Uma visita amiga

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  Eu chorei por três dias

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  Eu chorei por três dias. De roupão, envolvida no sofá, eu devorava potes de sorvete, travessas de brigadeiro e vários sacos de salgadinho enquanto chorava e chorava. Meu celular vibrava as vezes e nas últimas horas começou a tocar com um barulho irritante que me fazia querer joga-lo na parede. É claro que eu conferia todas as vezes, mas as mensagens e ligações não eram dele. Me sentia meio mal por não responder meus pais e amigos, mas não queria ver ninguém.

Esses três dias, aparentemente, foi o tempo que me deram até alguém vir bater em minha porta.
Eu abaixei o volume da TV e fiquei parada, não ousando nem mesmo mastigar. Se pensassem que não tinha ninguém talvez fossem embora. 

Porém minha tática não funcionou. Alguém continuou batendo forte na porta da frente da minha casa.

-Anália, abre essa porta, eu sei que você está em casa, porque eu olhei pela fechadura e seu carro está aí dentro! - uma voz rugiu lá de fora.

Essa era Bruna, minha melhor amiga desde a infância. Por conhece-la tão bem, eu sabia que não iria me livrar dessa. Com muito desgosto me levanto do sofá, me arrasto até a porta e quando abro a luz do sol me cega. 

-Meu Deus! - ela diz me olhando de cima a baixo e eu imagino a catástrofe que ela enxerga. -O que aconteceu?

-O Fábio terminou comigo. - percebo que quando falo minha voz sai rouca.

Não preciso dizer mais nada. Bruna me abraça com força e mais uma vez eu choro, desta vez mais forte do que antes, sinto todo meu corpo tremer. Ela me acompanha para dentro de casa e eu conto como aconteceu, reproduzo exatamente as palavras secas que ele me disse. Quando acabo ela permanece em silêncio com as mãos passando por meus cabelos de forma protetora. Então ela respira fundo uma vez.

-Eu sei que está doendo muito agora e não há muito que eu posso fazer, mas não vou te deixar desde jeito.

-Eu simplesmente não consigo ficar bem agora. -digo em um murmuro, ainda agarrada a ela.

-Não posso ficar aqui com você essas dias, por que você sabe que tenho que arrumar o chá de bebê e minha sogra quer que eu passe os últimos dois meses de gestação com ela...

Eu aceno com a cabeça e passo a mão pela sua barriga enorme. Já no sétimo mês de gravidez, Bruna estava magnífica. Lembro de quando ela me contou sobre a gravidez, estávamos todos jantando aqui em casa, Fábio tinha comprado um vinho muito bom, mas ela não podia beber.

-Eu não preciso que você fique, vou ficar bem... -apesar de a própria lembrança do jantar me fazer sentir falta dele.

-Não confio em você para ficar sozinha, olha o que você fez esses dias! -ela aponta para toda a bagunça da sala de estar que eu deixei enquanto hibernava e chorava. Eu estava prestes a me queixar de sua insinuação quando ela me cortou. -Por isso você vai comigo.

-O que? Bruna, eu não posso...

-Não tem nada disso, já falei com Juliano e com minha sogra, mandei mensagem enquanto você me contava sobre o término e ela está muito animada para ter mais gente em casa. Além disso, você trabalha em casa, não tem a desculpa do emprego.

-Eu trabalho em casa porque preciso de concentração e não posso ir com você...E meus pais?

-A gente liga pra eles no caminho, a filhinha já tá bastante crescidinha pra fazer uma viagem com a amiga, você já tem vinte cinco anos, Anália, para de bobagem!

-Bruna, eu não posso simplesmente pegar minhas coisas e ir com você!

-Por quê? 

-Porque... -a verdade é que eu não conseguia pensar em um motivo concreto. -Tá bom, eu não tenho um motivo, mas...

-Nós vamos sair hoje de tarde, esteja pronta em três horas ou vai sair do jeito que tá! Sem mais nem menos!

Então, ainda resmungando, me levanto e vou arrumar uma mala para dias indeterminados.

Então, ainda resmungando, me levanto e vou arrumar uma mala para dias indeterminados

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