Prólogo

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Madrid, 11 de agosto de 2023.

O barulho do champanhe estourando ecoa pela sala cheia de pessoas, há alguns gritinhos de comemoração e uns tapinhas nas minhas costas. Beatriz puxa um coro de "parabéns para você" em espanhol e todos a seguem enquanto o champanhe passa de mão em mão, reabastecendo as taças.

— Parabéns, meu amor! – Camilla me parabeniza com um breve selinho, e alguém assovia, fazendo os demais rirem. — Faz um pedido. – Ela pede, me puxando até a mesa onde está o bolo com uma vela do estilo fogos de artifício, disparando faíscas para o alto.

— O que mais ele pode querer? – D'Guilhermo, um dos meus amigos de time pergunta. — Esse malparido já tem duas Champions, uma Copa e a Taça de Melhor do Mundo.

— Ora, ele pode pedir para conquistar tudo isso mais uma vez. – Lúcio sugere, e escuto mais uma rodada de risadas.

Olho para o rosto de todos a minha volta, pensando no meu pedido, rostos que conheço a vida toda e outros que conheci nos últimos anos. Realmente, o que mais eu poderia pedir? Eu atingi o topo. Há um pouco mais de cinco anos embarquei para Portugal almejando escrever meu nome na história do futebol, e agora aos vinte e nove anos, sei que consegui.

Camilla me encara com expectativa, esperando que eu faça o pedido, não o de aniversário, mas sim o pedido de casamento que ela espera há tanto tempo, e que não farei nesta noite.

Existe algo que não tenho, e que peço com certa frequência... após todos esses anos já deveria ter desistido, mas é impossível fingir que não sinto falta dela o tempo todo.

Fecho os olhos e sopro a vela enquanto mentalizo: "quero que a Agnes retorne".

Há mais uma salva de palmas coletiva. Camilla me beija outra uma vez e flashes disparam por todos os lados, imortalizando o momento em fotografias, continuo parado atrás do bolo, sendo cumprimentado por amigos e desafetos, como é o caso do meu cunhado, Pietro, que vem em minha direção com a taça erguida.

— Um viva ao maior da Europa. – Saúda ele.

— Do mundo. – O corrijo.

— Que seja. – Ele dá de ombros e sorve todo o conteúdo da taça em um único gole. — Em, maninha. – Ele chama a atenção de Camilla que está cortando uma fatia do bolo. — Quem sabe agora que o senhor melhor do mundo conquistou tudo, ele pare de lhe enrolar e te faça aquele pedido de casamento.

— Para de ser bobo, Pietro. – Ela o adverte, com um tom sério. — Casaremos quando for conveniente, agora pare de beber, ou daqui a pouco estará dando chiliques como no velório do papai.

Ainda bem que o Mauro estava morto para não ver o filho caindo de bêbado no velório dele, e quase derrubando o caixão do suporte na hora das despedidas. Confesso que ri, e a Camilla ficou por uma semana inteira sem falar comigo. Todos sabiam que o Mauro iria morrer, desde que descobrira o câncer há dois anos ele foi se definhando cada vez mais, até finalmente morrer no começo deste ano, eles já deveriam estar preparados.

Recuso o meu pedaço de bolo e me desloco para a varanda buscando por uma brisa, o calor do verão espanhol as vezes consegue ser infernal. Daqui consigo ter uma ampla vista de Madrid, chegando até o brilhante estádio que considero como minha segunda casa há três anos. Foi um caminho complicado, subi cada degrau com muita dificuldade, e agora me encontro no topo.

As vezes sinto falta do Brasil, voltei lá apenas duas vezes após ter me mudado para a Europa, uma após receber notícias do investigador, e outra para ver minha avó Jaci que estava doente. Talvez um dia eu volte, mas ainda não é a hora, quero jogar até os trinta e cinco anos aqui, antes de aposentar as chuteiras.

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