Capítulo 31

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ALEX

Estava em meu escritório, quando ouvi leves batidas à porta. Mandei que entrasse, mas novamente a pessoa bateu. Então, levantei-me e fui até a porta para abri-la. Descobri que quem estava atrás dela era Tomy. Ele entrou, correndo, e se escondeu atrás da minha mesa. Logo, respirei fundo, fechando a porta e, depois, indo até ele. 

— O que está fazendo? 

— Estou me escondendo da Anna. 

— Por quê? — Ele abaixou a cabeça. 

— Sem querer, eu quebrei a sua boneca e, agora, estou com medo de que ela brigue comigo. — Suspirei e me sentei no chão, juntando-me a ele. 

— A Anna não vai fazer isso. 

— Tem certeza? — Assenti e ele sorriu.

— Hoje, eu e a Suzy vamos embora. Estou feliz por isso, pois sinto falta da minha casa. 

— Sua casa? 

— É… Minha mãe me disse que o orfanato seria minha nova casa. 

— Você conhece sua mãe? — Ele assentiu.

— Ela me deixou lá há alguns anos. — Ele disse de uma forma tão calma, como se não estivesse falando que sua mãe havia o abandonado. 

— Deve odiá-la. 

— Não. Eu amo a minha mãe. O Senhor acha que ela fez isso por que quis? Mas não foi, nós morávamos na rua. Depois que perdemos nossa casa em uma enchente, minha mãe, para me salvar, havia me deixado em frente ao orfanato. Eu tinha 5 anos. Eu entendo que ela só tinha pensado em mim e, por isso, eu peço ao Papai do Céu todos os dias para que ela esteja bem.

Estava realmente falando com uma criança? Como era possível uma criança de menos de 10 anos pensar de uma forma tão madura? 

Embora Tomy tenha sido obrigado a ficar com pessoas desconhecidas, ele não odiava sua mãe, pelo contrário, ele torcia por ela. O mais interessante é que, com apenas 5 anos, ele havia entendido que aquele ato era para o seu bem. 

Me sentia agora inferior a uma criança. 

— Espero que ela esteja bem, até que eu cresça e eu possa ir atrás dela. — Tomy acrescentou. Então, batidas foram ouvidas na porta e, depois, Anna passou por ela. 

— Ah, você está aí. — Tomy se encolheu. 

— Desculpe pela boneca. 

— Quê? O que houve com a minha boneca? 

— Eu a quebrei sem querer. — Falou o garoto, baixinho. Ela respirou fundo. 

— Não tem problema. Vamos desenhar no meu quarto. 

— O que vamos desenhar? — Ele perguntou, ficando de pé. Então, Anna lançou seu olhar para mim e sorriu de lado. 

Imediatamente, neguei com a cabeça e eu pretendia manter minha decisão. Contudo, ambos começaram a falar repetidas vezes: "Por favor!", e para completar, Suzy havia chegado logo depois e se juntado a eles. 

— Você tem que ficar em um canto, bem parado, para que possamos desenhá-lo. — Anna falou, enquanto arrastava um puff. — Aqui, sente-se, Alex. — Fiz, como minha irmã me pediu, e me sentei. Do nada, Suzy apareceu com uma tiara e eu semicerrei os olhos para ela.

— Você não vai colocar isso em mim.

— Por favorzinho. — Pediu, juntando as mãozinhas. 

Por minha vez, suspirei frustrado e revirei os olhos, abaixando minha cabeça para que a garota a alcançasse e, assim, colocasse a tiara. E se não bastasse, Anna me trouxe também um óculos em formato de estrela. 

Após, eles pegaram cada um, uma folha, e se sentaram no chão, logo rabiscando o papel. Não vou mentir, iria sentir falta deles. Não só eu, como Anna, e todos da casa que se apegaram muito às duas crianças. Eles eram um combo de alegria, e não digo isso porque gosto de crianças e sim, porque eles eram mais elétricos que o normal, e faziam todo mundo sorrir apaixonados por eles.

Hoje, seria o último dia delas aqui, pois o orfanato já estava erguido novamente e pronto para a volta de todos. 

Mexi-me no assento, já cansado de ficar na mesma posição por tanto tempo, e, mais uma vez, ouvi reclamações dos três à minha frente por ter me movido. Para minha sorte, alguém bateu à porta. Era Amália. Ela olhou, sorrindo para as crianças, e depois virou o rosto em minha direção, deixando o sorriso morrer, enquanto me encarava em choque. Logo, retirei rapidamente o óculos. 

— Estão se divertindo? — Falou, tentando segurar o riso. 

— Sim, mas o Alex não para quieto. — Reclamou Tomy.

— O que vocês estão fazendo? 

— Desenhando o tio Alex. — Suzy respondeu a Amália.

— Mesmo? Posso ver? — Amália perguntou e as crianças se aproximaram dela, mostrando os desenhos que até agora eu não tinha visto. Ela olhou para cada um deles com empolgação, eu diria que até mais que as crianças.

— Você viu? — Ela me perguntou e eu neguei com a cabeça, antes de me levantar do banquinho e ir até onde eles estavam. — Ficaram ótimos. — Ela disse, sem tirar os olhos do papel.

Cada desenho era diferente e não digo apenas pelos tons de cores, e sim porque em um eu estava em pé, em outro, sentado, e em outro, encostado em uma árvore. Ou seja, havia ficado na mesma posição, ouvindo reclamações para nada. 

— O meu ficou melhor! — Tomy disse.

— Não, o meu ficou muito mais bonito! — Retrucou Suzy.

— O meu está mais parecido com o meu irmão. — Falou Anna. 

E, assim, iniciou-se uma discussão entre eles para ver qual desenho tinha ficado melhor. Enquanto isso, Amália sorria para o trio, mas ao perceber que eu a encarava, ela ficou séria.

— Todos ficaram lindos. Agora, Suzy e Tomy, vão já para o banho. Enquanto isso, vou arrumar as coisas de vocês. — Eles protestaram e fizeram biquinho, mas mesmo assim foram. Anna também se retirou do quarto e, então, ficamos apenas eu e Amália. 

— Obrigada por tê-los acolhido aqui. — Assenti positivo, com um meio sorriso. Era a décima vez que ela agradecia.

Então, ficamos em silêncio novamente, apenas trocando olhares. Lembrei-me do dia em que ela havia me abraçado em meu escritório. Aquele ato de agradecimento fez eu me sentir estranho. Depois daquele dia, todas as vezes que eu a olhava, eu me sentia estranho e meu coração ficava maluco. Algo em mim despertava e eu já me preocupava com tal sensação. 

— Senhor? — Ela me tirou dos meus devaneios. 

— O que disse? 

— Eu perguntei se o Senhor não quer ir conosco e aproveitar para conhecer o orfanato. Afinal, aquele lugar agora é seu. — Ela falou, enquanto mantinha as mãos atrás do corpo. Já eu, sorri sincero para ela. 

— Sim, eu levo vocês. — Ela me devolveu o sorriso. 

Por fim, passei as mãos no cabelo, dando-me conta de que ainda estava com a tiara de orelhinhas. Então, tirei-a rapidamente e a joguei sobre o puff, observando Amália soltar uma risada sútil.





Espero que tenham gostado ✅❤️

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