Capítulo 43

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ALEX

Passei os últimos dias fazendo o mesmo que faço com minhas lembranças e com as pessoas, as evitando. Nisso, também estava incluído pensar na futura despedida, mas infelizmente havia chegado. 

Dos membros da minha família, Anna estava agarrada a sua mala, chorando baixinho; minha mãe já havia chorado e agora estava mais calma, e meu pai ria das duas. Já dos empregados, todos estavam fora da mansão, ao lado da porta, assistindo à ida delas. 

Enquanto eu, observava minha mãe e minha irmã se despedirem de cada um com um abraço caloroso, com exceção de meu pai que, ao contrário delas, não iria voltar para o Brasil. Ele tinha que resolver algumas coisas da empresa, apesar de meus protestos de que ele voltasse também, porque eu tinha plena consciência de que conseguiria resolvê-las sozinho.  

Após, lancei meu olhar para Amália e vi que ela também chorava, mas de forma silenciosa e discreta. Quando a vi tirar do bolso um lenço e levar aos olhos para enxugar as lágrimas, juntei minhas sobrancelhas. Portanto, não impedi que um sorriso surgisse em meus lábios assim que reconheci o pedaço de tecido. 

Por falar em Amália, ela me evitava desde o dia do meu aniversário. Já tinha feito muitas coisas e estava ciente de cada uma delas, mas ela nunca havia me evitado como agora e eu não sabia o motivo.

[...]

O dia estava bastante frio e a neve já começava a cobrir o solo. Portanto, agasalhei-me bem e saí do meu quarto. Assim que desci as escadas, dirigi-me até a cozinha, encontrando-a vazia. Então, juntei as sobrancelhas, estranhando a situação. Amália sempre estava aqui. Por fim, dei as costas e fui andando até a sala, encontrando Greta no caminho.

— Greta, sabe onde Amália está? 

— Está na cozinha. 

— Você está brincando comigo? Acabei de vir de lá e ela não estava. 

— Não, Senhor, tenho certeza de que ela estava na cozinha. 

Então, suspirei, girando meu corpo e voltando para a cozinha, novamente encontrando-a vazia. Confuso, olhei para os lados e lá estava ela, no jardim, com alguns flocos de neve caindo. Ela tentava pegá-los, portanto deixei um riso escapar com a cena. Depois que coloquei minhas mãos no bolso do casaco, caminhei devagar, apreciando a visão de Amália agindo como uma criança inocente. 

— Se divertindo? — Ela se assustou com minha voz e ao se virar rapidamente, escorregou na pouca neve que se juntava no chão. Rapidamente, fui até ela e a ajudei a se levantar. Comecei a achar que Amália tinha um relacionamento especial com o chão. 

— Quando eu era pequena, sempre caía dessa mesma forma. Eu dava muito trabalho para a tia Estela, principalmente quando nevava, pois eu não queria sair da neve de jeito nenhum. 

Foi a primeira vez em muito tempo que ela falou tantas palavras direcionadas a mim como agora. 

Olhei para o seu rosto e vi que suas bochechas e a ponta do seu nariz estavam vermelhas, certamente por causa do frio, já que ela não estava muito agasalhada. Respirei fundo e tirei meu cachecol, levando-o até ela para enrolá-lo em seu pescoço. 

— Vamos entrar. — Ela assentiu. — Por que você não fala? 

— Quê?

— Por que está evitando falar comigo? 

— Não é nada, eu só… Me desculpe.

— Não quero suas desculpas, quero que pare com isso! - Ela abaixou a sua cabeça e assentiu. — Fale.

— Sim, Senhor. 

— Poderia ser melhor, mas tudo bem. Não quero deixá-la confusa com minha bipolaridade. Eu realmente quero mudar, mas não é fácil. 

— Realmente, não é. Mas eu acredito em você. — Falou baixinho. 

Aquilo foi demais para mim. Imediatamente, meu coração errou uma batida e senti uma enorme alegria preencher meu peito, o que foi bom. Não havia sentido essa sensação antes. 

Ela acreditava em mim. Acreditava que eu, Alex Backer, conseguiria mudar. 

Ninguém nunca havia me dito essas palavras, nem mesmo meus pais. Foi inédito e cheio de significados. 

— Eu amo a neve. — Ela disse. No entanto, eu ainda estava atordoado com suas palavras anteriores. 

— Vamos passear na neve amanhã. — Ela arregalou os olhos. 

— O quê? 

— Vamos passear na...

— Eu entendi. Só não entendi porque está me convidando.

— Você disse que gosta da neve. — Ela fechou os olhos e respirou fundo, antes de abri-los novamente. 

— Senhor, por favor. Não faça isso. 

— Por que não?

— Não faz sentido, nada disso faz! 

— O que não faz sentido? 

— Você e… Eu! — Ela avançou um passo à frente, começando a andar mais rápido em direção à casa, mas eu a segurei pelo braço e a puxei para mim.

— O que você está tentando dizer? — Ela olhou no fundo dos meus olhos e engoliu em seco.

— Eu não sei.


Até o próximo capítulo ❤️✅

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