Capítulo Treze.

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MELISSA.

Estava dormindo, mas acabei despertando quando senti a Valentina acariciar meu rosto. Resolvi não abrir os olhos pois ela estava falando comigo bem baixinho e eu queria deixar ela continuar falando e escutar o que a minha pequena tinha a falar para estar falando tão baixinho, como se fosse um segredo.

— Desculpa, mamãe. Eu não queria te deixar doente. — sussurrou. Ela não tinha percebido que eu estava acordada. — Eu só queria conhecer o papai. Eu sei que a senhora fazia de tudo para ser uma mamãe e um papai para mim, mas ainda sim eu sentia falta de um "papai". Eu fugir porque queria conhecer ele e não porque a senhora fez um mal trabalho. Você é uma mamãe incrível e eu te amo muito. — ela beija a minha bochecha. — O papai também é bem legal. Ele me ama e eu também o amo... — ela para de falar por alguns minutos mas logo depois continua. — Acho que ele vai sentir a minha falta caso a gente for embora mamãe... — fungou e deitou na cama me abraçando. Me senti péssima ao ouvir ela falando isso.

Ser mãe... Eis o trabalho mais difícil da face da Terra.
Ser mãe é seguir o turno de 24 horas, 7 dias por semana. É estar acordada quando o resto do mundo dorme. É amamentar na madrugada e ver as luzes das janelas se apagando, até que só reste a sua. Ser mãe é cheirar a leite por vários meses - e detestar - E morrer de saudades de dar o peito, quando o filho desmamar. Ser mãe é aprender a trocar fralda no escuro. Com direito a passar creme anti-assaduras, claro.
Ser mãe é preparar a primeira papinha com o maior cuidado do mundo, e levar um cuspe de volta. Ser mãe é comer comida fria, é ser a última a se servir. Ou mesmo deixar de comer, para dar sua parte ao filho que necessite. Ser mãe é querer que o filho se arraste, engatinhe e finalmente consiga andar. E quando ele aprende a correr, sentir saudades do bebezinho que ficava o dia todo em seu colo. Ser mãe é nunca mais olhar para um termômetro que marca 37 graus do mesmo jeito. É passar a noite segurando a mão do pequeno, para se assegurar de que a febre passou. Ser mãe é morrer de vontade de chorar ao ver o filho doente. E segurar a onda e sorrir, para não preocupá-lo. Ser mãe é acordar cansada, depois de uma noite mal dormida. E apesar disso fazer tudo do mesmo jeito: dar banho, comida, brincar, trabalhar, cuidar da casa, e colocar o filho para dormir. Ser mãe é se perguntar quando passará novamente um dia sem ouvir choro.
Ser mãe é querer viajar sozinha, mas abrir mão disso até ter certeza de que seu filho ficará bem sem ela. E quando esse dia chegar, contar os dias para receber o abraço da volta. Ser mãe é exercitar a paciência diariamente. E perdê-la de vez em quando, entre uma crise de birra e outra. Ser mãe é ouvir do filho as mesmas palavras que lhe ensinou. E perceber que não basta falar, é preciso dar exemplo. Ser mãe é sentir culpa por querer voltar ao trabalho. Ou largar tudo para cuidar de um filho, e sentir falta de trabalhar fora. Ser mãe é aprender que, com duas mãos, é possível executar muito mais do que duas tarefas. Atender ao telefone, empurrar o carrinho, abrir a porta, escrever um bilhete, e dar a última colherada do prato são só alguns exemplos das combinações possíveis.

Ah, mas ser mãe também é… Sentir aquela mãozinha tão pequena e tão forte, que segura seu dedo como que querendo dizer: “ei, estou aqui, agora você não está sozinha!”.
É poder afagar por alguns anos os cabelos de um pequeno anjo, enquanto ele está sob suas asas. É acordar pela manhã com um abraço apertado, como se não se vissem há muitos anos! O mesmo vale para a saída da escola.
Ser mãe é mostrar uma flor ao filho, e reparar em sua beleza, como há tempos não fazia. Ser mãe é se emocionar na primeira vez em que vê o filho repartindo o biscoito. Ser mãe é ter direito de chorar na apresentação da escola, do ballet, no campeonato de natação, sem que ninguém a estranhe por isso. Ser mãe é ter a casa cheia de risadas e de gritinhos de felicidade. É lembrar como se brinca de carrinho, de boneca, de esconde-esconde, de pega-pega. Ser mãe é adquirir a coragem de fazer o que seu coração realmente deseja. Porque não há mais espaço para covardias dentro de si. Ser mãe é tentar ser uma pessoa melhor a cada dia. Porque seu filho merece uma mãe que se aprimora com o tempo. Ser mãe é descobrir que o coração é um espaço infinito. E que quanto mais se ama, mais amor cabe ali dentro.

De Repente Pai.Onde histórias criam vida. Descubra agora