Capítulo 52

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ALEX

Não imaginei que pudesse me sentir melhor após falar de Ana com Amália. A verdade é que nunca pensei em tocar no assunto com ela, mas estava tão feliz por ter meus sentimentos correspondidos que simplesmente desejei dividir tudo.

Entrei em meu quarto e meus olhos se prenderam em uma Bíblia que estava em minha cama. Assim que cheguei em casa, após meu passeio com Amália, procurei por essa Bíblia, que quando criança havia implorado para minha mãe comprar. Ela estava dentro de uma caixa embaixo do closet junto com fotos e cartas de Ana. Eu nunca havia tido coragem para abrir essa caixa, até ontem. Era muito difícil ver as fotos e lembrar aqueles momentos que se passaram.

Por fim, respirei, aproximando-me da cama, e estiquei meu braço para alcançar a Bíblia. Então, deslizei minha mão pela capa do livro e, depois, abri lentamente em uma página aleatória. 

"Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima.

Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou." 

Apocalipse 21:4.

Li uma parte que estava marcada por um marcador de texto verde. Após, suspirei e continuei com a outra parte:

"Aquele que estava assentado no trono disse:

'Estou fazendo novas todas as coisas!' E acrescentou: 'Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e dignas de confiança'." 

Apocalipse 21:5.

Engoli em seco, passando para outras páginas:

"Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele." 

1 João 4:16.

Minha respiração estava falha, portanto sentei-me na ponta da cama. Eu conhecia esse amor, mas… Será que ainda o conheço? Continuei passando as folhas:

"Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso senhor." 

Romanos 8:38-39.

Por fim, fechei a Bíblia e levei minhas mãos ao meu rosto. Por que Deus permitiu que eu caísse? Por que me deixou tornar o homem asqueroso que sou hoje? Por que não me ajudou a evitar tudo isso? 

— Por que Deus? — Sussurrei. — Por quê?

[...] 

Meus pensamentos sempre voltavam para Amália, mas eu não estava reclamando. Eu me sentia um adolescente apaixonado, toda vez que sorria para mim mesmo, a cada vez que ela me olhava com aqueles olhos cheios de vida, de sonhos. 

Apesar da forma que eu a trouxe para trabalhar para mim, não me arrependo, digo isso pelo fato de tê-la conhecido melhor. Só me arrependi de tê-la tratado mal. 

Uma parte de mim sempre falava que ela merecia alguém muito melhor e que eu deveria parar de investir nela, mas a outra parte, que é justo a que dou ouvidos, é muito egoísta e talvez mimada demais para deixá-la. Eu quero ela para mim. Quero seu amor, quero todos seus sorrisos direcionados a mim, só para mim. 

Pretendia tê-la pedido em namoro, mas o passeio que havia planejado tinha tomado outro rumo. 

Olhei para o relógio e vi que eram quase 10 horas da noite. Não era tão tarde, mas eu precisava acordar cedo no dia seguinte, então deixei tudo organizado e saí do escritório. Ultimamente, venho trabalhando mais dias em casa do que na empresa por querer ficar mais perto de Amália, mesmo ela estando na cozinha e eu no escritório. Meu coração sempre enchia quando ela aparecia com uma bandeja de comida. 

Após sair do banheiro, depois de um longo banho, a hora no relógio não parava de correr enquanto eu tentava dormir. Rolava na cama, mas não conseguia pegar no sono. Portanto, acendi a luz e vi que já era meia noite e onze. Então, tirei o cobertor e saí da cama. 

Estava frio lá fora, mas graças ao aquecedor, aqui dentro estava quente, contudo não podia esbanjar, pois ainda tinha que me agasalhar de certa forma. Portanto, eu coloquei um conjunto de moletom bastante quente, que já era o suficiente para mim. 

Após, andei pelo corredor a fim de ir para a cozinha, mas parei em frente à porta da biblioteca, quando vi por debaixo dela a luz acesa.

Então, girei a maçaneta, abrindo a porta lentamente, e fitei Amália, surpreso. Ela estava concentrada, escrevendo em um caderno, enquanto estava rodeada de livros abertos. Portanto, entrei sem fazer barulho e me aproximei.

— Não acha que está muito tarde para ainda estar acordada? — Ela olhou para mim.

— Alex… Achei que já estivesse dormindo. — Sentei-me no chão ao seu lado.

— Era o que eu pretendia, mas a insônia não me permitiu. — Falei, sorrindo.

— Posso fazer um chá para você, talvez o ajude. — Ela tentou se levantar, mas eu a impedi.

— Não será necessário. Pode continuar com os estudos, só quero ficar aqui com você. — Então, ela relaxou o corpo e voltou a olhar para os livros. 

Após algum tempo, retornei a dizer:

— O que acha de almoçarmos em um restaurante amanhã? — Ela parou e me olhou, com a ponta do lápis preso entre seus lábios. 

— Restaurante? — Assenti. — Tudo bem...

Após, permaneci fitando seu rosto. Seus olhos eram o toque de luz que faltava em minha vida, e sempre que ela me olhava, sentia que eu poderia ser melhor. Além disso, seu sorriso era precioso, diferente e singular. Aliás, tudo em Amália era singular.  

Mexi-me, deitando a cabeça sobre sua perna. Então, Amália me encarou e suspirou. Por minha vez, devolvi o olhar, sorrindo, e fechei os olhos. Não sei exatamente em qual momento, mas o sono finalmente apareceu e eu dormi.

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