A última Duplicata

Capítulo 40 - A vida é curta

Os mortos recebem mais flores do que os vivos porque o remorso é mais forte que a gratidão.

Nessa altura, todos já sabiam, estava com Elijah deitava em meu quarto. Preciso muito de conforto agora, sinto-me fraca e descontente comigo, por ter abandonado eles assim. 

-Sua dor é minha. - Elijah me falava enquanto acariciava meus cabelos.

— Alguma coisa dentro dela morreria para sempre. Alguma coisa preciosa, e doce. Nunca mais eu seria a mesma.

Elijah me deixou um tempo sozinha, mas sempre alerta com medo que eu fizesse alguma coisa.

- Como ela está? - Klaus pergunta para ele que chegara no pátio do quartel.

- Péssima. - Ele não tinha muito oque falar, a ficha ainda não tinha caído.

- Foi ela, tem que ser ela. - Diz Rebekah chateada e brava ao mesmo tempo. - Vamos matar essa vadia.

- Não vamos fazer nada agora, deixaremos ela lidar com sua dor primeiro. - Elijah sempre muito cuidadoso e empático.

- Podemos apagar a memória dela. - Klaus sugere essa ideia, mas foi negada. Elijah jamais deixaria ele fazer isso.

Queria que ele falasse, que me dissesse o que fazer, o que sentir, eu estava me sentindo tão sozinha. Com uma dor incurável. Talvez se eu desligasse minha humanidade, tudo melhoraria.

- Elijah, vamos para Mystic Falls. - Cheguei ao pátio onde todos me olham com cara de luto e piedade. Meus olhos estavam avermelhados de tanto chorar, e pálida sem me alimentar. Me fiz forte, sem deixar aparente que eu estava desmoronando por dentro. Subi novamente para pegar minhas coisas. Iríamos hoje mesmo.

- Oque eu posso dizer pra amenizar a dor dela? - Klaus pergunta ao seu irmão enquanto me vê naquela frieza, sabendo que eu estava acabada. 

- Oque ela precisa ouvir. -  Elijah o responde indo pegar o carro.

Klaus me barra na saída do quartel, me vendo com uma mochila nas costas - Sinto muito - Ele parecia mesmo estar triste. Eu não o respondo, não conseguia dizer nada nesse momento. Ele pega em minha mão pressionando. — Nunca ficarão verdadeiramente juntos, mas o amor deles fazia com que fosse inconcebível — E eu desgrudo de suas mãos, entrando dentro do carro de Elijah.

Dentro do carro, vou observando a paisagem, enquanto Elijah dirigia com semblante sério. Eu acho que, frequentemente, por querer poupar demais as pessoas, só causamos prejuízo. Estava cansada de perguntas que recebia em meu celular. As palavras se decompunham em minha cabeça. Existem respostas que eu não teria forças de escutar, por esse motivo não faço perguntas. No fim, as pessoas simpatizam mais com a desgraça do que com a felicidade.

|Mystic Falls|

Chegamos na cidade e fomos direto para o velório, onde estavam todos que me conheciam desde pequena. A vida é complicada, a morte é mais fácil. Abracei minha mãe que estava acabada, e as pessoas importantes nos abraçavam.

As ondas de dor que me haviam assaltado pouco tempo antes se erguiam agora com força e inundaram minha cabeça, puxando-me para o peito. A vida é igual o pôr-do-sol, quanto mais apreciamos menos aproveitamos. Afinal, de quantas maneiras um coração pode ser despedaçado e ainda continuar batendo?

Cheguei perto de seu caixão para me despedir, e lagrimas caíam de meus olhos. Mas sem fazer escândalo, eu era o tipo de pessoa que sofria em silencio. 

- Durma, meu pai. Tenha sonhos felizes. Você foi o único que tocou meu coração. Sempre te amarei. - Era as palavras que eu dirigi a ele, por mais que fosse tarde demais. Porém, acreditava que seu espirito estava ali, conosco.

Depois daquela sofrida tarde, chegamos em casa com total luto. Onde eu olhava tinha algo dele que me trazia flashbacks.

- Ficará bem? - Elijah me pergunta indo embora de casa. Ele iria ficar na mansão deles. 

- Já estou um pouco melhor. - Respondi pegando em sua mão. Ele era minha fortaleza. Ele me deu um beijo suave em meus lábios, será que um dia meu coração vai parar de tentar sair do meu peito toda vez que ele toca em mim? ...

A dor parecia querer sair do peito pra fora. Existem pessoas que nós amamos a vida inteira, e quando perdemos, não sabemos lidar com a dor.

Lembranças implacáveis. Como conseguira afastá-las, neutralizá-las? Era impossível ficar longe disso. Mesmo se desligasse a humanidade, a dor ainda continuaria lá, para sempre nos lembrarmos de como é sofrer. Essa é a destruição do vampirismo.