Partida

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  À noite, no jantar, anunciei minha partida

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  À noite, no jantar, anunciei minha partida. Dona Maria ficou bem triste com meu pronunciamento. Ela e Bruna haviam adotado como missão me fazer ficar, mesmo eu dizendo que iria de qualquer forma. Juan observava de fora as tentativas da mãe e da cunhada, acho que ele está magoado comigo, mas não estou esperando nenhum ato revolucionário por parte dele.

-Entendo que você tenha que ir. –disse Juliano tomando partido em minha decisão. –E agradeço por ter ficado esse tempo com a gente. Mas logo, logo, quando meu projeto acabar, eu e Bruna teremos de voltar também, se quiser estender a estadia até lá, tenho certeza que será bem-vinda...

-Já abusei de mais da hospitalidade, mas obrigada.

-Anália vai embora, depois o Juliano e a Bruna com a Maria, essa casa vai ficar vazia! –queixou-se dona Maria. –Vocês estão é querendo matar essa velha de solidão, isso sim!

-Você sabe que eu vivo te chamando para ir comigo, mamãe! –disse Juliano.

-Larga de drama, mãe! –diz Juan.

Em protesto a discussão, Maria Helena chora em seu berço. Em um minuto de olhares silenciosos entre o casal, fica decidido que Juliano cuidará dela dessa vez.

O choro de Maria encerrou o assunto e eu aproveitei para me esgueirar para meu canto de repouso no sofá. Pensei em dormir cedo, para aproveitar o dia seguinte para começar a arrumar minhas coisas, mas não conseguia pregar os olhos.

Escutei enquanto todos da casa se ajeitavam e se recolhiam para dormir, o barulho da vivência do ambiente se reduzindo a leves ruídos e ronronar, deixando tudo tão solitário e vazio.

Minha mente traiçoeira percorre por todos os momentos que passei nesses últimos meses, na hospitalidade de dona Maria, no parto de Bruna, nas histórias de trabalho de Juliano e em todos os momentos com Juan. Estes últimos, com certeza, me deixaram mais atormentada.

Eu chorei em silêncio, mordendo o travesseiro para que meu murmúrio não me denunciasse. Deste momento até minha partida, tudo parecia feito de nevoa ao meu redor. Três dias tortuosos de espera amarga.

Eu me movi no automático arrumando minhas coisas nos dias que transcorreram. Evitava o ambiente toda vez que Bruna ou dona Maria tentava me fazer ficar. Me sinto mal em chateá-las, mas me sentiria mais mal ainda de não fazer o que acho necessário.

Eu e Juan mantemos pouco contato, ele estava reflexivo e achei melhor deixa-lo pensar. Já sinto saudades do seu toque e encontrar com ele pela casa me faz ficar sem jeito, como se um bolor me subisse pela garganta e me atormentando o coração.

Parte de mim queria que ele me implorasse para ficar, a outra parte queria que ele pedisse para ir junto comigo, mas nenhuma dessas coisas aconteceram e a tristeza se transformava em frustração, seguida de raiva.

Na despedida da rodoviária ele não foi junto e eu finjo não me importar com sua ausência enquanto abraço minha amiga e dona Maria pedindo para que elas não fiquem até a saída do ônibus ou eu poderia me desmanchar em lágrimas.

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⏰ Última atualização: Apr 10, 2021 ⏰

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