Capítulo 23

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AMÁLIA

Assim que terminei o banho, vesti meu uniforme reserva e voltei para a cozinha para começar a preparar o jantar.  

Pela primeira vez, vi Alex sorrir. Não um sorriso sarcástico ou com más intenções, mas um sorriso real em que mostrava seus dentes e sua verdadeira face, e, isso, apenas por brincar com sua irmã. Então, agora mais do que nunca, eu poderia dizer: Alex não só pode ser bom, como ele já é, apenas esconde isso.

Após algum tempo, Anna apareceu na cozinha com um caderno de desenhos. Enquanto ela desenhava, eu cozinhava e, no meio disso, a gente conversava. 

— Sinto falta dos meus amigos. — Anna falou. - Você sente falta dos seus, Amália? 

—  Sinto. —  Falei, lembrando-me das crianças e das cuidadoras do orfanato, além de Elisa também. 

— Você não deve ter muito tempo para sair com eles, já que trabalha para meu irmão. — Continuei com o que fazia, tentando não me prolongar no assunto e tentando não soltar sem querer que seu querido irmão havia me proibido de sair. 

— O que você está desenhando? 

— Eu, você e o Alex. Nós três brincando hoje. 

Aproximei-me para ver o desenho, que estava muito lindo. Agora, ela coloria o céu com azul claro. No desenho, Alex estava ao meu lado e meu rosto estava claramente vermelho. Então, lembrei-me do momento em que Alex me segurou pela cintura para que eu não caísse. Eu havia ficado vermelha? E a Anna havia visto? Que vergonha! 

Após o jantar, eu estava na cozinha lavando a louça, quando Alex entrou e se sentou em silêncio. Surpresa, eu me virei para ele. 

— Está precisando de algo, Senhor Backer? 

— Você pode ir com sua amiga à igreja. — Ele soltou de uma vez. Arregalei meus olhos, surpresa, e sorri em seguida.  — Apenas me avise sempre que precisar sair. Noah irá com você. 

— Obrigada, Senhor, mas não será necessário. Eu posso pegar um táxi.

— Não, o motorista irá junto! — Suspirei, assentindo.

— Tudo bem, obrigada. —  Logo depois disso, ele saiu.

Após esse episódio estranho, eu liguei para Elisa com o telefone da casa. Ela ficou muito feliz quando contei a novidade.

[...]

No dia seguinte, Noah já me esperava do lado de fora. Assim que ele me viu, abriu a porta. Noah era um senhorzinho, quase como Otávio, porém um pouco mais velho, eu diria. Já com a porta aberta, ele me olhou e sorriu quando me aproximei para entrar. 

—  Bom dia, Senhorita.

—  Amália, por favor, somos colegas de trabalho. —  Ele se desculpou,  assentindo. — E bom dia, Noah. — Ele sorriu novamente. 

Entrei no veículo e ele fechou a porta, entrando logo depois.

— O Senhor Backer me informou que iríamos pegar a sua amiga. Poderia me dizer o endereço? 

Depois que dei o endereço da pensão ao Noah, nós seguimos nosso trajeto em silêncio. Apesar de ser gentil, ele parecia não gostar de falar muito.  

— O Senhor trabalha há muito tempo aqui? — Tentei puxar assunto e ele olhou para mim pelo reflexo do espelho.

— Há alguns anos. Você está se saindo bem. — Olhei confusa para o senhor, que mantinha sua atenção na estrada.

—  Por que diz isso? 

— O patrão parece gostar de você. —  Soltei uma risada. Alex gostar de mim?

—  O jeito dele de gostar das pessoas é estranho. — Ele riu.

— Acredite. —  Ele me olhou. —  Eu sei, porque ele nunca me pediu para levar alguém que não fosse ele mesmo. 

[...]

Durante todo o momento em que estávamos na igreja, Elisa parecia estar um pouco agitada. Ela olhava para tudo e para todos, envergonhada. Então, perguntei se estava tudo bem e ela disse que estava com medo de ser repreendida pelas pessoas. Eu apenas a confortei, dizendo-lhe que ninguém ali iria julgá-la e se, caso houvesse alguém capaz disso, ela não deveria dar importância, já que o importante é o que Deus pensa sobre nós. Assim, ela ficou mais tranquila. 

Em um momento, em que estávamos de olhos fechados em oração, escutei um fungado perto de mim e, quando olhei para o lado, vi que Elisa estava chorando, porém não um choro barulhento, apenas com lágrimas que desciam por seu rosto. Então, sorri e levei minha mão até a sua, a apertando. Elisa abriu os olhos e olhou para mim, sorrindo em meio ao choro.

— Como se sente? — Perguntei, quando já estávamos saindo da igreja. 

— Eu não sei dizer, mas acho que me sinto mais leve. — Ela sorriu. —  Como se aquelas lágrimas pesassem toneladas e, quando as soltasse, tirasse o peso que estava em mim. Há muito tempo não me sentia assim, Amália. —  Ela disse, com os olhos brilhando. — Há muito tempo… —  Sussurrou, abaixando a cabeça. Então, segurei suas mãos e ela a levantou.

—  Deus está te chamando para voltar, Elisa, não importa o que você já fez e, sim, o que irá fazer de agora em diante. Ele só quer seu coração de volta.

— Eu… Não sei como. Eu me distanciei e não sei mais como voltar.

—  Basta abrir seu coração para que Ele possa entrar.

—  Tudo bem. —  Ela disse baixinho. Puxei-a para um abraço, mesmo sabendo que ela não gostava muito. —  Obrigada, obrigada, Amália. — Continuei a abraçando, até que ouvi alguém me chamar. 

Afastei-me de Elisa e olhei para trás, não conseguindo conter a alegria em ver tia Estela ali. Imediatamente, corri até ela, puxando Elisa comigo.

—  Tia! — Abracei-a. —  Estava com saudades.

— Oh, minha menina! É bom ver que está bem. — Ela falou, enquanto afagava minhas costas. — Me diga como está sua vida nessas últimas semanas. Você conseguiu um emprego? — Perguntou, enquanto se afastava.

— Consegui, tia. — Olhei para o lado, lembrando-me de Elisa. — Ah, tia, essa é Elisa, minha… amiga. Elisa, essa é tia Estela, a que cuidou de mim no orfanato. — Elisa sorriu, acenando com a mão. Enquanto a mais velha já ia se aproximando para um abraço, Elisa arregalou os olhos. 

—  Ahn… Tia, a Elisa não gosta muito de abraços. —  Ela me olhou, confusa, parando onde estava.

— Oh, desculpe. 

— Tudo bem. — Elisa respondeu. 

—  Como estão todos, tia? — Perguntei.

—  Ah, estão todos bem, as crianças sentem sua falta.

—  Também sinto. Quando eu puder, irei visitá-las. E como estão as coisas? A Raquel e a Janette? Nossa, tia, que saudades estou delas. 

—  Está tudo bem, filha. Não se preocupe, está bem? — Afirmei. — Por que não vem agora? As crianças iriam ficar muito felizes.

—  Eu não sei, tia. Preciso voltar ao trabalho e...

—  Uns minutinhos não vão te matar, Amália. —  Elisa me interrompeu. —  Eu ia amar conhecê-las também. - Respirei fundo. 

— Tudo bem.

Afinal, meu chefe não iria se importar com uns minutos a mais, não é mesmo?

Finalmente Amália pôde ir com Elisa para a igreja, e cumprir com o prometido.

Espero que tenham gostado ✅❤️

Até o próximo capítulo ❤️

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