Capítulo 57

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ALEX

Podia ter simplesmente dito um não e continuado a assistir ao filme com Amália, mas eu precisava pôr um ponto final em tudo que envolvia o meu passado, e o primeiro ponto seria com a Kate. Então, não podia negar seu pedido, após sua promessa de me deixar em paz de uma vez por todas.

Quando entrei no restaurante, onde Kate tinha marcado para nos encontrarmos, vi que ela estava sentada, enquanto fitava a taça de vinho em sua mão. 

— Obrigada por ter vindo. — Ela falou quando me aproximei dela. Então, sentei-me à sua frente. 

— Vá logo ao ponto, Kate. — Ela respirou fundo, bebendo um gole de sua bebida. 

— Por muito tempo, havia implorado pelo seu amor, Alex. — Ela riu fracamente. — Eu pensava que te amava, mas na verdade, eu só não aceitava o fato de que você não me queria mais. Eu vi como você olhava para sua empregada naquele dia do seu aniversário. — Ela riu novamente sem humor. — Estava nítido os sentimentos de ambos. Eu não conseguia imaginar que você estaria gostando de outra. Contudo, nos últimos dias, eu entendi que nada que eu fizesse poderia trazer você para mim novamente. Na verdade, você nunca tinha sido meu. Peço desculpas. — Kate respirou fundo. — Deixe-me saber uma coisa antes de ir, Alex. Em algum momento, você já havia sentido algo por mim? 

Então, fitei-a por alguns segundos, analisando sua pergunta. Desejo. Foi a única coisa que um dia havia sentido por ela, mas sabia que se referia a um sentimento mais profundo e intenso. 

— Não. — Ela assentiu e riu amargamente.

— Desejo que seja feliz, Alex, de verdade. — Ela falou, ficando de pé e pegando sua mala.

Depois que Kate saiu, fiquei digerindo tudo o que tinha acabado de acontecer. Essa parte do meu passado havia chegado ao fim. 

Após, suspirei, olhando a hora em meu celular. Era mais de meia noite. Do dia 20 de março. 

Por semanas, havia tentado esquecer que esse dia estava chegando e admito que quando estava junto a Amália, esquecia totalmente essa data, mas longe dela, tudo sempre voltava: os pensamentos, a dor, a angústia, tudo. Amália era minha terapia, meu remédio. É ela quem dá sentido a minha vida. Tudo o que eu queria agora era estar com ela, em seus pequenos braços. 

Esse dia é o dia que sempre desejei que nunca tivesse acontecido, que nunca se repetisse. E mesmo depois de 14 anos, não fui capaz de superar. Passar por esse dia era relembrar a dor que senti quando ela partiu. Eu nunca fui capaz de passar por esse dia em casa, pois como o tolo que sou, prefiro me manter longe de todos para que não vejam minha fraqueza. Então, eu perambulava pelos lugares ou, simplesmente, ia a algum bar para beber e chorar a fim de amenizar a tormenta que eram essas 24 horas. Mas hoje, senti um desejo diferente. Desejei ver o mar, a praia e mergulhar. Então, simplesmente, dirigi-me até lá. 

Assim que cheguei, fui logo tirando os sapatos. Depois, sentei-me próximo à margem, onde as ondas batiam em meus pés e voltavam. Pela primeira vez, em anos, eu não sentia vontade de chorar.

— Quando eu era criança, eu costumava falar com Você... Mas houve um tempo que não o ouvi mais. Por isso, achei que tivesse me abandonado. Aquele momento, quem mais precisou de Você não obteve respostas. Portanto, foi um dos momentos em que mais me senti frustrado. Ana me falava tão bem de Você e eu acreditava facilmente, mas depois de sua morte, eu me esqueci, esqueci quem era Você. — Suspirei, sentindo a leve brisa fria em minha pele. 

— Então, depois, veio Amália que, no primeiro momento, achei ser a reencarnação de Ana. Elas eram iguais, tanto no jeito de ser quanto no amor por Ti. Os olhares de ambas eram intensos. É Amália quem está, pouco a pouco, me fazendo lembrar de Ti. — Pausei. — Foi Ana minha primeira ponte até Você e Amália, a minha segunda. Minha primeira ponte se rompeu e eu caí, mas a minha segunda está firme e, quando ameaçou romper, o Senhor não permitiu. Será essa a segunda recuperação? Quando eu pedi, o Senhor me atendeu e a salvou. Acho que foi naquele momento que eu nasci novamente, com os mesmos erros, mas com o pensamento diferente. Talvez, naquele dia, eu tenha acordado junto com Amália. Eu acredito que Ana esteja melhor agora. E… Eu queria apenas pedir para que me perdoasse e me aceitasse novamente. — Então, fechei os olhos, ficando em silêncio e apenas ouvindo o barulho da água e dos pássaros. Portanto, senti-me em paz. 

Quando o sol voltava a surgir no céu, uma parte de mim queria voltar para casa, mas a outra queria ficar mais um tempo por aqui. Era a primeira vez em 14 anos que não tinha chorado ou me culpado. De certa forma, tudo que Amália havia me falado contribuiu para que isso não acontecesse.

Um tempo depois, passei em uma loja qualquer e comprei roupas e sapatos, já que estava com as mesmas de ontem. Depois, fui a um hotel e tomei um banho. Depois de comer, descansei um pouco.

[...]

Quando acordei, peguei meu celular, que estava desligado. Assim que o liguei, encontrei várias ligações perdidas dos meus pais e de Amália. Portanto, repreendi-me por apenas fazê-la se preocupar, pois meus pais já sabiam e estavam acostumados com essa data, porém Amália não fazia ideia. Então, retornei a ligação dela o mais rápido possível e, em questão de segundos, ela me atendeu.

— Alex...

— Oi, amor. Você poderia me encontrar naquela praia, onde estivemos no outro dia? Peça ao Charles que leve você. — Antes de ouvir sua resposta, desliguei a chamada. Depois, passei em um supermercado, onde comprei tudo que era preciso para um belo piquenique. 

Era um pouco mais das quatro da tarde, um ótimo horário para ver o pôr do sol. De volta à praia, estendi na areia a toalha, que também havia comprado, e preparei as comidas. Assim que fiquei de pé, fui surpreendido por um pequeno corpo sendo jogado nos meus braços, era ela. O meu amor. 

— Como você está? — A preocupação era evidente em sua voz. 

— Estou bem. — Ela se afastou e sorriu em um suspiro aliviado, mas logo enrugou a testa.

— Da próxima vez que for sumir assim, Alex, me avise. Você não sabe o quanto fiquei preocupada. — Não consegui conter o sorriso com a sua cara emburrada, que a fazia ficar ainda mais fofa. 

Depois, pousei minhas mãos, uma em cada lado do seu rosto, e apertei suas bochechas, fazendo seu bico crescer ainda mais. 

— Já disse que você é incrível hoje?

— Você não me disse muitas coisas hoje. — Sua voz estava engraçada por eu ainda estar apertando suas bochechas. Então, dei nela uma bitoquinha e as soltei.

— Pois, você é incrível e eu gosto muito de você. — Dei um outro selinho. Depois, ela me olhou nos olhos, ficando séria. 

— Sua mãe me falou sobre o dia de hoje. — Respirei fundo.  

— Está tudo bem. 

— Tem certeza? 

— Sim, não se preocupe. 

— Tarde demais para me pedir isso, não acha, Sr. Backer? — Ela arqueou uma sobrancelha e eu sorri, puxando-a para um abraço.

— Eu sei. Desculpe-me por ter saído ontem no meio do filme, além de não ter aparecido hoje e não ter te avisado. — Então, ela suspirou, afastando-se. 

— Por que saiu ontem? 

— Nada de importante, meu amor. Não se preocupe. — Ela assentiu com a cabeça. Depois, segurei sua mão e vi que havia um curativo em seu dedo. — O que aconteceu? — Ela olhou para ele. 

— Me distraí, enquanto me perguntava por onde você andava. — Depois de ouvir suas palavras e de ver seu rosto cabisbaixo, eu me odiei completamente. 

— Eu sinto muito, meu amor. Me perdoe. — Beijei seu dedo, onde estava o curativo. 

— Tudo bem, apenas não faça mais isso. — Assenti, ainda me sentindo um lixo. — Você preparou tudo isso para nós? — Questionou, olhando para as coisas do piquenique. 

— Sim, vamos assistir ao pôr do sol. — Ela sorriu animadamente e se sentou sobre a toalha.

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