Capítulo 34

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ALEX

Olhei para trás do balcão, onde Amália sempre costumava estar. Contudo, no momento, a cozinha estava vazia e veio em minha mente sua imagem sorridente, como se estivesse realmente atrás do balcão, e, sem perceber, um sorriso havia se formado em meus lábios. 

Lembrei-me de todas as burradas que já fiz com Amália. Agora, me sentia um completo imbecil. Sempre descontava minhas frustrações em meus empregados, mas nunca havia me arrependido. Então, por que com Amália era diferente? Por que Amália era diferente? 

Sentei-me no banco do balcão, lembrando-me do dia em que ela me ofereceu um pedaço de bolo.

— Senhor, o que faz aqui? — Olhei para trás, vendo Otávio com a testa franzida. Por minha vez, sorri pequeno.

— Sente-se aqui. — Apontei para o outro banco ao meu lado e ele me olhou, desconfiado. — Vamos, Otávio, não me deixe mandar outra vez! — Disse, sério, e ele fez o que pedi. Então, ficamos em silêncio, apenas ouvindo a respiração calma um do outro. — Otávio?

— Sim?

— Como descobrir se o que você sente por uma pessoa é amor? — Ele me olhou com os olhos arregalados e se mexeu no assento. — De forma romântica, claro. 

- Eu… É… Não sei bem, mas sentimos quando acontece. Amor é a necessidade de ter a pessoa por perto. — Ele riu. — Desculpe, Senhor, eu não sei explicar, porque o amor...

— É inexplicável. — Alguém o interrompeu. 

Então, meus olhos se cruzaram com os de Amália, e foi como se tudo tivesse parado. O brilho dos seus olhos havia penetrado nos meus, e era intenso e sem igual. Não dava para explicar. 

— O que houve com seu braço? — Meus olhos desceram para ele, o qual estava sangrando. Amália apenas o olhou e, depois, para nós, sorrindo.

— Não foi nada. — Otávio, que eu nem havia percebido que tinha saído, entrou na cozinha com uma maleta de primeiros socorros. 

— Deixe-me me fazer um curativo. 

— Eu faço. — Falei. Então, peguei a maleta das mãos do mais velho e ele me olhou de forma surpresa, assim como Amália. 

Ela protestou, mas mesmo assim segurei sua mão e a puxei para que ela se sentasse em um dos bancos do balcão. Após, sentei-me em sua frente e abri a maleta. Em seguida, segurei seu braço, avaliando o corte mais de perto. 

— O que aconteceu? 

— Eu caí do balanço. — Ela estava com vergonha. 

Encarei seu rosto e, mais uma vez, o arrependimento bateu, fazendo meu coração doer pelas atrocidades que havia cometido com ela. Mas eu não podia voltar ao passado para mudar e fazer diferente.

Respirei fundo, pegando um algodão com álcool para limpar o machucado. Ela puxou o ar pelos dentes e fez cara de dor quando pressionei o local machucado.

— Desculpe.

— Não, tudo bem, nem doeu tanto.

— Não só por isso. Desculpe-me por tudo que fiz a você. Eu sei que não é o suficiente e eu entendo que talvez você não me perdoe. Eu não a culpo, está no seu direito, mas...

— Tudo bem, Senhor. — Ela falou, sorrindo.

— Não está tudo bem. Eu fiz muito mal a você.

— Você se arrepende? — Ela perguntou e eu assenti. — Então, sim, está tudo bem. Não se preocupe com o passado se realmente quiser mudar o futuro. — Suspirei, olhando em seus olhos. Como ela podia ser tão maravilhosa? Como não havia percebido antes?

— Como pode me perdoar com tanta facilidade? Não seria mais fácil me odiar? 

— Por que eu o odiaria? Eu nunca me senti mal com o que o Senhor fez. Claro que eu achava muito errado a forma como me tratava e aos outros também, mas eu nunca cheguei a odiá-lo. 

— Eu, com minha própria mágoa, magoei muitas pessoas. 

— Todo dia, a cada segundo, é tempo de recomeçar. Se cometer um erro agora, a partir do segundo seguinte, é tempo de recomeçar de uma forma diferente, basta querer. — Continuei fitando seus olhos, digerindo o que ela havia acabado de falar. Eu realmente podia recomeçar? 

Continuei com o procedimento, totalmente perdido em meus pensamentos. Só por ela ter me perdoado tão facilmente, fez-me perceber o quão pequeno e insignificante eu era perto dela. E agora, mais do que nunca, eu poderia dizer que eu realmente não era ninguém, não perto de Amália. Mas ela não me odiava e isso era motivo para fazer diferente. 

— Obrigada, Senhor.

— Me chame de Alex. 

— Hã?

— Me chame pelo meu nome. — Ela ficou em silêncio por um tempinho e voltou a falar:

— O Senhor é meu chefe. 

— Então, faça assim: quando estivermos a sós, me chame de Alex ou de 'você'. — Ela assentiu, incerta. 

— Se o Senh… Você deseja assim, eu farei. — Ela sorriu de forma genuína. 

Por fim, guardei as coisas dentro da maleta após finalizar o curativo, e a fechei. 

Então, uma dúvida surgiu em minha mente. Algo que eu queria perguntar a ela há um tempo, mas não tive coragem, justamente porque ela uma vez me fez uma pergunta parecida, mas eu neguei de forma rude. Mas Amália era diferente de mim. 

— O que aconteceu com seus pais? — Amália olhou para mim e respirou fundo antes de me responder.

— Eles morreram. Minha mãe morreu no parto e meu pai, em um acidente de carro quando eu tinha 4 anos. Eu estava no carro com ele. Um outro veículo bateu em um cruzamento bem no lado do motorista. Eu só tive arranhões e o mais grave foi esse aqui na bochecha, porque haviam ficado cacos de vidro presos. Então, foi preciso fazer cirurgia para retirar.

— Por que nenhum parente cuidou de você? — Ela deu de ombros.

— Pelo que eu soube, a família dos meus pais não aceitava o casamento entre eles. Então, é claro que eles não cuidariam do fruto dele.

Olhei para aquela menina à minha frente. Quantas perdas ela enfrentou, mesmo assim não tirou o sorriso do rosto. Seria uma forma de esconder sua dor ou ela realmente tinha superado? 

— Como? — Murmurei, confuso.

— Hã? 

— Como consegue sorrir depois de tudo que aconteceu com você? Você era uma criança! — Ela juntou as sobrancelhas, pensativa, e depois sorriu de novo. 

— Por que não sorriria? Afinal, eu estou aqui, não é mesmo?

— Sim, mas você não tem ninguém! 

— Quem disse que não tenho ninguém? Eu tenho a Deus e a várias outras pessoas, que são muito importantes para mim. Aliás, eu não perdi meus pais. É verdade que eu não posso mais abraçá-los? Sim! Porém, eu sinto eles aqui. — Ela pôs a mão sobre o coração. — E até mesmo a minha mãe, que só estive com ela enquanto ainda estava em seu ventre.

— Como consegue ser feliz? — Sussurrei.

— Por que não haveria de ser se eu estou viva? Eu sobrevivi ao acidente. Deus me permitiu viver, ele me deu uma nova chance. Como eu haveria de me fechar para a vida que Deus me proporcionou? 

— Como você pode pensar assim? 

— Eu sou grata pelo que tenho. Pode não ser muito para você, mas para mim é tudo.







Wow mais um capítulo 🤗❤️

Espero de coração que tenham gostado ✅❤️

Até a próxima atualização ❤️😃

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