EPÍLOGO

309 42 6
                                    


10 anos depois

Quebrando todas as regras que minha coreografa/mãe me passou eu coloco a cabeça para fora em meio aos panos da coxia e olho para a plateia, abro um sorriso enorme quando vejo meu pai e meus avós sentados na primeira fila. Olho para além e vejo que o local esta lotado, como acontece todas às vezes um frio sobe na minha barriga, mas ao mesmo tempo a empolgação toma cada parte do meu corpo.

- Luane quantas vezes já te falei pra não colocar a cabeça para fora? Alguém pode ver – mamãe reclama

- Eu não consigo resistir, tem tanta gente..

- Tem sim e você precisa terminar sua maquiagem por que vamos começar em cinco minutos.

Corro de volta para o vestiário e me sento na penteadeira para que a maquiadora termine de me preparar, com o canto dos olhos, observo ao redor, varias pessoas correndo tentando fazer tudo ficar perfeito, mas mesmo com toda movimentação é silencioso pois o publico lá fora não pode ouvir ruídos vindos da coxia, minha mãe e a tia Clair andam de um lado para outro verificando se tudo está perfeito, os outros bailarinos estão por toda parte se alongando ou se arrumando, a figurinista, coitada, tenta arrumar os últimos detalhes dos figurino mas todos estão empolgados demais para ficar quietos e vez ou outra alguém reclama por ser espetado por um alfinete, a iluminação e reduzida então tem sempre alguém tropeçando em um dos enormes cabos de som e energia que passam pelo chão o que me faz rir toda vez como se eu tivesse dez anos outra vez.

- Luane fique quieta, para eu passar o delineador – Vivi minha maquiadora e amiga pede.

- eu não consigo amiga, estou empolgada demais.

- Você não se apresenta desde que tinha tipo uns nove anos de idade?

- Sim, mas hoje é especial é como se fosse minha formatura.

- Não me lembra disso, não acredito que você vai embora, minha metadinha vai se mudar pra um oceano de distancia.

- amiga não tem um oceano separando o Brasil dos Estados unidos.

- eu sei nossa, só queria ser dramática- nos duas rimos e eu a encarro através do espelho.

Viviane e eu somos amigas desde o inicio da adolescência, ela chegou no colégio no meio do ano e eu vi o quanto ela estava tímida e solitária então fui falar com ela, depois disso não nos desgrudamos nunca mais, meu pai nos chama de dupla dinâmica. Aprontamos todas durante a adolescência essa é a primeira vez que vamos passar tanto tempo separadas.

- Não chora vivi, se você chora eu choro e esse é um dia feliz - ela se abaixa em pouco e me da um braço e se levanta rápido secando as lagrimas e voltando a me maquiar. Ela é uma verdadeira deusa com os pinceis na mão, ela faz não só maquiagens sociais mas também maquiagens fantasiosas que são uma verdadeira obra de arte. Fecho os olhos para que ela termine e aproveito para me concentrar e me ligar apenas a coreografia que terei que realizar.

Hoje vamos apresentar uma adaptação para o bale da historia Sonho de uma noite de verão do grande Shakespeare, meu papel e de Helena uma das protagonistas e estou muito feliz, pois essa é uma das minhas historias favoritas. Quando minha maquiagem e finalizada olho para o espelho e sorrio com o que vejo mais uma vez a Vivi me deixou perfeita, minha pele brilha de maneira maravilhosa o que me deixa ainda mais confiante. Vou para um cantinho mais sossegado e começo um alongamento para preparar ainda mais o meu corpo para aguentar o espetáculo de uma hora.

Quando termino mamãe avisa que vamos começar e escuto o primeiro apito sonoro eu indica que a plateia deve tomar seus lugares para o inicio do espetáculo e a movimentação na coxia fica ainda mais intensa.

- Eu quero que fiquem nessa área apenas quem vai entrar em cena o resto vão lá para trás. – mamãe fala e vejo as pessoas tomando seus lugares- está pronta querida?

- Já nasci pronta - respondo a ela que me da um abraço rápido.

- Todos vocês bailarinos venham até aqui - ela espera estarmos todos próximos - foi um caminho de longos ensaios que nos trouxeram até esse momento, todos vocês só estão aqui porque são os melhores e estou muito orgulhosa do trabalho que desenvolvemos. Então entrem lá e quebrem a perna. – ela finaliza o discurso com a expressão típica de boa sorte para os artistas.

Quando a minha musica se inicia e tenho a deixa para entrar no palco abro um sorriso radiante e vou pra o lugar onde me sinto em casa para fazer aquilo que nasci pra fazer assim como a minha mãe e a minha avó antes dela.

O palco é minha casa, meu santuário e meu momento de êxtase.

***

- E mais uma vez Luane Meneses mostrou que talento vem de família, a filha da talentosa coreógrafa Denise Meneses foi um balsamo na apresentação do espetáculo sonho de uma noite de verão, realizado pela academia Vive La vie. Luane trouxe para o palco beleza, leveza e talento e podemos afirmar sem duvidas que foi o maior destaque e do espetáculo – meu pai termina de ler a nota que saiu sobre o espetáculo de ontem e abaixa o jornal revelando seu rosto que ostenta um sorriso enorme. – minha menina é a melhor, sou um pai muito orgulhoso.

- Amor você não vai chorar no meio do aeroporto, ou vai?- minha mãe fala e da um selinho nele o que faz meu irmão revirar os olhos.

- chorar eu? Claro que não eu sou um machão. – todo mundo começa a rir porque sabemos que meu pai é o manteiga derretida da família.

- Ultima chamada para o voo com destino à Nova Iorque.

- Bom família chegou a hora - eu falo e minha voz e chorosa no final. Em segundos sou engolida pelo braço de todos eles ao mesmo tempo.

- Se divirta meu amor- mamãe fala enxugado as lágrimas

- Seu apartamento está pronto, tome cuidado, não conte a estranhos que você esta sozinha na cidade, qualquer coisa me liga que eu pego o primeiro avião - meu pai fala, eu iria dividir alojamento com outras mulheres mas meu avô não achou seguro e conseguiu alugar um apartamento para mim com um amigo dele.

- Amiga se divirta e pegue muitos gatinhos por nos duas - vivi diz quando me abraça.

- eu não precisava ouvir essa arte - papai resmunga o que me faz rir em meio as lágrimas

- e agora você pequeno - falo me virando para o um irmão que revira os olhos pois odeia que eu o chame de pequeno - cuida bem dos nossos pais e dos avos enquanto eu estiver fora.

-Vou sentir saudades- ele diz apenas, mas eu o puxo par uma abraço apertado e ele acaba chorando um pouco.

- Bom chega de despedidas família, eu não vou pra sempre em dois anos estou de volta e espero vocês lá o natal.

Viro-me e vou em direção ao local de embarque não olho para trás pois sei que se fizesse isso com certeza não entrarei o avião. Eu amo a minha família meus pais me salvaram de tantos jeitos que nem que eu viva mil anos vou ser capaz de retribuir tudo que eles me deram, Denise e Carlos Eduardo me mostraram o que é família e como e a felicidade. Eu nunca fiquei longe deles antes, mas fui criada para ser uma mulher forte que não tem medo de lutar pelo que quer e eu vou deixá-los orgulhosos.

Vida nova ai vou eu!

Eu só não sabia que o futuro me reservava surpresas e que fora do Brasil, alguém de um passado triste e distante iria bater na minha porta para mudar para sempre a minha vida.

.

.

.

.

 Não esquece de votar

Comente 

Na Ponta Dos Pés Onde histórias criam vida. Descubra agora