Capítulo 6

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AMÁLIA

Passei a mão no meu rosto a fim de tirar o suor que escorria e descansei um pouco sobre o cabo do esfregão. Já tem alguns dias que estou aqui. Ainda continuo na pensão, pois o tal hóspede ainda não voltou. Além disso, o encontro de ontem com aquele homem novamente me deixou intrigada. Ele é arrogante, mas tinha algo nele que… Não sei, era difícil decifrá-lo. 

Observo duas mulheres entrarem no banheiro. Elas começam a se olhar no espelho e a retocar a maquiagem, enquanto conversavam entre si. Assim que me olham de lado, elas pegam o batom vermelho e começam a passar no espelho, manchando-o todo. Então, paro de esfregar o chão e me aproximo delas. Elas me olham, fazendo pouco caso.

— Oh, me desculpe! Sujou um pouco ali. —  Uma delas fala, fingindo estar arrependida. Então, começa a rir com a outra.

—  Não entendi. —  Falo, passando por elas, e me olho no espelho manchado. —  Como pode existir pessoas tão vazias? — Viro para as duas, que me olhavam franzindo as sobrancelhas.  — Vocês acham que me afetaram com isso aqui? — Aponto para o espelho atrás de mim. — Pois estão enganadas, porque o que vocês fizeram simplesmente me deu pena. Vocês acham que são melhores só porque eu limpo o chão pelo qual vocês pisam? —  Sorrio. — Isso é tão banal.

—  Olhe aqui, sua faxineirazinha! Em um estalar de dedos, eu faço o dono disso aqui por você no olho da rua.

—  Você não é a primeira a me fazer essa promessa. Pois bem, pode ir. —  Ela sorri e, enquanto saía, o gerente entra no banheiro. Ele olha para o espelho e,  depois, para nós, respirando fundo.

Eu não sou tão ingênua, conheço a realidade da civilização, mas ainda era um desafio encarar o mundo fora das paredes do orfanato. No outro dia, uma das hóspedes da pensão foi super grossa com a dona Camélia por um motivo banal. Depois de xingar a mais velha e jurar nunca mais pôr os pés novamente no local, saiu batendo a porta com força, quase a quebrando. Foi horrível assistir o surto da mulher. E tudo isso porque Camélia anunciou que, a partir daquele dia, a água do chuveiro sairia gelada. As pessoas se escandalizam por coisas tão bobas, mas não reagem com incredulidade diante da realidade de outras pessoas que não têm metade daquilo que reclamam. 

—  Amália, o Sr. Campello quer falar com você. —  Olho para as meninas, que tinham um sorrisinho no rosto, e volto meu olhar para o gerente em minha frente, afirmando. Ele sai e eu o sigo. 

Quando entramos no escritório do meu chefe, ele desliga a ligação em que estava e me olha.

—  Você pode sair. —  Ele fala para o gerente, que assente e sai. —  Como vai, Amália? 

—  Bem, Sr. Campello.

—  Pode me chamar de Andrew. —  Sorrio fraco. —  Eu recebi uma reclamação de um grande amigo meu. Você gritou com ele e ainda derramou água da privada?

— Senhor… Quer dizer, Andrew… Eu não fui culpada! Veja bem, foi um acidente! O Senhor não pode me demitir. Por favor, eu preciso desse emprego. —  Ele me olha, hesitante, e respira fundo. Por um momento, eu achei que ele iria repensar, mas...

—  Eu sinto muito. —  Arfo. —  Você pode vir no final do dia para acertarmos o pagamento pelos dias em que trabalhou e assinar a sua demissão. —  Ele sorri mínimo. — Você deve ter passado por muita coisa, Amália, mas isso só a fez forte. Você não abaixa a cabeça, isso é bom, muito bom. Mas às vezes, é preciso. —  Seus olhos tinham um brilho diferente. Era como se ele soubesse tudo em minha vida.

Imediatamente, lembro-me de suas palavras no dia que cheguei aqui "Será um prazer ter você como funcionária, mesmo que seja por pouco tempo". Quem é ele? Parecia que ele sabia que isso ia acontecer. Por que agora, olhando-o bem, me parecia tão familiar?

—  C-como… Como você… Quem é você? —  Pergunto totalmente afetada com o jeito que ele me olhava.

—  Oras, eu sou Andrew Campello, dono desse belo restaurante. —  Ele se afasta, sorrindo.

—  E como você… 

—  Não se preocupe, você irá encontrar outro emprego. —  Ele me interrompe. — Você pode continuar o seu trabalho. Limpe o espelho do banheiro e, no final da tarde, venha acertar o pagamento. —  Fico olhando para ele, que tinha um sorriso amigável. —  Pode ir, Amália. E não tenha medo!

Lentamente, dou as costas a ele e passo pela porta. O que eu faria agora? E por que ele era tão… misterioso? Caminho até o espelho e passo um pano molhado, limpando o batom. Olho meu reflexo e respiro fundo.

—  Meu Deus, eu sei que o que o Senhor tem para mim é bem maior. Eu confio no Senhor que me deu a vida. Eu não tenho medo, pois comigo o Senhor está!








Oi gente....Obrigada por estar comigo em mais um capítulo ✔❤

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