Capítulo 33

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Alana

Eu desisto.

Tentei, juro que tentei com todas as forças que me restavam ser forte e tudo mais, não me render as merdas que veêm acontecendo em minha vida e ter como incentivo o ardente desejo de vingança me motivava a não sucumbir aos pensamentos sombrios que rondavam minha mente, mas sinceramente não dá mais. Eu não consigo mais.

Não daí do porão. Não sei quantos dias mais se passaram desde que desmaiei após o soco que foi desferido contra mim. Estou literalmente enlouquecendo. Tanto que me inclino desesperada para os toques carinhosos que meu algoz faz em meu rosto enquanto me embala em seu colo, e ouço com toda a atenção seus murmurios contra meus cabelos, sua voz doentiamente acalmando um lugar obscuro de minha alma, que vem ganhando cada vez mais espaço dentro de mim, inundando com escuridão o meu ser.

Não estou completamente fora de mim ainda. Sei que estou me perdendo. Sei que ele está vencendo. Minha essência está escapando por entre meus dedos, pedaços de mim estão se quebrando dolorosamente sem que haja cola suficiente no mundo que possa uni-los novamente.

Não posso fazer nada sobre isso. Não consigo. Minhas forças foram drenadas, completamente sugadas pelas densas trevas que subestimei. Pensei que poderia vencê-las, mas estava errada. Fui infectada. Não sei ao certo quando, mas quando eu menos esperava a doença já estava instalada em mim, infiltrada em cada partícula que constitui o meu ser, me corroendo e me corrompendo.

Agora, a única coisa que posso fazer é me render. Me render a escuridão.

── Está na hora de escovar os dentes anjo. ── Sua voz é calma, melodiosa, e trás leveza a minha mente conturbada enquanto a ouço.

Me aconchego mais contra seu peito, não querendo me afastar do calor de seu corpo. Por muito tempo, não sei quanto, ele não falava comigo. Apenas trazia a comida, e o resto, mas não dirigia uma palavra sequer para mim. Nem escovar meus cabelos ou me lavar com a esponja ele fazia mais. Não sei dizer ao certo a época em que ele voltou a falar comigo ou a tocar em meu corpo, mas posso dizer com certeza que foi um alivio imenso para minha mente desesperada por algum contacto humano, seja qual fosse.

Sinto seu peito tremer, indicando sua risada. Seus dedos seguram meu queixo, inclinando minha cabeça para trás para que eu possa olhá-lo.

── Não quer se afastar de mim, não é mesmo anjo? ── Ele pergunta.

Penso em apenas em assentir em concordância, mas me lembro rapidamente que ele gosta de ouvir palavras. Estremeço ao lembras das vezes em que paguei por não ter dado atenção a esse detalhe.

── Não. ── Digo, minha voz saindo baixa.

Maurizio sorri, demonstrando sua satisfação com minha resposta, e isso deixa alguma parte doentia dentro de mim feliz. Feliz por tê-lo agradado.

Ele levanta comigo em seu colo, me colocando delicadamente no chão. Percebo que ele tem me tratado com certo cuidado. Maurizio já não bate mais em mim, e chego até a sentir prazer quando fazemos sexo.

Vejo que sua testa está franzida de preocupação enquanto seus olhos passam por meu corpo, e me encolho visivelmente. Meu corpo já não é tão cheio de curvas como antes. Agora posso dizer que sou quase um esqueleto humano, e me sinto mal pra caralho. Minha cabeça está baixa, e eu olho firmemente para o chão.

Suas mãos seguram meu rosto, o erguendo. Noto que suas feições normalmente duras, estão amolecidas enquanto olha para mim. ── Não precisa se sentir insegura anjo. Eu amo você do jeito que você é. ── Ele murmura, seus lábios pressionados contra os meus.

A queda do Imperador | Duologia: Submundo | Vol. 1 | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora