Acordo e sento-me na cama da UTI.
Olho para a bancada ao lado de minha cama. Há algumas flores.
Os tubos de sangue da minha virilha já foram retirados e alguns pontos foram dados ao corte. Como eu vim parar aqui.
— Oi! — O médico aparece, com um semblante de surpresa em seu rosto.
— O que estou fazendo aqui? — Tento abrir os olhos normalmente.
— Temos muito o que conversar, mas primeiro preciso saber alguns detalhes sobre você.
Ele me pergunta alguns detalhes pessoais, como nome, idade, nomes dos pais e diversos acontecimentos, além de testar a minha visão.
Respondo tudo e o médico julga que já estou ciente para saber o que houve.
Ele me conta que tive uma overdose de cocaína, o que me causou uma lesão anóxica no meu cérebro. Nas primeiras vinte e quatro horas passei por uma diálise para desintoxicar o meu sangue. Foi um bom sinal eu ter acordado, mas devido a lesão no cérebro fiquei em um leve estado vegetativo onde conseguia me mexer, acordar, dormir e até falar, porém com a consciência afetada e delírios.
Ouço tudo, extremamente em choque ao notar que estive de frente com a morte.
— Há quanto tempo estou aqui? — Pergunto com a voz baixa.
— Já se passaram algumas semanas...
Algumas semanas é muito tempo.
Muita coisa pode ter acontecido durante esse tempo, entre as revelações que tive antes de... quase morrer e agora. Há muitas coisas que quero saber no momento. Como o que houve com Júlia e Vinícius, se a polícia encontrou Samuel ou até mesmo se a pessoa que vi no jantar de Isaac era mesmo aquela mulher.
Diante de tudo o que passei as lembranças estão cada vez mais embaraçosas e difíceis de saber se foi realidade ou apenas uma ilusão.
— Tive alguma visita?
— Sim, a maioria foi enquanto estava inconsciente, em apenas uma você estava acordada, mas teve delírios, acredito que não vá se lembrar.
— Que tipo de delírio?
— Você frequentemente citava uma tal mulher de cabelos vermelhos, até mandou seu amigo embora... acho que é Isaac o nome dele. — Engulo seco. —Ele deixou as flores. — O médico aponta para as flores coloridas ao meu lado.
— Como me encontraram?
— Em sua casa. Haviam várias garrafas de bebidas alcoólicas, e muita cocaína sobre a mesa da sala, Isaac te encontrou já inconsciente e ligou para emergência rapidamente. Enfim, você não precisa saber de mais detalhes. Tem que descansar e se recuperar o mais rápido possível para voltar a sua vida normal. Você será internada novamente em uma reabilitação e ficará lá até toda a situação se resolver. Cuidado ao se levantar e ao andar, ficou muito tempo deitada é capaz de sofrer uma queda de pressão e fraqueza. — Ele sai pela porta.
Observo o presente deixado por Isaac e noto que é o mesmo que ele me entregou na reabilitação e que eu não abri. Uma pontada de curiosidade me deixa desinquieta sobre o que há de tão importante nesse presente.
Lentamente tento me levantar, mas meu corpo esquenta e minha visão logo fica preta, me fazendo cair sobre o chão.
Ouço passos em minha direção e sinto-me carregada até a cama novamente.
— Controle a sua respiração. — Uma voz feminina fala em meus ouvidos e faço o que ela manda.
Conforme vou respirando fundo, a minha visão fica mais clara até a recuperar por completo.
— Vou trazer algo para você comer. — Apenas concordo com a cabeça.
Minutos depois ela aparecer com algumas frutas, gelatina e suco.
— Coma o tanto que aguentar, mas se esforce para isso. — Ela diz enquanto se vira e pega o controle da tv, entregando-o sobre meu colo. — Assista algo, vai te entreter.
Ligo a tv, o horário não é dos melhores já que apenas está passando os noticiários da região, por isso deixo em qualquer canal e começo a comer uma uva da salada de frutas
'' A polícia continua sua investigação sobre o fornecedor do pacote de cocaína que foi responsável pela overdose de uma jovem, neta do falecido senhor Vitale. As suspeitas ainda associam Samuel Dias, fugitivo e cumplice do assassinato de Vitale, a overdose da jovem. Essa relação causa espanto nas pessoas pela a aproximação do culpado com a neta da vítima. Alguns até acreditam que a overdose possa ter sido uma forma de matar indiretamente a vítima, causando dúvidas se o colar de rubi era realmente o motivo principal da morte de Vitale.
Há algumas semanas, tiroteios próximos ao galpão da antiga metalúrgica da cidade causaram agitação na população que mora na região. Uma pessoa foi ferida e se encontra em estado grave.
A polícia além de investigar sobre a vida do jovem, também investiga sobre as digitais do pacote de cocaína.
O assassinato de senhor Vitale, mesmo depois de muito, ainda tem muitas pontas sem nó, diante que a principal responsável por matar com suas próprias mãos ainda continua solta.
Quando tivermos mais informações, iremos atualizá-los.''
Então quer dizer que Samuel não foi encontrado ainda... Por mais que parte de mim fique brava com isso, a outra se sente aliviada. Eu não sei o que sentir sobre Samuel eu quero que pague por seus erros, mas não quero que sofra. Eu tenho ódio dele, mas na mesma medida tenho amor e confiança.
Eu estou perdida... só que não vou deixar isso ser minha culpa e responsabilidade também. Ele errou e tem que pagar por isso.
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Eu Não Estou Sóbria
RandomVerônica Vitale presenciou o cruel assassinato de seu avô. Na tentativa de fugir e esquecer o que aconteceu, ela conhece o mundo das drogas e acaba se tornando uma dependente química. Sua vida se torna um verdadeiro inferno e, quando ela se dá con...