De noite deitada em sua cama, naquele grande quarto cheio de meninas que perdiam a esperança a cada dia que se passava. A pequena órfã vira-se para ver sua irmã na cama improvisada ao lado.
- Irmã? Ei, irmã. Dormiu? - Susurra esperançosa.
- Estou acordada.
As duas ficam em silêncio por um tempo. Podiam ouvir o vento frio soprando na janela do lado de fora das paredes geladas do orfanato. Todas as dúzias de meninas que ali estavam, dormiam profundamente. Deveriam fazer o mesmo ou amanheceriam exaustas no desjejum matinal. Mas a pequena não iria conseguir dormir sem antes saciar sua dúvida. Virando-se para encarar o teto assim como sua irmã fazia, ela pergunta por fim:
- A mamãe. Como era? - Ouve-se um suspiro vindo da cama ao lado, a menina fecha os olhos tristemente o escutando - Desculpa.
- Lhe contei como era nossa mãe duas noites atrás está lembrada? Descrevi inclusive nosso pai. Por que pergunta novamente? - Ela coloca o braço sob os olhos cansados.
- Sonhar com eles, é o que desejo - Confessa puxando seu cobertor até os ombros, descobrindo assim seus pés - Posso imaginar e sonhar.
A jovem suspira novamente, mas dessa vez com um sorriso pequeno em seus lábios. Tirando por fim o braço sob seus olhos, ela se vira para ver sua irmã mais nova.
- Não me lembro muito deles também pequena, a cada dia que se passa a imagem deles vão sumindo da minha mente. Ficam apenas traços seus que não gostaria de lembrar. Mas posso lhe contar o que resta nela, esta bem?
A pequena sorri se virando de lado, as duas se encarando por fim. Os olhos verdes da mais nova brilhavam com a luz da lua que entrava pela janela, fazendo sua irmã sorrir.
- Seus olhos são como os dela - Murmura a fazendo sorrir ainda mais - Ela tinha olhos verdes brilhantes como os seus, não nesse tom de amêndoa como os olhos de nosso pai. Tinha um narizinho arredondado igualzinho ao seu - Tocou na ponta de seu nariz ao dizer isso.
"Sua boca era pequena e fina, mal parecia ter lábios. Mas quando estava feliz cantava pela casa e mostrava do que ela era capaz. Sua voz era encantadora. Papai lhe dizia isso as vezes. Nosso pai, ele era alto e tinha o cabelo castanho como o nosso, diferente de nossa mãe que era loira"
A pequena menina ouvia cada palavra que sai da boca de sua irmã mais velha com atenção e carinho. Em alguns momentos chegava a fechar os olhos e idealizar tudo o que lhe contava, tentando imaginar como era os dois.
"Ele era ferreiro se eu não me engana. Não passava muito tempo em casa e na maioria das vezes quando voltava...enfim, quando estava de bom humor e não havia se metido em encrenca, tirava nossa mãe para dançar. Um traço em seu rosto eu não consigo esquecer, ele tinha uma pequena covinha no queixo. Sempre achei estranho mas ela gostava de alguma maneira"
As duas riem baixinho até ficarem em silêncio novamente.
- Obrigada - Olhando para sua irmã vê que está com os olhos fechados, quase caindo no sono - Eu fiz algo errado. . .?
Murmurando essas palavras a pequena se aconchega e acaba caindo no sono. Se aproximando do rosto da sua irmã, ela acaricia seu pequeno rosto tirando algumas mechas sobre seus olhos.
- Não fez nada de errado querida. Não fizemos.
Se mantinha firme para não chorar. Não era sua culpa, muito menos de sua irmã. Afinal não lhe contou metade do que acontecia naquela casa e o desfecho da história.
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Seu nome é Eleanor
Fiction HistoriqueEm Bravença o ditado é claro: "Nobres acima do povo, leis acima dos nobres, e Deus acima de tudo". Reino rico, com abundância em comida, e um reinado respeitado. É nesse reino que mora uma jovem princesa e futura rainha, que diferente das outras sab...