Capítulo 19

3 1 0
                                    

Olho ao redor do quarto. Há algumas malas reconhecidas aqui. São as minhas malas, provavelmente minhas roupas, mas mesmo que estejam aqui, tenho de vestir esse conjunto amarelo que Isaac pegou para mim, já que não consigo me levantar.

Há algo de errado em meu tornozelo, acho que devo ter quebrado, percebi isso já que não tenho forças para me levantar da cama. Talvez eu já tenha me machucado, mas aquele tombo no banheiro fez com que de uma vez por todas, que se quebrasse.

De qualquer forma, vou ter que pedir vários exames para Isaac.

Principalmente o exame de HIV. Eu sei que é vergonhoso pedir isso, ou que talvez eu não consiga nem pedir, mas eu preciso saber e tirar esse peso que está em mim. Sabe lá o que aconteceu comigo quando eu estava na rua, há muitas coisas que eu não me lembro e por isso pode ter acontecido muito além daquilo que eu me recordo. E inclui tudo, mas principalmente a prostituição já que talvez não tenha sido somente um homem.

Eu não consigo nem imaginar, isso é horrível. Quando eu penso nisso eu consigo sentir os toques em meu corpo, eu sei que fiz isso porque precisava, mas precisava de algo que iria acabar comigo e não de algo necessário, e isso é uma burrice.

Me dou conta que acabei de me trocar e então me preparo para falar com Isaac.

— Pode entrar, Isaac. — Digo, ainda sentada na cama.

Observo a porta se abrir e Isaac aparecer com uma camiseta diferente, dessa vez ela é branca.

— Você quer conversar? — Ele pergunta, sentando ao meu lado na cama.

Isaac é muito bonito.

— Eu acho que sim. — Olho para ele e me pergunto porque ele me trata assim, eu fui muito rude com ele naquele dia do ônibus, nem ao menos agradeci pelo dinheiro que ele me deu.

— Vamos conversar depois de você passar na psicóloga. — Ele se levanta da cama.

Psicóloga? Aí, merda. Passei todo esse tempo fugindo disso para agora eu ter que ir. Pelo menos aqui não tenho como fugir, então meio que não tenho desculpas. Eu só não sei se isso é bom ou ruim.

— Eu não consigo andar. — Olho para as minhas pernas. — Está doendo, devo ter quebrado.— Explico e o observo enquanto ele se agacha em minha frente e coloca as mãos nos meus dois tornozelos.

O que ele está fazendo? É o que me pergunto até que o vejo apertando-os. Porra! Está doendo para caralho.

— Qual deles? — Ele novamente olha para mim.

— A direita, mas você não precisava apertar. — Forço a voz aguentando a dor.

— Des-desculpa. — Ele fica sem graça e passa as mãos pelos cabelos castanhos. Caramba, ele é muito fácil de decifrar. Na última hora que estive com ele, já sei o que ele faz quando está nervoso, com vergonha e sem graça, e para falar a verdade, suas expressões faciais o entregam. Não acho que isso seja uma vantagem para ele. — O médico vai chegar daqui algumas horas, então precisamos que você vá ao psicólogo pois ela já está esperando. — Diz ele, sem jeito por não me dar escolhas.

Concordo e no mesmo momento uma mulher entra na sala, ela está vestindo branco.

— Olá, Verônica! Está pronta? — Sua voz é aguda, porém não chega a ser irritante. Olho para Isaac, que está de pé. Quando vejo o símbolo estampado em sua roupa, percebo que ela é a psicóloga. Fico em silêncio

— Laura, você pode atender ela aqui mesmo? O tornozelo dela está machucado e ela não consegue andar. — Isaac diz por mim. A tal Laura compreende, e os dois vão para fora do meu quarto, e param na porta.

Eu Não Estou SóbriaOnde histórias criam vida. Descubra agora