Call me King

76 - Espião

MARIE POV

A tensão entre nós era palpável, uma batalha silenciosa que ecoava tanto quanto as que ocorriam no campo. Eu queria acreditar que, em algum lugar, Castiel guardava um pingo de integridade, que talvez ele enxergasse mais do que ambição nesse jogo mortal. Mas suas palavras, embora verdadeiras em seu ponto de vista, apenas reforçavam o fosso entre nós.

— Castiel, você está jogando com vidas como se fossem peças descartáveis — sussurrei, tentando abafar a raiva que surgia. — Não é justo dizer que paz só pode existir sob seu comando, ou que essa guerra precisa ser ganha pelo sangue.

Ele estreitou os olhos, avaliando-me, como se decidisse o quanto podia compartilhar.

— Você acha que eu faço isso por mim? Marie, eu já vi o que Yugar é capaz de fazer. Se essa guerra não acabar, a paz será apenas uma ilusão. Mas se não for eu, será alguém menos... cuidadoso.

Antes que eu pudesse respondê-lo, ouvi passos apressados no corredor. A porta se abriu, e Victoria entrou, pálida e ofegante.

— Castiel, Marie, é Lucian. Ele... voltou — disse, a voz carregada de urgência. — E ele traz uma mensagem.

Eu troquei um olhar com Castiel. Ele pareceu surpreso, e pela primeira vez, notei algo próximo ao medo em seu rosto. Lucian estava de volta — e a pressa de Victoria indicava que ele não trazia boas notícias.

Seguimos Victoria pelos corredores em direção ao trono, onde Lucian aguardava, cercado por membros do conselho e alguns generais. Ele estava abatido, a armadura coberta de poeira e arranhões, os olhos cansados, mas cheios de determinação. Ao nos ver, ele fez um sinal para que nos aproximássemos.

— Lucian — murmurei, tentando manter a voz firme. — O que aconteceu?

Ele respirou fundo, reunindo forças para falar. Ao fazer isso, percebi uma leve hesitação, uma tensão na sua postura. Olhou para Castiel por um momento antes de começar.

— Durante minha ausência, viajei ao extremo sul em busca de uma verdade que tem me atormentado desde o início desse conflito — ele começou. — Tive acesso a informações de um informante que me revelou a extensão da aliança entre alguns membros do nosso próprio conselho e as forças de Yugar.

Um murmúrio de choque percorreu a sala. Eu senti o estômago revirar. As suspeitas de Victoria e minhas dúvidas sobre a lealdade de alguns conselheiros estavam se confirmando.

Castiel manteve-se imóvel, mas pude ver que ele cerrou os punhos.

— Isso é uma acusação séria, Lucian — ele disse, sua voz baixa, mas repleta de intensidade. — Tem provas do que está dizendo?

Lucian assentiu, puxando um pergaminho selado de dentro de sua armadura.

— Aqui estão as provas — disse, entregando-o ao conselheiro Harry, que parecia mais pálido a cada segundo. — Mensagens interceptadas, assinadas por ninguém menos que alguns dos homens de confiança que nós colocamos para proteger nosso reino.

Eu olhei para Victoria, que estava ao meu lado, e ela confirmou com um leve aceno. As peças finalmente se encaixavam. O avanço constante de Yugar, as falhas inexplicáveis em nossas defesas, a sensação de traição no ar... tudo fazia sentido agora.

Lucian se voltou para mim, os olhos sérios.

— Marie, sei que desconfiei de você antes, e sei que talvez eu tenha sido cego diante de muita coisa. Mas agora, mais do que nunca, preciso de alguém que não esteja envolvido nesses jogos para ficar ao meu lado. Preciso de alguém em quem eu possa confiar completamente.