Capítulo 22: Daniel

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Respirar é um ato natural, fomos programados para isso, mas nesse momento é algo impossível para mim, não consigo simplesmente inflar meus pulmões com ar

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Respirar é um ato natural, fomos programados para isso, mas nesse momento é algo impossível para mim, não consigo simplesmente inflar meus pulmões com ar. Há pontos cinzas demais na minha visão, escuto vozes discutindo ao longe, mas sei que as pessoas estão na minha frente, há poucos passos de mim.

Sei quem eu sou desde o dia do meu nascimento, o mundo inteiro sabe o meu nome, a minha história, o legado que foi construído com o sobrenome Salles. O meu avô Alberto que nunca conquistou o estrelato, mas foi um jogador profissional, depois o meu pai, Zé Salles que brilhou no Brasil e na Itália, e agora eu, o melhor do mundo. Não existe outra possibilidade para mim a não ser o Daniel Salles, pois é isso que sou toda a minha vida, o pódio mais alto de uma linhagem de peso.

Dedos finos e macios tocam a minha mão sendo substituídos por um copo de vidro, meu gesto é mecânico, o levando até os lábios, sem consciência do que estou fazendo. Bebo a água devagar, sem sentir ela descendo pela garganta, mas pelo menos tem o efeito de me despertar do momento de torpor, e o copo despenca da minha mão, se partindo sobre o tapete caro da sala.

— Dani, você está bem? – Bia me pergunta, pressionando dois dedos no meu pulso. — Sua pressão caiu tanto.

A encaro sem saber o que dizer, seus olhos estão rasos d'água, ela parece preocupada. Minha irmã caçula, irmã por inteiro... compartilhando o mesmo sangue e sobrenome, dois Albuquerque's.

— Dani fala comigo. – Ela pede, deixando as lágrimas despencarem. — Eu também não sabia disso, te juro.

— É claro que não sabia, Beatriz. – Minha mãe a interrompe. — Foi uma decisão nossa, quanto menos pessoas soubessem, menor seria o risco de tudo ser descoberto.

— Como... – Começo com a voz arrastada, minha língua ainda parece seca como um bloco de concreto. — Como você teve coragem de fazer isso comigo? Vocês mentiram para mim durante toda a minha vida.

— Não. – Ela nega com a cabeça. — Eu te dei uma ótima vida, acho que devia me agradecer. Você ama ser um Salles, adora o peso que isso tem, a imagem que te deu, de ser o mais bem-sucedido de uma linhagem.

— Ele... meu pai sabia? – Pergunto sem saber como se referir ao homem que sempre chamei de pai, mesmo não merecendo esse título.

— Contei para ele no dia que morreu. – Minha mãe admite. — Toda a verdade.

— Como você pôde fazer isso? – Pergunto, encarando o Lúcio. — Eu morava na mesma casa que você, cresci com um padrasto que na verdade era o meu pai. – Recordo, enojado. — Vocês são doentes.

— Eu quis te contar quando já estava grande o suficiente para guardar o segredo, mas não quis tirar de você o orgulho que tinha por ser o Daniel Salles. – Diz ele, dessa vez mais calmo, parecendo constrangido.

— Não finja que fez isso em meu benefício. – Rio com a sua farsa. — Você sempre me tratou com diferença em relação a Beatriz, deixando claro que eu não pertencia a família, era um anexo, algo que veio com a minha mãe quando vocês se casaram.

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