Capítulo 10

12 1 0
                                    

— Deixem-no em paz! Vovô! — Grito o mais alto possível, mas dessa vez os caras maus não fogem.

Tudo está escuro, e há apenas uma luz destacando o corpo de meu avô.

A mulher de cabelos vermelhos não está roubando nada, ela apenas está parada, me olhando fixamente através dessa parede invisível que me impede de passar, um olhar tenebroso e sem sentimentos sendo acompanhado por um sorriso horripilante.

Tento fechar os meus olhos, mas não consigo. Não consigo deixar de ver aquela cena de novo, de novo, e de novo, sendo cada vez pior.

Meu avô, espancado, fraco e mutilado, abre os olhos diretamente em minha direção, os olhos que um dia foram brilhantes e radiantes, estão uma completa escuridão, totalmente pretos.

Meu choro é inevitável, e quando respiro fundo, o corpo de meu avô aparece em minha frente e envolve suas mãos em meu pescoço, me enforcando, com toda a força e sem nenhum receio.

A mulher de cabelos vermelhos está atrás dele, com a mesma face que estava desde o começo, só que agora seu sorriso está mais largo do que antes.

Fico sem ar e tento me soltar, mas as mãos de meu avô mais parecem duas prensas sobre o meu pescoço.

— Eu também te amo, vovô. — Digo, com a voz já fraca, e ele aperta mais e mais. Essa talvez seja a vingança por eu tê-lo decepcionado.

Estou em meus últimos suspiros e meu rosto se molha com tanta lágrima saindo de meus olhos. Eu estou completamente triste, à beira da morte.   

—Moça— Ouço alguém distante me chamar e tudo de repente some.

Quando acordo assustada e quase pulo da poltrona, vejo que estou no hospital de novo, e um velhinho chinês com qual me chamou também está assustado.

Tento voltar para a realidade, olhando ao redor e percebendo que as pessoas do corredor de espera estão me olhando. Quando passo as mãos no rosto, sinto ele molhado. Deve ser por isso que não param de me encarar.

— Está tudo bem. — Digo, em um tom sério, já que o velho não sai da minha frente.

— Você estava chorando e se esperneando na cadeira, achei melhor te acordar. — Ele diz, e volta a sentar-se colocando sua bengala apoiada na cadeira.

— Hum... Obrigado? — Levanto uma de minhas sobrancelhas, ele parece estar muito curioso, e isso não me agrada.

Acredito que fui muito fria, pois todos desviaram os olhos de mim. É melhor assim.

Esses sonhos estão me atormentando, sempre que durmo, sempre que faço algo ruim, eles aparecem, vingando-se por aquilo que fiz. Durante os dias em que fiquei sozinha em casa, apenas tive esses sonhos nas vezes em que me embebedei e usei drogas, mas eu achei que tudo aquilo era o efeito de ambas. Agora está ficando pior, pois mesmo que não tenha usado nada, isso está acontecendo, e parece que ainda estou presa naquele inferno de cozinha. Algo está errado.

Bem, considerando que tudo está errado, isso entra para a lista.

— Desculpe-me pela curiosidade...— O velho começou de novo. — O seu avô está bem? — Ele diz preocupado, e eu direciono o olhar para ele. Foco nos seus olhos, radiante e afetuoso, parecidos com os do meu avô.

— Não te interessa, senhor. — Reviro os olhos. — Não te devo satisfações só porque você me acordou da porra de um pesadelo. — Quando percebo bem o seu rosto, vejo que sua aparência mudou. Que estranho, ele era um chinês e agora... seus olhos não são mais puxados. A cor dos seus olhos castanho claro parece mais com a do meu... Esquece. Estou ficando maluca. Olho para o outro lado tentando tirar isso da minha cabeça.

Eu Não Estou SóbriaOnde histórias criam vida. Descubra agora