei a mão em seu ombro.

– Estou dizendo que ser rei é o seu trabalho, mas é também uma imagem que você precisa representar. E você não precisa ser isso o tempo todo. Você é um rei, mas também é um ser humano como qualquer um nesse mundo. Você erra como todos erram. Mas também acerta várias vezes. E você tem sentimentos, não é porque você é um rei que precisa se privar da felicidade, do amor, da raiva e da tristeza.

Apesar de dizer tudo aquilo, genuinamente e do fundo de meu coração, eu não poderia imaginar que Lucian começaria a chorar na minha frente. As lágrimas começaram a percorrer seu rosto e seus olhos cinzas pareciam cristais quando ficaram marejados por elas.

– Estou perdendo eles... Minha família. – ele disse com a voz embargada.

Meu coração doeu. Mais do que já doía. Provavelmente era isso o amor, se alegrar ao ver quem você amava alegre e se contorcer de dor ao ver quem você amava em um lugar de tristeza do qual você não poderia ajudar. E eu era a culpada por ele estar assim agora. Talvez eu não tivesse o direito de estar ali, tentando consolar ele. Mas eu não conseguia não estar.

– Lucian...

– Eu entrei na biblioteca... e lá estava o corpo dela. Ela levou uma facada nas costas e depois no peito... seu vestido parecia ser vermelho de tanto sangue que havia no tecido. – ele descrevia com um terror e a tristeza estampados em seu rosto.

– Eu sinto muito.

– Eu falhei com meus pais. Eu falhei ao não matar o lorde Jones. E eu falhei com meu reino.

– Não, não! Você não falhou com ninguém. – coloquei as mãos e segurei seu rosto, enquanto limpava uma lágrima com meu polegar direito. – Esse reino precisa de você, então não fique se culpando por coisas que estão fora do seu controle. Entendeu?

Ele me encarou com aqueles olhos marejados e então eu não resisti ao envolver meus braços ao seu redor. Lucian ficou estático, sem saber o que fazer até me abraçar forte contra seu peito. Eu conseguia escutar as batidas rápidas de seu coração e o calor que preenchia todo o meu corpo. Por tanto tempo eu quis fazer aquilo e agora eu só queria que o tempo desacelerasse para que eu pudesse guardar cada detalhe de sensação e de seu toque.

Call me KingOnde histórias criam vida. Descubra agora