Consigo tomar um banho rápido e me enfiar para dentro de um pijama antes da campainha tocar. Respiro fundo e caminho até a porta, não tem porque ficar nervosa, seremos dois adultos conversando, o mínimo que posso esperar é racionalidade.
Pietro ainda está usando a mesma roupa da festa, apenas com os cabelos levemente úmidos.
— Preciso admitir que você me deixou assustado. – Diz ele, dando uma risadinha nervosa. — Posso entrar?
— Claro. – Respondo ao mesmo tempo em que confirmo com a cabeça.
Me afasto da porta e ele adentra no apartamento, olho para o corredor vazio mais uma vez antes de passar a chave e segui-lo até o sofá.
— A vovozinha lá puxou sua orelha? – Pietro pergunta, se referindo à avó do Daniel.
— Um pouco. – Admito, rindo. — Mas foi um puxão do bem.
— Quer compartilhar? – Ele arqueia a sobrancelha loira para mim, parecendo sinceramente curioso.
— De qualquer forma você irá entender depois que conversarmos. – Dou de ombros. — Antes de tudo queria te pedir uma coisa. – Começo, e dou um meio sorriso, me mostrando amigável.
— O que você quiser.
— Vamos ser maduros e manter a calma, sem tentar ferir um ao outro com palavras.
Sei que de qualquer forma ele pode sair magoado, mas pelo menos não farei isso intencionalmente.
— Acho que não estou gostando tanto assim dessa conversa. – Pietro ri e nega com a cabeça. — Mas tudo bem, prometo escutar, se você também me escutar.
— Por mim tudo bem, é uma conversa, não um monólogo.
Ele assente e me espera, tomo fôlego, reunindo a coragem para dizer tudo o que preciso e estou sentindo nesse momento.
— Vou começar do começo, acho que é melhor assim. – Digo e ele estreita os olhos, se encostando melhor na lateral do sofá. — No começo, quando nos conhecemos, você era um artificio para que eu alcançasse os meus propósitos, e sinto muito em dizer isso... – Suspiro, envergonhada em admitir isso. — Mas te usei para irritar o Daniel e me aproximar dos Albuquerques.
— Sei disso desde quando me contou a verdade sobre a sua identidade, e por mim está tudo bem, se não fosse assim, não teríamos nos aproximado. – Diz ele, amenizando a coisa toda.
Talvez esse seja um defeito do Pietro, sem caridoso demais comigo, não mereço essa benevolência quando sei que aquilo que fiz foi errado.
— O que importa é que eu menti e te usei por um longo tempo, mas então comecei a ver você com outros olhos, porque é impossível não gostar de ti. – Assumo, abrindo um meio sorriso melancólico. — Seus pais te fizeram extremamente doce e carinhoso, e eu não sou imune a isso. Gostei porque fazia tempo que nada conseguia romper a minha bolha, e pela primeira vez em anos senti algo que não fosse raiva e melancolia. Acho que deixei tudo acontecer rápido demais, e por mim estava tudo bem, porque bloqueei uma outra parte de mim, e me deixei levar nisso que tínhamos porque era seguro e bom.
— E quando deixou de ser? – Ele me questiona, já sem o brilho de quando chegou.
— Nunca deixou de ser, Pietro. Já te falei antes e continuo dizendo, sei que seria bom e que uma certa parte de mim adoraria viver isso, porque essa parte é medrosa e tem medo de ser confrontada pela vida. Só que amar deve ser mais do que encontrar conforto em alguém, você merece mais de uma relação e eu também. E te juro que é apenas por esse motivo que não posso ficar com você, e não porque duvido da sua capacidade em ser um excelente companheiro.
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Nunca Mais [COMPLETO]
RomanceCinco anos não bastaram para que Agnes superasse o passado, mesmo conseguindo tudo aquilo que queria, o desejo de vingança contra os Salles permanece vivo em seu peito. Agora, ela tem uma chance de fazê-los pagar por todo mal que lhe causaram, os a...