Capítulo 55

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AMÁLIA

Minhas mãos estavam geladas, ao mesmo tempo que suadas. Era a terceira vez, em um intervalo de 2 minutos, que eu as passava em minha calça a fim de mantê-las secas, mesmo que fosse por um curto período de tempo. O problema era que eu estava muito ansiosa. A prova, a qual havia me preparado por três meses, seria hoje. Eu me sentia confiante, já que tinha estudado muito, mas não podia deixar de ficar nervosa. Então, esfreguei uma mão na outra e respirei fundo, quando Alex parou o carro. A prova iria acontecer na própria Universidade, a qual iria concorrer. Após, meu namorado separou as minhas mãos, apertando uma delas.

— Vai ficar sem mão se continuar dessa forma. — Ele deixou um selar no dorso da minha mão esquerda. 

— Estou nervosa. 

— Imagino. Mas não precisa, porque você é muito inteligente e estudou muito. Está mais que preparada. — Fechei os olhos e respirei fundo mais uma vez, entregando na mão de Deus. Alex tinha razão, afinal, era só uma prova. 

— Que seja feita a Tua vontade, Pai. 

Depois, já fora do carro, olhei para o prédio à minha frente. Era enorme e muito lindo. Ao redor dele, havia algumas pessoas por ali, certamente para a prova também. Então, Alex parou em minha frente, impedindo minha visão para a Universidade. 

— Tente não ficar muito nervosa para que a sua mente não dê um branco. Se isso acontecer, feche os olhos e respire fundo. Vai dar tudo certo. Em breve, estaremos pegando o resultado de sua aprovação. — Ao mesmo tempo que falava, Alex deixava um cafuné na lateral de minha cabeça com uma mão, enquanto mantinha a outra em minha cintura. 

Então, lancei-lhe um sorriso largo e coloquei meus braços em volta do seu pescoço, o abraçando. 

— Obrigada. — Ele me apertou em seus braços e, depois, se afastou para beijar os meus lábios.

— Boa sorte, meu amor. 

[...]

Foram exatas 5 horas de prova, sentada em uma cadeira não muito confortável e lendo várias questões. Portanto, minha cabeça doía, mas eu estava confiante, pois havia conseguido responder facilmente, apesar de não saber todas. Houveram algumas que estavam realmente difíceis, mas eu fiz como Alex havia me aconselhado: fechei os olhos e respirei fundo. Assim, fui me acalmando o suficiente para focar nas questões e respondê-las.

Assim que saí do prédio universitário, Alex estava me esperando, encostado em seu carro preto. Ele estava com roupas normais e era bem raro vê-lo desse jeito, mas eu poderia dizer que ele ficava ainda mais lindo assim, despojado. O inverno havia ido embora, dando início a primavera. 

No caminho, Alex fez uma parada no parque, alegando que eu precisava descansar e esvaziar a mente. Ele estava certo, pois nada melhor que um bom passeio. Era possível ver algumas flores brotarem, assim como as árvores florescerem. Além disso, borboletas voavam de um lado para o outro, deixando tudo ainda mais belo.

— Você tem conversado com sua amiga? — Alex perguntou, quebrando o silêncio.

— Sim. 

— E como ela está? 

— Bem. — Suspirei. 

Umas semanas atrás, Elisa havia me ligado durante a madrugada, desesperada, com uma crise de ansiedade. Foi a pior desde a última vez e eu não sabia o que fazer. Pelo celular era mais difícil, porém fiz o que pude, usando palavras de conforto, enquanto pedia para ela expirar e inspirar, até que ela foi se acalmando. Também fiquei desesperada, mas tentei não demonstrar. Além disso, oramos juntas por chamada, até ela se sentir melhor. 

Depois desse dia, fiquei angustiada, pois há muito tempo, ela não tinha esse tipo de crise. Felizmente, esse episódio já fazia três semanas e até agora, Elisa me parecia bem melhor. Sempre nos falávamos de manhã, de tarde e de noite, e sempre fazíamos uma oração juntas.

— Ela está bem melhor, mas ainda fico em alerta, então peço a Deus para que cuide dela sempre. Eu acredito que aquela recaída não irá mais acontecer. — Ele balançou a cabeça, olhando para frente, enquanto nossas mãos unidas balançavam para frente e para trás.

— Quando ela voltar, quero pedir desculpas pela forma que a tratei. — Sorri, parando em sua frente.

— Mesmo? — Ele afirmou com a cabeça. — Sabe, o Taylor também estava lá naquele dia… — Ele soprou um riso, negando com a cabeça.

— Não vou pedir desculpas para ele.

— Por que não? 

— Porque naquele dia, eu realmente estava com raiva e até hoje, não vou com a cara dele.

— Mas você vai pedir para Elisa, o que custa pedir para o Taylor também?

— Com sua amiga, eu falei aquilo para irritar você, mas ele...

— Por que todo esse ódio por ele, Alex? — Então, ele me puxou pela cintura, fazendo-me colocar as mãos em seu peito pela aproximação de nossos corpos.

— Porque ele a olha da mesma forma que eu a olho.

— Mas naquela época, tínhamos apenas uma relação de patrão e empregada. Além disso, o Taylor é só meu amigo.

— Porém, não é meu. 

[...]

Após entrarmos em casa, Alex subiu para o seu quarto e eu me direcionei para o banheiro do meu. Depois de ligar o chuveiro, tirei minha roupa e entrei debaixo dele, sentindo a água na temperatura ideal descer pelo meu corpo, levando todo meu cansaço. 

Após, desci os degraus da escada, indo em direção a cozinha para voltar ao meu trabalho. Já havia deixado bem claro ao meu chefe-namorado que não sairia dele. Claro que ele tinha aceitado a contragosto, mas ao menos aceitou. Então, parei de andar ao ouvir vozes vindas da cozinha. Ouvir conversa dos outros era errado, eu sabia disso. Portanto, já estava quase voltando, quando ouvi Otávio falar:

— Não estou entendendo, Senhor.

— Estou dando uma folga a você de três meses para que possa ver seu irmão. — Pus a mão na boca, surpresa. — Sei que não será o suficiente para suprir os anos que você passou sem vê-lo por minha culpa. 

— Mas, Senhor… Três meses é demais. 

— Não, não é! Pode ir, e se precisar de mais tempo, pode ficar. Otávio, você sempre esteve comigo desde quando eu vim morar aqui. Mesmo eu sendo o pior patrão de todos, você não foi embora. Eu agradeço por isso, agradeço por não ter ido. Porém, agora, eu quero que vá.

— Obrigado, Senhor. — Então, espiei um pouco e vi que eles se abraçaram. 

Decidi que era melhor sair e voltar depois, porém o talento que eu tinha de bater em algo ou em alguém, não permitiu a minha volta silenciosa. Quase derrubei um vaso que estava perto de mim, encostado na parede. Não caiu, mas fez barulho o suficiente para os dois que estavam abraçados, se separarem e olharem em minha direção. Então, sorri sem graça para eles e saí completamente de trás da parede. 

— Irei ver meu irmão. — Otávio disse, sorrindo. 

— Fico feliz, Otávio. — Alex me puxou pela cintura, abraçando-me de lado. — Quando vai?

— Bom, eu ....

— Pode ir quando quiser, Otávio. Aliás, se quiser comprar a passagem agora… 

— Falando assim, parece até que está me pondo para fora.

— Não mesmo. — Otávio sorriu. Depois, ele se despediu com um "Boa tarde" e saiu. 

Então, fiquei de frente para o meu namorado, com as mãos em seu peito, enquanto ele descansava as suas em minha cintura. Ele beijou meus lábios e sorriu entre o beijo.

— Não sabia que a senhorita ouvia conversas atrás da parede. — Ele falou, brincalhão, fazendo-me crispar os lábios, envergonhada.

Então, levei minha mão até seu rosto e acariciei sua barba que estava sempre bem feita, enquanto dizia: 
— Estou orgulhosa de você.


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