Capítulo 12

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Fios pretos voam de acordo com o vento, escondendo o rosto de Jane.

Jane... Jane. A garota que me contou sobre o que aconteceu com Júlia. É ela mesma.

— Não acredita nessa aí não, ela não vende droga alguma. — Jane aponta para a mulher a minha frente, que revira os olhos esverdeados e sai da minha frente. Quase fui roubada, e olha que eu acabei de chegar. — Está afim de drogas? — Ela diz perante ao meu silêncio. Aceno com a cabeça e ela sorri, me chamando com a mão para segui-la. — Não tem mais o Samuel para te dar drogas, não é? — Ela fica ao meu lado enquanto desviamos das pessoas na calçada até entrar em um beco ali no meio, onde há mais pessoas do que lá fora.

— É. — Digo, apenas. Observo algumas viaturas da polícia que estão ali.

— Bom, aqui você pode conseguir o que quer. — Ela aponta com o queixo para uma barraca com uma luz acesa.

— Não tenho dinheiro. — Respiro fundo, impaciente. Não adiantou nada ela me mostrar onde é. Isso só rendeu alguns olhares e assovios de alguns usuários por onde passamos.

— Deu para perceber quando você quase deu seu celular para aquela prostituta. — Ela abre um meio sorriso. Seus lábios carnudos e seus olhos pretos destacam a pele branca.

— Ela é prostituta mesmo? — Pergunto mesmo a reposta sendo obvia, por isso Jane não me responde.

— Vou comprar para você, mas não se acostuma viu. — Ela diz e entra na barraca.

Fico esperando do lado de fora, observando tudo o que acontece aqui.

Fumaça, risadas e choros. É uma mistura de destruição com as consequências que até me questiono o que eu fiz com a minha vida.

Aqui dentro do beco é até pior do que lá fora, na calçada. As pessoas estão tumultuadas, e tudo é muito sujo e precário, até mesmo as pequenas barracas.

— Pronto. — Jane sai na barraca, interrompendo minha observação. — Não se assuste, a vida é esse mesmo. Uma completa merda. — Jane enfatiza a última parte e me entrega alguns saquinhos de cocaína, guardando outros no bolso de seu short desfiado, e passa as mãos em sua blusa de manga longa preta.

— Achei que você ia comprar crack. — Digo observando os saquinhos.

— Que nada, fique longe disso. O Crack vicia mais e acredito que você não queira acabar como eles. — Ela diz pela primeira vez em um tom sério.

— Não mesmo... — Digo com certa incerteza e com uma cara de assustada, então ela volta a sorrir.

— Então vamos sair daqui. — Ela me pega pelos braços e me puxa para fora daquele inferno.

Jane me leva até a esquina, que é um lugar mais calmo, e se senta no chão, batendo a mão ao seu lado para mim sentar também.

Alguns minutos depois de usar a cocaína, eu me sinto mais leve. Já estava com muita vontade e isso passou a cada cheirada.

Jane parece não ter usado, mas mesmo assim está contente.

— Você mora aqui? — Me encosto na parede de cimento.

— Não. Quer dizer, houve alguns dias que eu ficava aqui.

— Aah, por que ficava aqui? — Acho que estou me intrometendo, mas ela não parece se importar em responder.

— Eu frequentava aqui pois minha mãe estava sem emprego, e o filha da puta do meu pai vendeu a nossa casa para comprar outra em uma cidade bem longe daqui. — Ela não parece sentir-se triste, apenas com raiva, e seu olhar está perdido nas luzes da vitrine de uma loja.

Eu Não Estou SóbriaOnde histórias criam vida. Descubra agora