Capítulo 1

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Alana

── Ó gostosa? ── Respiro fundo e cerro os dentes pra me impedir de mandar esse idiota que cutucou minha bunda ir se foder. Deixo a comida que o casal da mesa a frente pediu, e com um esforço quase sobrenatural não dou um tapa na cara dele com toda a minha força. Preciso demais desse dinheiro que ganho e não posso me dar ao luxo de ser despedida a essa altura do campeonato. Olho pra ele pronta pra anotar o seu pedido, e noto que além dele, tem mais 2 homens que também me olham como se fossem me agarrar a força se aqui não estivesse tão cheio:

── Oque os senhores desejam comer? ── Pergunto com toda a frieza que consigo reunir.

O mais jovem deles, sorri maliciosamente. ── Oque a gente quer comer? Hm, deixa ver... ── Ele faz uma pausa e olha para o teto com um ar pensativo, como se estivesse tentando analisar quais são as melhores opções. ── Tô meio em dúvida aqui, mas acho que já decidi mesmo. Antes de eu responder, posso te fazer uma pergunta?

Olho para ele friamente, não respondo, e saio em direção a outras mesas que precisam de ser atentidas. Não tenho tempo pra essas palhaçadas. Mas antes que eu pudesse dar mais passos, um aperto firme cercou meu braço.

── Me solta caralho! ── Gritei enraivecida, chamando atenção de outros clientes, inclusive de Martin. Ele me olhou com um olhar cortante que dizia: "Faça eles saírem sem pagar por nada, e te coloco no meio da rua!". Tentava a todo o custo tirar meu braço das mãos dele, oque só fazia ele me apertar ainda mais, me machucando.

──  Relaxa gata, a gente só quer conversar um pouco. Pra quê esse cu doce todo ein? ── O homem que me segurava zombou, fazendo os outros que estavam com ele rirem. Seu hálito fedia me fazendo  ficar enojada com o cheiro.

Cerro os dentes para me impedir de chorar de raiva e digo com toda a confiança que posso reunir. Confiança essa que eu não sinto: ── Se você não me soltar agora... ── Palavras, eu podia usar todas elas, eram as minhas melhores armas no momento. Eu estava completamente indefesa, sem ninguém para se levantar por mim. Eu poderia muito bem dar um soco bem no meio da cara desse idiota com a minha mão livre, mas com toda a certeza que depois disso Martin não hesitaria em me colocar no olho da rua. Se bobear, ele até vai depôr como testemunha contra a mim, dizendo que o "pobre cliente" não fez nada pra me provocar, e que eu já tenho um histórico enorme de arrumar confusão sem motivo. Meu avó, o melhor homem que eu conheço, que me ensinou tudo oque sei, precisa que eu leve esse dinheiro para casa. É ele que me dá forças pra enfrentar todo tipo de merdas que a vida joga pra cima de mim, e por ele eu tenho que manter esse emprego. Mas me sinto impotente sabe? É uma sensação agonizante ser contida desse jeito. O mundo tá tão frio. Dói saber que tem um monte de gente aqui que poderia me ajudar, mas é como se não estivesse ninguém. Eles veêm e ignoram. Não estão nem aí se você é assediada, apalpada sem o seu consentimento, se corre o risco de ser estuprada por uns filhos da puta covardes do caralho que vão ficar esperando pacientemente até você sair do trabalho pra quebrarem seu corpo e sua alma. Pra quê estragar sua roda de bebidas salvando a garçonete do restaurante que obviamente está sendo agarrada a força, sendo que você  é o fodido chefe e tem a autoridade de mandar parar?
Afinal, cada um por si né?

Aquele que segura o meu braço me interrompe apertando ele ainda mais, tanto que eu quero chorar de dor, mas empurro de volta o desejo, dando tudo de mim pra não demonstrar nenhuma fraqueza a esses homens.

O humor desapareceu de suas feições agora duras, enquanto me encara seriamente: ── Oquê? ── Ele ergue uma sombrancelha desafiadoramente. ── Se eu não soltar você...oquê? Oquê caralhos você vai fazer? ── Conclui me puxando pra mais perto dele.

Eles não têm medo algum e não poderia ser diferente. Já notaram que o próprio dono do restaurante não tá nem aí para mim, então eles se sentem no direito de fazer oque diabos eles quiserem, porque sabem que não vão ter nenhuma punição.
Eu sinceramente, estava com tanta raiva, com tantos sentimentos borbulhando dentro de mim, que estava prestes a jogar tudo pro alto e partir o nariz do idiota que me segura. Felizmente, meu anjo da guarda apareceu a tempo.

A queda do Imperador | Duologia: Submundo | Vol. 1 | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora