Conversa sincera

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  Sigo atrás de Juan, que continua marchando decididamente até chegar na pracinha mais próxima e se sentar em cima do encosto do banco

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  Sigo atrás de Juan, que continua marchando decididamente até chegar na pracinha mais próxima e se sentar em cima do encosto do banco. Ele não diz nada, mas percebo em seu semblante que ainda está com raiva. Acho que nunca o vi tão irado assim.

Me sento ao seu lado, embaixo, e apoio a cabeça em seu joelho. Distraidamente ele começa a passar a mão por meus cabelos e pelo canto do olho vejo em seu outro punho a vermelhidão causada pelo soco.

Reflito bem se devo ou não fazer algum comentário, mas quando sinto a tensão deixando seu corpo não consigo mais resistir ao silêncio.

-Juan... –eu digo baixinho, mas sei que ele escutou.

-Oi. –seu tom me surpreende ao estar bem tranquilo.

Eu paro um pouquinho antes de continuar, evitando olhar para cima e encontrar o seu olhar sobre mim.

-Você não bateu no seu tio só porque ele me chamou de desempregada, não é?

-Que motivo poderia ser melhor do que esse? –ele diz e logo percebo que está de gozação com minha cara.

-Ah fala sério! –digo me virando para ele. –Você é teimoso, sínico e bem irritante as vezes, mas não é violento.

-Uau, valeu pela cartela de elogios.

-Você sabe que é verdade. –falo e ele solta um risinho de concordância.

-Mas falando sério, de todo mundo lá em casa, você é a pessoa que mais tem feito coisas para minha mãe.

-Mais ainda não é por isso que bateu nele.

Juan suspira e balança a cabeça, se ajeitando no banco antes de continuar.

-Não, mas foi uma boa desculpa. –ele diz, não respondendo exatamente o que eu queria que ele dissesse.

Decido não forçar no assunto, já que ele não parece querer dizer mais nada sobre seus motivos.

-Sabe, foi um belo soco. –digo tentando faze-lo sorrir. –Digno de novela Mexicana.

Ele solta uma gargalhada, me fazendo ter êxito no meu objetivo, depois se abaixa para me abraçar, me dando um beijo na testa e suspira mais uma vez, voltando a seriedade.

-Faz um tempo que quero bater naquele babaca. –finalmente ele começa a falar. –Ele se faz de bonzinho para minha mãe, mas todos da família são uns sanguessugas nojentos.

Ele faz uma pausa, talvez seja para que assimile o comentário negativo.

-Quando meu pai se foi, ninguém moveu um dedo para ajudá-la, mas ela se virou muito bem. –continua a me contar. –E então, quando vem visitar é sempre querendo alguma coisa. Ás vezes é esfregar na cara dela que a vida deles é maravilhosa, por que sabem administra bem as coisas, outras é para pedir algo, mas sempre, todas as vezes, é carregado de críticas.

-E ela? Dona Maria aceita de boa? –pergunto.

-Você conhece minha mãe, de alguma forma ela tenta muito ter a aprovação destes banacas. E como eu sou o filho problemático, eles me utilizam muito para atingi-la.

-Você não é um problemático.

-Sério? Teimoso, sínico e... o que mais você falou? –ele diz com a voz bem amarga, jogando minha próprias palavras em minha face.

-Isso não significa ser problemático. Você é incrível, tenho certeza que sua mãe sabe disso. –afago seu joelho.

-Eu juro que eu tento ser bem-sucedido como Juliano. –ele desabafa. –Mas toda vez que eu estou ali, tentando estudar alguma coisa que vai me levar até lá, sei lá!... Não parece ser eu, não pareço sentir qualquer satisfação com isso.

-E o que te satisfaz? O que você gosta? Não vale falar que é o Play2... –eu brinquei e ele ri. –É sério, o que te faz se sentir bem fazendo?

-Eu gosto das experiências, Anália. –ele diz engolindo em seco. –Eu gosto de sentir, de ver de experimentar, cada centímetro dessa cidade e de todas as outras, como as coisas são iguais e diferentes em todas as regiões. É essa sensação que eu procuro em todas as coisas.

-Então faça isso! Viaje, experimente, sei lá... faculdade de turismo, ou história, geografia, faça algo que goste de verdade.

-E gasta mais o dinheiro da minha mãe com vagabundagem? –ele pergunta sendo sarcástico. –Isso não vai me dar nenhum futuro.

-Não se você continuar pensando assim. –respondo indignada.

-Pra você é fácil falar. Está bem com o que faz, não é? Com sua família é tranquilo, certo?

-Não, não é. Eu queria ser escritora, não tradutora. –digo por fim. –Disse para meus pais que isso era meu sonho, mas o sonho mudou e meu pai ficou um ano sem falar comigo depois que eu contei que não escreveria mais.

Ele me ficou em silêncio e me encorajou a continuar com um aceno de cabeça.

-Juan, o que a gente precisa enfia na cabeça é que a vida é nossa, não dos nosso pais, apesar de devemos muito a eles. É normal querer fazer o que gosta e é normal querer mudar de planos.

Juan ficou pensativo por um instante e logo desceu para o acento do banco e me abraçou bem forte até que tive que pedir que me largasse para conseguir respirar.

-Obrigado. –ele sussurrou no meu ouvido e me aconchegou em seu peito. –Conversar com você me tira um peso das costas.

-Não há de quê!

-Mas minha mão começou a doer por ter batido naquele babaca.

-Violência nunca compensa. –digo e ele faz uma careta. –Quer ir pra casa e colocar um gelo nisso?

-Não. Me deixa curtir um pouco de paz antes de enfrentar a fúria da velha.

Não consigo evitar um sorriso, realmente, Juan podia esperar o inferno quando chegasse em casa...

Não consigo evitar um sorriso, realmente, Juan podia esperar o inferno quando chegasse em casa

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