Rascunhos

Explodindo

  -O que você está fazendo aqui? –grito para o homem na minha frente.

-Pedi para você me procurar, como não tive notícias, vim atrás.... Tomei a iniciativa, não era isso que você queria? –Fábio exibe sua cara de inocência, com um sorriso no canto dos lábios.

-E passou pela sua cabeça que eu não queria te ver? –uma risada escapa de minha garganta, não acreditando nesse absurdo.

-Está bom, Anália, eu já entendi, estou correndo atrás do prejuízo. Já estou aqui, posso ficar de joelhos se você quiser, mas para com essa besteira. –ele diz como um pai tentando convencer uma criança a descer do brinquedo no shopping.

-Eu não acredito que você está falando isso. –tenho certeza que meu rosto demonstra toda minha perplexidade. –Fábio, VOCÊ terminou comigo, lembra?

-Sim, e estou arrependido, isso não conta? –ele chega mais perto, pegando em meu braço. –Vamos conversar, Anália, você sabe que a gente tem que ficar juntos. Não vai me chamar para entrar?

O contato de sua pele com a minha me causa uma leve vertigem. Como posso sentir coisas tão negativas por alguém que dizia amar? Com dificuldades, retiro sua mão de mim.

-Não e nós não temos que ficar juntos, Fábio, já passou da hora de cada um seguir pro seu canto. Estou pedindo para que você não me procure mais.

-Não fala assim... Ana, eu não fale coisas de que vai se arrepender depois. Você sabe que não vai encontrar ninguém que faça o que estou fazendo por você...

-Estou te avisando. –digo o mais firme que consigo, tentando disfarçar o temor que começa por meu corpo. Eu sinto medo da reação dele, não posso negar. -Da próxima vez que vier me incomodar desse jeito, ou tentar me tocar como fez agora, vou pedir uma ordem de restrição contra você, que isso fique bem claro.

-Para de ser tão extrema, Ana, você sabe que estou aqui por amor! –suas sobrancelhas se unem, implorando para que eu caia em sua conversa. -Não me coloque como um vilão aqui...

-Espero que você tenha entendido, se precisar de medidas drásticas, eu vou utilizar medidas drásticas. De qualquer forma, desejo o melhor para você! Tchau, Fábio.

Não espero por sua resposta e fecho a porta com o corpo tremendo. Me encosto na madeira ainda com a mão na maçaneta, tentando controlar minha respiração e meu batimento cardíaco. Um suor frio escorre por minha testa e eu engulo em seco, desejando muito que ele realmente tenha ido embora.

Depois de alguns minutos, me sinto mais tranquila e decido que está na hora de enfrentar outro dragão. Juan está sentado no canto do sofá, a testa franzida, os olhos olhavam para a televisão, mas ele não parecia estar realmente assistindo.

-Muito bonito, senhor Juan! –expresso, mas ele não me olha ou responde. –Eu já pensei muita coisa de você, mas esperava que você iria confiar mais em mim do que em um idiota que vem bater na sua porta, ou pelo menos esperava um pouco de suporte, sabe? Não que você fosse ficar irritado comigo.

-E como você quer que eu reaja diferente? –ele grita, se levantando do sofá. –Eu te vi sofrer dia após dia por causa desse cara, que garantia que eu tenho que você não vai sair correndo quando ele chamar?

Fico em silencio por um tempo, minha boca se abre involuntariamente de choque, e meus olhos começam a arder com lágrimas que desejam sair.

-É isso que você pensa de mim? –digo com a voz vacilante. –Que eu fiquei com você como um consolo? Você acha que eu estou te usando, é esse tipo de pessoa que você acha que eu sou?

Vejo o arrependimento cruzar seu olhar, mas o estrago já está feito. Sinto a dor bem funda em meu peito.

-Não foi isso que eu quis dizer, Anália...

-Eu já entendi, Juan, não precisa tentar consertar.

Ele se aproxima de mim e eu deixo que me abrace. Choro mais forte agarrada ao seu peito e ele me aperta forte, beijando o topo de minha cabeça. Seu comentário me feriu, mas sei eu estou muito abalada agora.

-Desculpa. –ele sussurra. –Eu sinto como se pudesse te perder a todo instante e isso me deixa maluco, mas não tenho o direito de te tratar assim, desculpe.

Eu balanço minha cabeça, soluçando entre o choro. Se eu estava esperando uma hora exata para entrar em uma conversa séria sobre futuro, essa era a hora.

-Juan...- minha voz falha ao falar seu nome. –Desculpa. Eu...já está na hora, sabe?

Ele se afasta, levantando meu rosto para me encara com um olhar confuso. Limpa minhas lagrimas com os dedos, enquanto eu ainda soluço pensando em como falar o que estou pensando.

-Está na hora de voltar. Não dá para adiar.

-O que você está falando?

-Você sabe que eu sou uma visita aqui. Eu realmente não queria pensar sobre isso, por que eu realmente gosto de estar com você, mas eu tenho que voltar para casa.

Ele parece ter sido pego de surpresa. Se afasta mais um pouco de mim, como que assimilando a ideia. Solta uma respiração pesada e passa as mãos pelo rosto.

-É por causa do que eu disse? Você sabe que eu falo muita merda.

-Não... –eu digo balançando a cabeça e fungando o nariz. –É por causa da vida, Juan. Não tem nada a ver com você.

-Como não? E nós dois? –ele pergunta apontando para o espaço entre nós.

-O que nós dois somos? –eu pergunto, chegando mais perto para encara-lo. –Você não consegue nem se decidir por si mesmo.

Ele desvia o olhar do meu. Sei que estou utilizando palavras duras com ele, mas precisamos sair deste empasse.

-Eu realmente gosto de você, e poderia tomar as piores decisões para estar ao seu lado, mas não enquanto você não decidir o que quer. Reflita sobre você, sobre mim e sobre nós e decida-se o que quer para sua vida, porque eu sei bem o que quero para minha e não é essa confusão que está acontecendo. Pense bem, te apoiarei no que você decidir, mas não posso ficar na sua indecisão. Vou embora na sexta, daqui a três dias.

Evito analisar a sua expressão ao sair da sala. Eu acabei de tomar uma decisão e tenho que seguir com ela, mesmo que isso me machuque profundamente.

Não vou mentir, eu quase chorei escrevendo esse capítulo! O que vocês estão achando? Quais são os chutes para o fim? Só mais dois capítulos, em...