capítulo 48

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AMÁLIA

Bati à porta e esperei que fosse aberta. A noite estava escura e não havia nem uma estrela em meio à escuridão, mas ainda assim estava bonita. 

— Amália? — Virei-me, dando de cara com Raquel. 

— Posso entrar? 

As três me olharam com pontos de interrogação na cabeça, mas eu não podia julgar, a situação era realmente confusa. Eu estava agora como no dia em que havia saído daqui. 

— Aconteceu algo? 

— Não. Apenas fui demitida. — Menti, embora abominasse mentiras, pois seria mais difícil explicar os motivos se dissesse que fui eu quem havia me demitido do que se dissesse os motivos que fizeram meu patrão me pôr para fora. 

Apenas falei para elas que havia trocado o açúcar pelo sal no suco dele. Elas ficaram horrorizadas pelo ocorrido e eu apenas lancei um sorriso sem graça, segurando-me para não cair em lágrimas na frente delas. 

Então, elas me deixaram ficar no orfanato por enquanto. Quem diria que eu iria voltar para esse lugar… Eu realmente era uma sem teto mesmo.

Por eu ter que dormir em um colchonete ao lado da cama de tia Estela, a ajudei a arrumar tudo e depois me sentei. Ela respirou fundo e se sentou também, em minha frente. 

— O que realmente aconteceu? 

— Hã?

— Eu te conheço, Amália, sei quando mente. O que aconteceu?

— Eu… É que… E-eu acho que… Estou apaixonada pelo meu patrão.

— Por isso saiu? — Assenti.

— Preciso pôr um fim nisso, tia. Essa é a primeira vez que me apaixono por um homem e está tudo errado. 

— Meu amor...

— Somos de mundos totalmente diferentes. Além disso, ele já tem alguém. — Abaixei minha cabeça quando percebi que as bordas dos meus olhos se encheram a ponto de quase transbordar.

— Oh, minha menina, não chore.

[...]

No meio da noite, acabei me despertando devido a um sonho com meu pai. Eu gostava de sonhar com ele, menos quando envolvia o acidente, então o sonho se tornava um pesadelo. Mas esse, dessa vez, foi um sonho bom. Ele conversava comigo coisas normais do dia a dia, enquanto sorria e afagava meu cabelo, assim como fazia quando eu era criança. 

Após me despertar, permaneci pensando sobre o que havia ocorrido antes, ou seja, sobre como havia me sentido ao ver Alex beijando a Kate. Até cheguei a questionar se o que sinto é amor de verdade, afinal, eu nunca amei um homem romanticamente. Talvez, estivesse apenas desapontada por ele ter mentido para mim. 

Mas então, lembrei-me de quando me senti bem antes, de quando Kate falou que era sua namorada e das sensações estranhas que sentia perto dele. Portanto, cheguei à conclusão de que só podia ser amor. 

Depois de algum tempo, escutei o barulho do meu celular vibrando ao meu lado. Então, o peguei e vi um número desconhecido. Deixei que tocasse, pois poderia ser um trote. Anna havia me alertado sobre isso, pois no seu país era bastante comum esse tipo de ligação para roubar dados pessoais. Segundos depois, voltou a tocar, então mesmo incerta, atendi. 

— Alô? — Silêncio. Pensei em desligar, mas a pessoa do outro lado me respondeu antes que o fizesse.

— Por que fez isso? 

— Alex...

— Você disse que estaria ao meu lado. 

— Eu sei...

— Aquilo que você viu, Amália… Por favor, acredite em mim. Aquilo não foi o que você pensa. A Kate, ela...

— Por que está me explicando? Você não me deve isso. 

— A Kate me beijou, Amália. Eu estava bêbado e não reagi no mesmo momento, mas depois eu a afastei e voltei para casa. Acredite em mim...

— Alex...

— Acredite...

— Por que quer tanto que eu acredite em você? — Ele ficou em silêncio.

Então, olhei para a janela, prendendo meus olhos na lua que brilhava no céu. Após, aproximei-me dela e, assim que meus olhos caíram para a rua, eu arfei ao ver que Alex estava lá embaixo, perto de seu carro.

— O que faz aqui?! — Ele olhou para cima. 

— Amália! Eu preciso que acredite quando eu digo que não beijei a Kate… Porque… Eu gosto de você... — Com a sua declaração, arregalei meus olhos, afastando-me da janela. 

Eu ouvi o que ouvi? De repente, tudo ficou o mais repleto silêncio, sendo apenas possível ouvir as batidas aceleradas do meu coração. 

Então, tirei o celular do ouvido e fitei na tela os números que contavam a duração da chamada. Depois, lembrei-me de que ele ainda estava na linha. Portanto, antes de pensar, finalizei a ligação e fechei as cortinas da janela, respirando fundo. 

Não podia ser verdade, talvez estivesse sonhando. Era irreal que Alex Backer me amasse, pois há um mês ele havia deixado bastante explícito seu ódio por mim, mesmo ele demonstrando estar diferente nos últimos dias. Era muita loucura. 

— Tão louco quanto eu corresponder a esse sentimento. — Falei, tampando meu rosto com as mãos. 

— O que houve, filha? — Olhei para tia Estela, que já começava a se sentar na cama. 

— Tia, o Alex disse que gosta de mim. 

— Sério?

— Ele ligou para mim e… E… Ele está lá embaixo. — Ela ergueu as sobrancelhas e se levantou para ir até a janela. 

— O que você disse a ele? 

— Não sei se o que ele disse é verdade, tia. 

— Como não sabe? Ele ter vindo aqui a essa hora da noite atrás de você não é prova o suficiente? Vá até ele.

— O quê? Não, tia! — Ela olhou pela janela e depois para mim. 

— Ele está indo embora. Vai deixar? — Então, encarei minha tia. 

Talvez, ela tivesse razão. O Alex Backer de antes não teria feito isso e muito menos falaria o que sentia. 

Então, sem perceber, minhas pernas se moveram para fora do quarto e corri, com a adrenalina tomando conta do meu corpo. Por agora, não queria me privar do meu primeiro amor. 

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