Capítulo 5

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Alana

Após acordar assustada pelo pesadelo horrível, tomei um banho demorado, e coloquei um vestido tomara que caia curto e minhas sandálias favoritas, meus cabelos puxados em um rabo de cavalo, e desci as escadas encontrando vovô comendo na mesa da cozinha.

── Bom dia querida, ── Vovô sorri para mim.

── Bom dia, ── Devolvo o sorriso. ── A Charm já foi? ── Pergunto olhando ao para a janela que dá para o pequeno jardim esperando ver lá a mulher. Charm é apaixonada por cuidar das flores de lá. Ela tem sua própria loja onde vende flores, vasos, adubo, coisas assim.

── Já sim filha. Ela teve que ir bem pra tratar de algum assunto da loja. ── Vovô responde após tomar um gole de sua xícara de café. Ninguém no mundo é mais viciado em café do que ele.

── Ah, ── Respondo, sem saber mais oque dizer. Antes do alzheimer, vovô e eu poderíamos conversar por horas, rir por horas. Mas agora não sei oque dizer, não sei como quebrar esse silêncio desconfortável. Para ele eu sou minha mãe, e oque ele conversava com ela, não tem nada a ver com oque ele conversava comigo.

Sinto falta dele. Sinto falta de ouvir suas críticas sobre como meu gosto pelo rap é horrível. Dói tanto. Ele está aqui, mas ao mesmo tempo não está.
Vovô é tão jovem e forte. Nem parece ter a idade que tem. Na escola algumas meninas costumavam chamar ele de "coroa gostoso", coisa que me fazia enrugar o nariz quando ouvia, as vezes. Jamais imaginei um dia ver o meu herói, o homem que sempre esteve lá para mim, que me ensinou a escrever, a andar de bicicleta, a me valorizar e me colocar em primeiro, desse jeito.
Mano, dói muito. As vezes sinto vontade de chorar sabe, mas não posso porque tenho que ser forte por ele. Ele sempre foi minha fortaleza, e chegou a hora de eu ser a sua.

Vovô foi diagnósticado com alzheimer precoce. Comecei a ficar preocupada quando se tornou frequente o esquecimento dele em relação a coisas bem comuns tipo se ele almoçou ou não, onde ele deixou seu celular, sendo que o celular estava bem perto dele. Ele ficava andando pela casa toda, procurando, e eu dizia: "Vô, o senhor deixou o celular bem aí!". Ele sorria sem graça, percebendo que de facto, o celular estava aí bem pertinho dele. Desde então ele só piorou.

Um dia eu estava no apartamento de Paul, e estávamos assistindo um filme bem agarradinhos quando vovô ligou:

── Oi vô, tá tudo bem? ── Estranhei, preocupada. Vovô foi com o Sr. Lewis e o Sr. Roberts assistir um jogo de basquete ao vivo, e depois que isso acontece, ele costuma ir em um bar com eles.

Por um instante, só ouvi um silêncio do outro lado da linha, oque só aumentou ainda mais minha preocupação.  ── Alô? Vô, o senhor está aí? ── Perguntei, me levantando do enorme sofá em L.

Paul notando meu estado perguntou sussurando oque foi, e eu respondi que não estava ouvindo nada.

Vovô finalmente responde. ── Querida, ── fez uma pausa. Ele parecia nervoso. ── Desculpa atrapalhar, mas... ── outra pausa. Dessa vez mais longa.

── Vovô? ── Chamei.

── Ah, sim, hm...── Ele parecia estar tentando... se lembrar, do que estava dizendo. Isso fez um aperto enorme se formar em meu peito. Estou preocupada demais com vovô. Ele está se esquecendo muito das coisas, e isso não é normal. Decidi retomar pelo ponto em que paramos.

── O senhor não atrapalha nada não. Pode falar oque está acontecendo aí. O senhor não está com o Sr. Roberts e o Sr. Lewis? O jogo já acabou? ── A essa hora eu já estava imaginando um monte de coisas, do jeito que sou paranóica.

A queda do Imperador | Duologia: Submundo | Vol. 1 | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora