Aumento a velocidade da moto a cada esquina.
Eu não posso acreditar que aqueles filhos da puta humilharam Júlia só porque eu bati na dondoquinha daquela vadia ruiva. Eles estão indo longe demais.
Eu devia ter respondido a Júlia, mas nunca imaginaria que isso tinha acontecido. Mesmo que eu não tenha feito nada, foi minha culpa.
Sou uma péssima amiga, sou como uma furação que destrói tudo por onde passa.
Por um momento quase me desequilibro da moto de Samuel, mas logo consigo me manter firme.
As ruas estão vazias, e só percebo que não faço ideia de onde estou quando vejo alguns mendigos na calçada. Há algumas pessoas encostadas nas paredes de tijolos fumando drogas, e outras dormindo sob cobertores e papelões, também há algumas barracas montadas... acelero a moto bem rápido para sair da rua.
Depois de um tempo, paro a moto e coloco o endereço do apartamento de Júlia no GPS. Por sorte, ela teve que morar sozinha depois que uma alta quantia de dinheiro sumiu do cofre de seus pais, e não preciso me preocupar com seus eles já que felizmente deram um apartamento de presente para ela sumir da vida deles e deixá-los recuperar esse dinheiro em paz.
Acelero o máximo que posso e logo chego à calçada do prédio de Júlia. Encosto a moto preta e olho para cima: O prédio é enorme.
Entro empurrando a porta e passo as mãos pelos meus cabelos embaraçados por causa do vento. Olhando no espelho da decoração, posso perceber que minha sombra preta está borrada, como sempre. Minha aparência está típica de um adolescente normal, espero.
Assim que vejo a recepcionista, de cabelos pretos em um balcão de madeira branca, vou até ela.
—Olá, pode me informar onde é o quarto de Júlia Nobre? — Digo limpando o meu nariz que está escorrendo, minha rinite atacou novamente.
— Desculpa, mas não aceitamos usuários de drogas nesse lugar. —A mulher rola os olhos em meu corpo com uma cara de esnobe.
—Eu... eu não sou usuária— Digo, tentando não chingar.
— Tem pó branco em seu nariz, e ele está escorrendo. Provavelmente tenha inalado cocaína. Seu hálito cheira a vodca e tem um baseado no bolso do seu short. — Por um momento penso no motivo dela entender tudo isso. Como ela é boa, basicamente descreveu tudo o que eu usei. Uma parte de mim está com raiva e a outra surpresa por ela adivinhar tudo isso. Será que é tão óbvio assim?
—Bom, minha senhora, a questão é que Júlia é minha amiga e mora nesse prédio, então tenho o direito de entrar. — Bato as mãos no balcão.
— Não vou te impedir de entrar não. Mas você tem que tomar cuidado onde entra, por que dificilmente consegue sair. — Sinto um duplo sentido em sua fala e a observo enquanto ela pega o telefone e disca alguns números.
— Olá Júlia, ainda está acordada?...Pois bem, sua amiga está aqui e quer subir... Tudo bem, boa noite. — Enquanto fala com Júlia, ela mantém os olhos fixados em um vaso de girassóis, que está em baixo do espelho na parede, sobre uma mesa de espelhos.
— Pode subir. — Ela coloca o telefone de volta ao lugar dele.
— É claro que posso. —Resmungo e vou até o elevador.
Uma batida, duas batidas, três batidas. Já estou ficando impaciente de esperar nesse longo corredor de piso de porcelana e parede branca. Por que ela está demorando tanto? Será que ainda vai querer falar comigo? Mas se não quisesse por que me deixou subir? Será que ela vai fazer me esperar como ela esperou por minha resposta? E, interrompendo minhas perguntas, ouço a porta destrancar.
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Eu Não Estou Sóbria
RandomVerônica Vitale presenciou o cruel assassinato de seu avô. Na tentativa de fugir e esquecer o que aconteceu, ela conhece o mundo das drogas e acaba se tornando uma dependente química. Sua vida se torna um verdadeiro inferno e, quando ela se dá con...