Quando Lucas chegou de manhã, ele se assustou ao me ver sentada no meio da sua cama como um zumbi. Ele apenas perguntou se eu estava bem, pegou suas trocas de roupas e sumiu para o banheiro.
Eu definitivamente não fechei os meus olhos hoje; a descoberta de ontem me causou insônia e uma crise absurda que mal pude considerar dormir. As únicas coisas que se passaram nas últimas horas por minha cabeça foram sobre as frases ditas por Isaac de que poderia ter um futuro diferente e perceber que isso não vai ser possível.
Carregar pelo resto da vida o fardo de tudo o que aconteceu na vida recentemente é uma culpa que irei carregar como correntes por todas as partes do meu corpo me faz cada vez mais querer desistir de tudo.
Quando estava na reabilitação, tudo parecia às mil maravilhas e certamente era. Lá o único foco é se tratar e ter expectativas para um futuro melhor, mas aqui fora voltando para a realidade percebemos que tudo aquilo é fictício.
Meus problemas não foram resolvidos e além disso novos apareceram, ainda mais piores com o fato de que perdi minha virgindade tendo relações sexuais com pessoas dais quais mal conheço e mal lembro além de acabar pegando AIDS, uma doença que levarei comigo pelo resto de minha vida.
Isso será mesmo diferente? Ou sempre voltarei ao passado pelas consequências das quais eu escolhi ter, pensando que provavelmente não viverei um romance, nunca terei aquele frio na barriga e nunca mais fantasiarei como é ter a primeira vez com alguém que amo. Que viverei minha vida toda com traumas de um simples toque físico, ou que nunca mais terei relações com alguém para não transmitir a doença... pior ainda, eu nunca terei uma família, sem filhos sem marido sem nada. Essas perspectivas de que terei um futuro melhor são somente uma ilusão comparada ao que realmente está acontecendo em minha vida, cheguei ao fundo do poço e a ficha caiu junto.
Não faz sentido viver sabendo que será solitária para o resto da vida, sabendo que nunca serei nada.
Alguém bate na porta e eu ainda me encontro do mesmo jeito que Lucas me viu hoje pela manhã
— Verônica? — A voz de Isaac atravessa pela porta fechada. Pela primeira vez há anos volto a me mexer e olho para a porta.
— Oi. — Respondo.
— Você está bem? Vamos almoçar. — Vejo sua sombra por de baixo da porta. Ele está bem próximo, provavelmente com o rosto encostado.
— Sim. Vou me trocar e já desço. — Afirmo observo sua sombra sumir da porta.
Crio forças para me levantar da cama e arrumá-la, depois, escolho uma troca de roupas e corro para o banheiro sem que ninguém me veja. Lucas já não está mais aqui.
— Nossos pais foram ao mercado para comprar a coisas para hoje à noite. — Isaac diz colocando as panelas de comida sobre a mesa da cozinha para nos servirmos. Lucas está aqui, sentado na mesa ao meu lado ela não tira os olhos de mim, posso ver porque consigo perceber pelo canto do olho enquanto observo as comidas na mesa. — Não conseguimos reservas para a noite de hoje no restaurante então teremos que fazer o jantar novamente em casa. — Ele fala sozinho já que Lucas e eu não demonstramos nenhuma reação com suas palavras.
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Eu Não Estou Sóbria
RandomVerônica Vitale presenciou o cruel assassinato de seu avô. Na tentativa de fugir e esquecer o que aconteceu, ela conhece o mundo das drogas e acaba se tornando uma dependente química. Sua vida se torna um verdadeiro inferno e, quando ela se dá con...