Capitulo 2

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ALEX

Bufei em desagrado, olhando a comida no meu prato. O cheiro estava péssimo e parecia que estava queimado, não precisava nem experimentar para saber que estaria horrível. Fitei a mulher em minha frente e ela riu sem jeito, fazendo algumas rugas aparecerem em seu rosto. 

— Não aguento mais comer esse lixo que você faz. Como faxineira, até que é eficiente, mas na cozinha é um desastre! — Levantei-me da mesa e peguei meu celular, saindo em seguida para uma reunião de emergência com alguns sócios da empresa do meu pai.

Por sorte, foi marcada em um restaurante perto da empresa. Apesar de preferir fazer reunião em uma sala própria, reunir-nos, enquanto almoçávamos, não era má ideia. 

Quando entramos no restaurante, uma moça logo veio nos atender. Os rapazes ao meu lado faltavam se arrastar no chão por ela. 

Olhei o local e meus olhos se prenderam em uma menina que estava em uma mesa à frente. Em seu rosto, tinha uma cicatriz na bochecha. Ela o levantou e nossos olhos se encontraram. Nesse momento, senti como se ela pudesse enxergar minha alma através daquele olhar, então, desconfortável, desviei para a garçonete que estava ao meu lado, ela não parava de se oferecer. Sorrio pelo desespero dela em querer abrir as pernas para um de nós. Idiota. 

Olhei novamente para a menina e ela estava devorando o prato. Há quantos dias estava sem comer? Que horror! Parecia esfomeada.

Acabamos a reunião e resolvemos ir embora. Enquanto tomava um Capuccino, dirigia-me ao balcão, porém vi que a menina, que andava calmamente em minha direção, estava distraída, com a cabeça baixa, puxando uma mala. 

Tenho a impressão de que ela é nova na cidade.

Deixei que ela viesse em minha direção. Então, esbarrou em mim, fazendo meu café ir pelos ares. Ela logo se afastou, olhando-me assustada. Observei seus olhos descerem para a mancha de café no meu terno, mas não me importei, pois poderia comprar vários desses. Não que precisasse, já que tenho muitos.

— Olhe para onde anda, sua imbecil! — Falei.

—  Me desculpe, mas eu estava com a cabeça baixa, se você não percebeu. Então, você quem deveria ter mais atenção, já que não vi que vinha na mesma direção.

Que petulância!

—  Olhe o jeito como você fala comigo. Você sabe quem eu sou? —  Esbravejei, irritado. 

—  Não, não sei. Mas vejo que é alguém importante, porém que não tem muita paciência. — Essa menina realmente não sabe com quem fala. — Peço desculpas novamente. Eu, com certeza, não posso pagar por um terno como esse.

— Não mesmo, sua imbecil!

—  Senhor, peço que me respeite. Não sabe quem sou para falar isso. —  Sorrio, sarcástico. Ela quer respeito? Uma menina que mais parecia passar fome, magricela, sem educação... não merece o meu respeito.

— Para mim, você não é ninguém!

— Para mim, o Senhor não é ninguém também, mas nem por isso eu te xinguei.

A sombra do sorriso, que tinha em meu rosto, sumiu com sua fala. Eu sinceramente não tinha o que responder. Como ousa?!

— Com licença, eu preciso ir. Me desculpe mais uma vez. Tenha um bom dia, Senhor. —  Dito isso, ela saiu, carregando sua mala com dificuldades. Os homens, que estavam comigo, se aproximaram, soltando risos. 

—  Calem a boca, seus idiotas, ou desfaço agora o contrato que assinei! — Falo, autoritário, e eles logo se calam, pedindo desculpas.

[...]

Olhei o relógio, faltavam algumas horas para finalmente poder ir embora. Por mais que eu gostasse e até preferisse estar na empresa, hoje eu passei por um momento estressante, então só queria sair para algum lugar ou simplesmente ir para casa. Aquela garota conseguiu me tirar do sério.

De repente, o meu celular toca e atendo à ligação de Otávio.

—  Fala, Otávio!

—  Senhor, tem muitas moças para o cargo de cozinheira. —  Ele pausou, talvez esperando que eu falasse algo, mas mantenho-me calado, esperando-o continuar. —  Bom, o Senhor vai querer entrevistá-las ou...

—  Você pode fazer isso! —  Falei e finalizei a ligação.

Quando ia guardar meu celular, ele tocou novamente, então olho e vejo o nome do meu pai brilhando na tela. Bufei, revirando os olhos.

—  Oi, pai.

—  Não é o papai, Alex... —  Instantaneamente, todo estresse que tinha em mim foi substituído por alegria e saudade.

—  Oi, maninha, como você está?

—  Eu tô bem, mas... —  Ela pausa e escuto um suspiro do outro lado. —  Estou com saudades.

Meu coração aperta. Eu também estava com muitas saudades. Minha família inteira estava no Brasil e eles sempre iam me visitar, mas fazia um tempo que não vinham. 

—  Eu também estou, princesa. Cadê o papai? 

—  Ele saiu com a mamãe.

—  E por que você está com o celular dele?

—  Estava na mesinha do quarto dele. Eu acho que ele esqueceu.

—  Entendi, por que não ligou do seu?

—  O meu descarregou e eu queria muito falar com você. Então, eu vi o do papai. —  Ela solta uma risadinha.

—  Certo. —  A secretária apareceu na minha sala. Ao ver que eu estava em meu celular, ela parou e ficou esperando. —  Anna, eu preciso desligar, tudo bem?

—  Uhum… — Ela murmurou, tristinha. — Eu te amo.

Ela sempre me fala isso. Eu não acredito nessa palavra. Não acredito em palavras. Mesmo com minha família sempre demonstrando o amor que sentem um pelo outro, essa palavra não sai da minha boca, não mais.  

O amor... uma coisa tosca de se sentir. O amor destrói, machuca. O amor é uma mentira.

—  Eu sei. —  Falo simples e desligo. Respiro  fundo e olho para a moça que estava à minha frente. —  Você… — Aponto para ela. — Não sabe bater? — Ela ia responder, mas estico a mão para continuar calada. — Não sabia que a Senhorita tinha passe livre para entrar assim em minha sala. —  Encosto-me na cadeira. — O que você quer?

Ela fica um tempo sem reação, apenas me observando com os olhos arregalados, o medo evidente em seu rosto. Ela engole em seco e, a passos lentos, se aproxima.

—  Eu… Ahn… Trouxe uns papéis dos fornecedores para o Senhor assinar. — Ela deixa os papéis na mesa.

— Mais alguma coisa? — Ela nega.

— Não, Senhor.

— Então, o que está esperando aí? Saia! — Ela se assusta e se vira rápido para a saída. —  Samantha? —  Chamo e ela se vira para mim. — Para o seu bem, que isso não se repita.

Ela assentiu, engolindo em seco. 

—  Sim, Senhor. Desculpe. —  Pude ver em seus olhos que queria chorar. 

Quando ela bateu a porta, soltei um sorriso de satisfação. Gosto de ter as pessoas com medo de mim, pois só assim para ter o respeito que mereço. 

Estão gostando?

Obrigada por ler ❤✔

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