Rascunhos

Pré-parto

  Juan conseguiu agir antes que eu pudesse pensar em algo e foi correndo estendendo a mão para Bruna, que a amassou ao sentir uma contração.

-Liga pra algum táxi, uber, sei lá! -ele diz fazendo careta quando ela aperta mais forte.

Minhas mãos tremem ao tentar pegar o celular e quase o deixo cair. Digo a mim mesma para respirar fundo e manter a calma, se não será impossível conseguir ajudar Bruna. Juan tenta acalma-la da melhor forma possível enquanto eu chamo um veículo com urgência para irmos para o hospital.

Enquanto esperamos o transporte chegar Bruna me orienta a pegar algumas coisas que ela pode vir a precisar e eu vou colocando tudo em uma bolsa enorme sem me importar com a organização.

O caminho até o hospital parece um martírio. Vejo minha amiga inspirando e expirando em uma baforada. O suor escorre pelo seu rosto enquanto ela se esforça para não perder a calma.

-O bebé está adiantado? –pergunto segurando sua mão.

-Sim, essa danadinha era pra vir na semana que vem. –ela diz em um ranger de dentes.

Ao chegarmos as enfermeiras a entregam um avental. O parto poderia ser feito de forma normal, mas Bruna ainda não possuía dilatação o suficiente e até seu corpo ficar pronto poderia levar horas. Ela não conseguia ficar quieta, andava pelo quarto esperando que juliano chegasse. Eu o havia avisado no caminho e tinha ligado para dona Maria também, eles logo estariam no hospital.

Bruna se dobra apoiando na cama ao sentir outra contração. Minhas mãos tremem enquanto eu tento dar algum apoio para ela. Não conseguia racionalizar direito, por isso Juan era quem estava tomando frente em tudo, ele deu a entrada no hospital e conversou com as enfermeiras, parecia super calmo lidando com toda a situação.

-Você devia ter ficado calmo assim quando eu quebrei meu nariz. –brinco quando ele aparece no quarto.

-Seu nariz foi uma surpresa, o bebé da Bruna a gente tá esperando faz nove messe. –ele retruca dando uma piscadinha para mim.

-Vocês poderiam flertar depois? –minha amiga franzi a testa nós, olhando feio.

-BRUNA! –finalmente Juliano chega atropelando as coisas pelo quarto com dona Maria em seu encalço. Não sei como os dois haviam chegado ao mesmo tempo, mas o timing foi perfeito.

Ele a abraça e dona Maria começa a me perguntar coisas técnicas que eu não sei responder, porque estava muito ocupada tentando não pirar. Então mais uma vez Juan toma a iniciativa.

O loiro puxa nós duas para fora do quarto, deixando o casal sozinhos. Eu me sento no chão do corredor ainda tremula enquanto ele explica toda a situação de Bruna para sua mãe. Depois de um tempo, dona Maria entra no quarto para tentar trazer mais estabilidade para a grávida e Juan se senta ao meu lado.

-Você tá surtando mais do que ela. Até parece que é o pai. –ele sorri de lado.

-Engraçadinho você. –suspiro começando a roer as unhas.

-Achei mesmo que você fosse precisar de açúcar no sangue. –ele diz tirando uma barrinha de chocolate do bolso. –Toma. Peguei quando tava dando entrada no hospital. Não se preocupa, eu paguei por ela. –ele acrescenta quando vê minha expressão.

Eu ri aceitando o chocolate. Quando começo a comer me sinto um pouco melhor, mas mesmo assim ainda tenho um aperto no peito ao pensar na cara que a Bruna fez ao sentir dor. Coloco minha cabeça no ombro de Juan e fecho meus olhos bem apertados.

-Obrigada. Eu não consegui agir nem pensar direito, obrigada por fazer isso por mim.

-Não sei porque vocês se surpreendem tanto. –ele diz me fazendo rir. –Sou formado em 16 temporadas de Grey's Anatomy.

-Às vezes eu acho que não te conheço nem um pouco. –está constatação me vem de forma triste.

-Bom, você ainda tem o resto da vida para isso. –Juan passa seus braços ao meu redor.

Não quero refletir muito sobre o que ele quer dizer com isso, mas me permito sentir um calorzinho no peito e descanso encostado nele enquanto ainda não surtava com o bebé de Bruna.