De Repente Pai.

Capítulo Vinte e Seis.

NICOLAS.

A vida nem sempre é riscar atividades de uma lista. A rotina existe, nós temos os afazeres a cumprir, sim! Mas estar nesse ciclo permanente e não se dar um mínimo descanso, pode ser exaustivo. A gente vai levando, se dando alguns “refrescos” e acreditando que está tudo bem. Mas não é assim. Nós precisamos dizer, precisamos se conectar verdadeiramente com outras pessoas no mundo real. É por isso que fazemos amigos. E os amigos são um alívio no meio de tanta cobrança (inclusive, interna). São eles que nos ouvem e dizem “Ei, espera aí! Não se cobra tanto! Você tá fazendo o possível, sim!” E a gente se sente até mais leve. Porque sabemos que por mais que gostem de nós, serão honestos a respeito do que partilhamos. Não existe outra forma de amizade se não for baseada em honestidade. Afinal, se a gente quisesse se enganar, viveria de relações superficiais que só têm acesso ao que mostramos. 

As cobranças vão existir sempre, a busca constante pela melhoria de vida, por alcançar objetivos pessoais - muitos deles, materiais. Independentemente do que a gente se dedique, elas sempre virão. A gente se ilude esperando reconhecimento. Mas a verdade é que, cabe a nós reconhecer quando fazemos um bom trabalho, quando nos esforçamos e aquilo nos deixou satisfeitos. Porque independentemente de alguém aprovar, vale o que nós sentimos em relação a isso. Pequeno ou grande, pontual ou frequente, precisamos nos permitir estar satisfeitos com os nossos feitos. E no intervalo entre as pequenas conquistas, nos proporcionar um momento de suspensão. Um momento para apreciar a companhia dos amigos, esquecer as preocupações diárias, gargalhar juntos, se divertir! Todos precisamos dessa harmonia e paz.

— Pensando na vida? — Adrian perguntou quando se sentou ao meu lado no sofá. Tínhamos terminado de gravar algumas cenas juntos minutos antes e agora era o momento da pausa.

— Sim. Acabei de falar com a Mel. Ela está com a Mia e as meninas no shopping. — comentei e ele assentiu. — Elas foram comprar algumas coisas para o bebê.

— Como está se sentindo em relação a isso tudo? — me ofereceu um pouco do seu salgadinho e eu aceitei.

— Feliz, muito feliz. — acabei sorrindo. — Mas também estou com medo, sabe?

— Medo?

— Medo de não dar conta... — suspirei.

— Você ainda tem dúvidas sobre isso? — ele olhou para mim. — Nicolas, eu vi de perto o seu processo e o seu desenvolvimento como o pai da Valentina. Vi o quanto você se esforçou e encarou o seu papel de pai, e eu vi você conseguir superar todas as expectativas. Você conseguiu ir além do que esperava e se tornou um pai maravilhoso para aquela garotinha. Então, se sua preocupação for essa, trate de mandar ela embora, porque eu tenho certeza que você também vai ser um excelente pai para esse novo membro da família.

— Obrigado, cara. — acabei sorrindo.

— Eu estou bastante filósofo hoje, graças ao meu novo personagem. Então, você deu sorte dessa vez. — ele brincou e eu acabei rindo.

— Tem certeza que é apenas por causa do seu personagem? — arqueei minhas sombrancelhas.

— Não posso contar os meus truques, meu caro. — piscou o olho e eu acabei rindo. — A nossa pausa acabou de acabar.

Olhei para o meu relógio e arregalei o olhos. As horas estavam passando rápido hoje.

— Gravamos juntos novamente essa tarde, não é? — se levantamos e então iniciamos o nosso caminho até os estúdios.

— Sim. Ainda temos mais algumas cenas de ação para hoje, está preparado para se exercitar? — zuou.

— Eu sempre estou preparado. — entrei na brincadeira. — Mas e você? Está preparado para apanhar do meu personagem hoje? — ele riu e então entramos na sala que iríamos gravar as nossas cenas.

Era muito bom ter um amigo como ele, éramos como irmãos e a nossa união crescia a cada dia, o que eu achava ótimo.

     [××]

— O que pensa que está fazendo!? — Jonas, um de nossos parceiros de cena perguntou impaciente olhando para o Adrian a sua frente.

— Estou fazendo o que deveria ser feito. — Adrian respondeu simplesmente, fazendo Jonas revirar os olhos.

— Então você está querendo dizer que era preciso apagar a cena que eu acabei de gravar? — Jonas perguntou irritado se aproximando de Adrian com os punhos cerrados.

— Estou querendo dizer que você precisa gravar novamente aquela cena, Jonas. Não saiu como deveria e os produtores também acharam isso, porque eles também concordaram em apagar aquela cena. — Adrian disse impaciente.

— Você sempre quer ser melhor que os outros, não é Adrian!? — Jonas disse furioso se aproximando mais dele.

— Jonas, para com isso, cara! — pedi se aproximando um pouco mais deles.

— Nem vem, Nicolas! Não quero ouvir nenhuma palavra vinda de você. — ele apontou para mim. — Todos sabem que vocês dois vivem grudados, parece até que um não vive sem o outro, e se vocês não fossem casados com suas mulheres, eu até desconfiaria de algo. Mas, pensando bem, tudo pode ser possível, não é mesmo? — ele riu sarcástico e eu arregalei os olhos.

Adrian partiu para cima dele furioso distribuindo socos em seu rosto, e mesmo Jonas tentando se defender ele conseguia acertar boa parte deles, por ter o pegado desprevenido, e por meu amigo ser muito mais forte que ele.
Mesmo quando o Jonas caiu no chão, o Adrian não parou de bater nele, foram socos, chutes e quando pensei que ele iria parar, o mesmo apenas intensificou mais a sua força nos movimentos. Então, o Jonas acabou fazendo um ato totalmente inesperado e acabou ficando por cima do Adrian começando a devolver tudo o que ele tinha feito.

Foi então que eu sai do choque e corri na direção deles e me esforcei para tirar o Jonas de cima do Adrian, ele era consideravelmente forte, mas eu era mais, então levou apenas alguns segundos até eu conseguir tirar ele de cima do Adrian, esse que se levantou com o nariz sangrando. Em comparação, o Jonas estava muito mais machucado do que meu amigo que estava apenas com um corte no nariz, esse que sangrava.

— RETIRE O QUE DISSE, JONAS! — Adrian gritou o pegando pelo pescoco, começando a apertar ele. — RETIRE O QUE DISSE!

— E-Eu... — Jonas não conseguiu terminar a frase e tentou respirar.

— ANDA! — Adrian gritou novamente.

— Adrian... — olhei para ele.

— Não, Nicolas! Esse covarde ofendeu a nós dois e as nossas mulheres. A Mia não merece ser ofendida dessa maneira e muito menos a Mel, ninguém merece. Me ofender é uma coisa, agora ofender a minha família é outra completamente diferente.

Ele não estava errado, então apenas assenti.

— Apenas não o mate.

Depois de muito esforço o Jonas conseguiu sussurrar um "eu retiro tudo o que disse" e o Adrian o soltou no chão, fazendo ele resmungar e gemer de dor. Instantes depois, alguns produtores e seguranças entraram no local. Ambos ficaram assustados com a cena e foi preciso o diretor da série, que estávamos fazendo, aparecer para tentar entender o que estava acontecendo ali ou ao menos tentar resolver o que tinha acabado de acontecer.

Quando explicamos o que houve e que foi o Jonas a provocar tudo aquilo, o diretor o expulsou da série que estávamos atuando e ainda declarou que iria conversar com o dono da emissora para não permitir que ele ponha os pés novamente nos estúdios e consequentemente em outra emissora. Eu achei isso perfeito, afinal ele merecia tudo aquilo. Usar aquelas palavras e fazer aquelas insinuações foi errado, e ele acabou vendo isso da pior maneira. Eu espero que ele tenha aprendido com isso, e se não aprendeu a vida está aí para mostrar e ensinar à ele.

Quando tudo aquilo passou, se despedimos de todos presentes ali, porque já estava de noite e as gravações daquele dia já tinham acabado. Seguimos para a garagem e ao termos se despedido com um abraço de agradecimento e ter feito um toque com as mãos, entramos cada um em seu carro e demos partida para casa. Eu segui para o meu apartamento e o Adrian seguiu para o dele. Afinal, as nossas garotas nos esperavam em casa.