Velas e saudades

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 O jogo travou

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 O jogo travou. Assim sem mais nem menos. Maldito playstation 2! Depois de dois dias jogando Mortal Kombat conseguimos chegar longe, mas agora parecia tudo perdido. Fizemos todos os rituais: reiniciamos o aparelho, abrimos a tampa, tiramos o aparelho e demos um soprinho, demos batidinhas nele e nada do jogo voltar a pegar. Estava arranhado, travava no mesmo lugar sempre.

Demorou-se uma eternidade para decidimos qual outro jogo iriamos começar. Juan queria God of war, não posso negar que é um bom jogo, mas, por respeito a dona Maria e a qualquer outra pessoa que passasse na sala, insistir que não queria. Por fim decidimos por um clássico do nitendo, Bomberman 4, era um jogo pra ser zerado em um dia.

Eu não podia dizer que era a melhor jogadora de Bomberman, mas também não sou tão ruim. Morri pela minha própria bomba apenas duas vezes e, mesmo sobrando sempre para o Juan matar o chefão, eu conseguia causar alguns danos aos inimigos.

Depois de duas horas finalmente chegamos ao último chefão. Eu já havia morrido há muito tempo, o desgraçado do cérebro voador tinha me prendido entre duas bombas, ou talvez tenha sido eu que me prendi, porque afinal as bombas eram minhas, mas tanto faz. Agora nossas chances estavam em Juan, torcendo para ele não perder e termos de recomeçar a fase de novo. Então, de repente a TV apaga, tela preta. Até a luzinha do console parecia ter morrido.

-Me diz que você anotou o código? -pergunto, porque sem o código não tinha como voltar de onde havíamos parado.

-Era a sua vez de anotar, cabeçuda! -ele reclama e vai até a televisão ver o que tem de errado com ela.

Eu afundo minha cabeça na almofada do sofá. Não acredito que esqueci de anotar o código do jogo. Burra, burra, burra. Só de pensar em começar de novo me dava desanimo. Acho que não temos sorte, devemos parar de tentar jogar e pronto.

-Parece que a energia acabou no bairro todo. -diz dona Maria entrando em casa. -A rua tá tudo um breu. E não são nem sete horas ainda.

-Sério? -pergunto e ela afirma com a cabeça.

-Sim, acho que vai demorar para voltar. 

-Que pena. -digo desabando no sofá.

-Parece que hoje nosso jantar vai ser a luz de velas, moçada. -ela complementa. -Acho que talvez a gente devia comer lá fora, com a iluminação da lua, ao ar livre.

-Não começa a viajar não, mãe.  De noite lá fora deve ter mosquito e faz frio.

-Pro frio você veste um blusa e os mosquitos as velas espantam. -ela disse decidida rumando para a cozinha.

-Faz mó tempão que eu não como em varanda assim. -digo me levantando e indo atrás de dona Maria. -Vou te ajudar a arrumar as coisas.

Foi meio difícil fazer a preparação, usamos as lanternas dos celulares e velas pra iluminar a casa. Quando Juliano chegou do trabalho já havíamos colocado uma mesa do lado de fora e quase toda a comida já estava pronta. Bruna estava sentada em uma das cadeiras de plastico se abanando com a mão.  Apesar da previsão de Juan para o frio, estava uma brisa quente de verão e todas as velas deixava o ambiente mais caloroso.

Juan que desde mais cedo estava enfunado no quarto, aparece agora com a cara emburrada de quem não queria estar aqui e os cabelos amassados, esfregando os olhos de sono. Eu sei que ele havia dado o ar da graça apenas porque dona Maria, boa mãe que é, tinha ido chama-lo dizendo que o jantar estava pronto. Ás vezes me incomoda o fato dele parecer um adolescente emburradinho.

Ajudo a servir  a mesa, para logo começarmos a refeição. Dona Maria vem lá de dentro, toda animada com uma garrafa de vinho e algumas taças.

-Quem vai tomar uma tacinha comigo? -ela pergunta alegremente.

-A mamãe aqui vai passar essa. -diz Bruna se servindo de macarrão.

-Depois da minha última experiencia com bebidas, não acho que vou chegar perto de álcool tão cedo. -reclamo colocando a mão no meu nariz, agora já curado.

-Eu aceito. -diz Juan se ajeitando na cadeira.

-Você não. -dona Maria diz firmemente fechando a cara.

-Mãe, já tenho 24. -ele reclama.

-Mas a mentalidade é de doze. -Juliano retruca e eu solto um risinho. -Pode deixar mãe, eu bebo uma taça com você.

A mãezona se alegra em saber que terá uma companhia. Sem ver passar o tempo nós aproveitamos a refeição a luz de velas em um ambiente tão tranquilo. Me faz lembrar de minha família. Faz um tempo que eu não janto com meus pais. Em pensar que quando mais nova eu apenas pensava em  ter minha própria família, construí-la com meus próprios costumes, e que agora tudo que eu penso é em como seria bom estar no calor do abraço de minha mãe, escutando meu pai contar uma piada ou coisa do tipo.

Escutando os risos de Bruna e as brincadeiras trocadas no grupo me sinto muito a vontade, como se estivesse em casa. Mas no fundo sei que quando acabar de dar assistência na gravidez de Bruna, nada será melhor do que voltar ao meu normal. Mesmo que nesse normal não tenha mais o Fabio de companhia.

 Mesmo que nesse normal não tenha mais o Fabio de companhia

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